"O amor acaba", disse Paulo Mendes Campos, em sua
crônica mais bonita; só não disse o que fica no lugar. É na esperança,
talvez, de entender essa estranha melancolia, esse vazio
preenchido por boas lembranças e algumas cicatrizes, que a
encontro a cada ano ou dois. Marcamos um almoço num dia de
semana. Falamos do passado, mas não muito. Falamos do presente,
mas não muito. Há uma vontade genuína de se aproximar
e o tácito reconhecimento dessa impossibilidade.
Dois velhos amigos, quando se reveem, voltam no ato
para o território comum de sua amizade. Reconstroem o pátio
da escola, o prédio em que moraram − e o adentram. Para antigos
amantes, no entanto, é impossível restabelecer o elo, o elo
morreu com o amor, era o amor. O que sobra é feito um cômodo
dentro da gente, cheio de objetos valiosos, porém trancado.
Sentimos saudades do que está ali dentro, mas não podemos
nem queremos entrar. Como disse um grego que viveu e amou
há 2.500 anos: não somos mais aquelas pessoas nem é mais o
mesmo aquele rio.
Uma vez vi um filme em que alguém declarava: "Se duas
pessoas que um dia se amaram não puderem ser amigas, então
o mundo é um lugar muito triste". O mundo é um lugar triste,
mas não porque antigos amantes não podem ser amigos: sim
porque o passado não pode ser recuperado.
(Adaptado de: PRATA, Antonio. Folha de S.Paulo,
20/02/2013)