O processo de globalização foi muito mais rápido no
âmbito das finanças e do comércio do que no plano político e
institucional. Mas não há caminho de volta nem para a
globalização nem para as instituições de governança regional e
global. O único caminho possível é avançar no processo de
transformação da ordem mundial e institucionalizá-la. (...)
A ordem global em formação tem algumas vantagens e
muitos riscos, parte deles criada pelo desmoronamento das
instituições multilaterais. A principal vantagem é a integração
pelas comunicações. Hoje, atrocidades como as que
aconteciam sob a censura e o véu da impunidade hegemônica
no século passado se tornam conhecidas, em tempo real, pela
opinião pública mundial. É o primeiro passo para o
estabelecimento de limites e sanções à violação em larga
escala dos direitos da humanidade. Mas aí está Kosovo para
provar que a humanidade ainda é impotente diante desses
eventos. O horror instantâneo, porém, já não nos pode ser
sonegado. Nós nos horrorizamos em tempo real. A rede global
de comunicações dá novos recursos aos movimentos coletivos
de defesa dos direitos e da paz e compromete governantes.
Há falhas, claro. O reconhecimento, tardio, da censura e
da pressão à imprensa nos EUA e na Inglaterra durante o
ataque ao Iraque, por exemplo.
(Adaptado de Sérgio Abranches, Em foco. Veja, 24 de setembro
de 2003)