Os contos populares são tão antigos quanto a própria civilização humana. Uma síntese do falado e do
escrito, uma fusão de diferentes versões para a mesma história. O conto da Cinderela, por exemplo, apareceu
na China antiga e no Egito antigo. Os detalhes da narrativa mudam dependendo das origens culturais de quem
está contando a história. No Egito, o sapatinho da Cinderela é de couro vermelho; já nas Índias Ocidentais é
uma fruta-pão e não uma abóbora que é transformada em carruagem. A história da Cinderela que aparece na
coleção de contos populares alemães de Jacob e Wilhelm Grimm, publicada pela primeira vez em 1812, pode
chocar os familiarizados com a versão de hoje, onde uma empregada doméstica vira princesa.
Nos relatos dos irmãos Grimm, a heroína se chama Aschenputtel, e seus desejos se realizam não pelo
balançar da varinha de uma fada madrinha, mas por uma avelã que cresce no túmulo de sua mãe, que ela rega
com suas lágrimas. Quando o príncipe tenta encontrar o delicado pé que irá caber no único sapatinho (que é
de ouro e não de cristal), as irmãs não só forçam e gritam para que seus pés entrem, mas os desmembram:
uma corta fora o dedão, a outra corta uma parte do calcanhar. E, no final da história, o casamento de Cinderela
com o príncipe inclui dois pássaros brancos, que em vez de cantarem alegremente “Cinderela” a caminho do
“felizes para sempre”, bicam os olhos das irmãs.
Os irmãos Grimm publicaram o que se tornaria uma das coleções mais influentes e famosas do folclore
mundial. Contos Infantis e Domésticos (Kinder und Hausmärchen), mais tarde intitulados Contos de Grimm,
são histórias que definem a infância. Os Grimms, no entanto, haviam montado a coleção como uma antologia
acadêmica para estudiosos da cultura alemã, não como uma coleção de histórias para ninar jovens leitores.
(Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/cultura/2019/10/contos-de-fadas-irmaos-grimm-criancas-cinderela-brancade-neve-folclore-alemanha)