Questões de Concurso Público NOSSA CAIXA DESENVOLVIMENTO 2011 para Analista de Sistemas
Foram encontradas 60 questões
Li que em Nova York estão usando “dez de setembro”
como adjetivo, significando antigo, ultrapassado. Como em:
“Que penteado mais dez de setembro!”. O 11/9 teria mudado o
mundo tão radicalmente que tudo o que veio antes – culmi-
nando com o day before [dia anterior], o último dia das torres
em pé, a última segunda-feira normal e a véspera mais véspera
da História – virou preâmbulo. Obviamente, nenhuma normali-
dade foi tão afetada quanto o cotidiano de Nova York, que vive
a psicose do que ainda pode acontecer. Os Estados Unidos
descobriram um sentimento inédito de vulnerabilidade e reor-
ganizam suas prioridades para acomodá-las, inclusive sacrifi-
cando alguns direitos de seus cidadãos, sem falar no direito de
cidadãos estrangeiros não serem bombardeados por eles.
Protestos contra a radicalíssima reação americana são vistos
como irrealistas e anacrônicos, decididamente “dez de se-
tembro”.
Mas fatos inaugurais como o 11/9 também permitem às
nações se repensarem no bom sentido, não como submissão à
chantagem terrorista, mas para não perder a oportunidade do
novo começo, um pouco como Deus – o primeiro autocrítico –
fez depois do Dilúvio. Sinais de revisão da política dos Estados
Unidos com relação a Israel e os palestinos são exemplos disto.
E é certo que nenhuma reunião dos países ricos será como era
até 10/9, pelo menos por algum tempo. No caso dos donos do
mundo, não se devem esperar exames de consciência mais
profundos ou atos de contrição mais espetaculares, mas o
instinto de sobrevivência também é um caminho para a virtude.
O horror de 11/9 teve o efeito paradoxalmente contrário de me
fazer acreditar mais na humanidade.
A questão é: o que acabou em 11/9 foi prólogo, exata-
mente, de quê? Seja o que for, será diferente. Inclusive por uma
questão de moda, já que ninguém vai querer ser chamado de
“dez de setembro” na rua.
(Luis Fernando Verissimo, O mundo é bárbaro)