Questões de Concurso Público TRT - 19ª Região (AL) 2014 para Analista Judiciário - Contabilidade

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Q361081 Português
No texto abaixo, Graciliano Ramos narra seu encontro com Nise da Silveira.

     Chamaram-me da porta: uma das mulheres recolhidas à sala 4 desejava falar comigo. Estranhei. Quem seria? E onde ficava a sala 4? Um sujeito conduziu-me ao fim da plataforma, subiu o corrimão e daí, com agilidade forte, galgou uma janela. Esteve alguns minutos conversando, gesticulando, pulou no chão e convidou-me a substituí-lo. Que? Trepar-me àquelas alturas, com tamancos?

     Examinei a distância, receoso, descalcei-me, resolvi tentar a difícil acrobacia. A desconhecida amiga exigia de mim um sacrifício; a perna, estragada na operação, movia-se lenta e perra; se me desequilibrasse, iria esborrachar-me no pavimento inferior. Não houve desastre. Numa passada larga, atingi o vão da janela; agarrei-me aos varões de ferro, olhei o exterior, zonzo, sem perceber direito por que me achava ali. Uma voz chegou-me, fraca, mas no primeiro instante não atinei com a pessoa que falava. Enxerguei o pátio, o vestíbulo, a escada já vista no dia anterior. No patamar, abaixo de meu observatório, uma cortina de lona ocultava a Praça Vermelha. Junto, à direita, além de uma grade larga, distingui afinal uma senhora pálida e magra, de olhos fixos, arregalados. O rosto moço revelava fadiga, aos cabelos negros misturavam-se alguns fios grisalhos.

Referiu-se a Maceió, apresentou-se:

     - Nise da Silveira.

     Noutro lugar o encontro me daria prazer. O que senti foi surpresa, lamentei ver minha conterrânea fora do mundo, longe da profissão, do hospital, dos seus queridos loucos. Sabia-a culta e boa, Rachel de Queiroz me afirmara a grandeza moral daquela pessoinha tímida, sempre a esquivar-se, a reduzir-se, como a escusar-se de tomar espaço. Nunca me havia aparecido criatura mais simpática. O marido, também médico, era meu velho conhecido Mário Magalhães. Pedi notícias dele: estava em liberdade. E calei-me, num vivo constrangimento.

     De pijama, sem sapatos, seguro à verga preta, achei-me ridículo e vazio; certamente causava impressão muito infeliz. Nise, acanhada, tinha um sorriso doce, fitava-me os bugalhos enormes, e isto me agravava a perturbação, magnetizava-me. Balbuciou imprecisões, guardou silêncio, provavelmente se arrependeu de me haver convidado para deixar-me assim confuso.

(RAMOS, Graciliano, Memórias do Cárcere, vol. 1. São Paulo, Record, 1996, p. 340 e 341)

Considere as afirmações abaixo.

I. No trecho Chamaram-me da porta: uma das mulheres recolhidas à sala 4 desejava falar comigo. Estranhei. Quem seria? E onde ficava a sala 4? (1o parágrafo), a pontuação contribui para o clima de perplexidade pretendido pelo narrador.

II. As perguntas Que? Trepar-me àquelas alturas, com tamancos? (1o parágrafo) são retóricas, de maneira que se podem suprimir os pontos de interrogação.

III. No segmento ...olhei o exterior, zonzo, sem perceber direito porque me achava ali (2o parágrafo), a vírgula imediatamente após “exterior” pode ser suprimida, sem prejuízo para o sentido original.

Está correto o que se afirma APENAS em
Alternativas
Q375792 Português
              Errância

              Só porque
               erro
              encontro
              o que não se
              procura

              só porque
               erro
              invento
              o labirinto

               a busca
              a coisa
              a causa da
              ;procura

              só porque
              erro
              acerto: me
              construo

              Margem de
               erro: margem
              de liberdade.

                            (FONTELA, Orides, Poesia Reunida, São Paulo, CosacNaify, 2006, p. 202)


Considere as afirmações abaixo.

I. A terceira estrofe do poema (A busca / a coisa / a causa da / procura) pode ser entendida como uma explicação do que seja o labirinto.
II. Nas duas últimas estrofes, os dois-pontos introduzem não apenas uma explicação, mas também uma consequência do que é dito anteriormente.
III. Em prosa, mantendo-se a correção e o sentido, as duas primeiras estrofes podem ser reescritas do se- guinte modo: “Só porque erro, encontro, o que não se procura só, porque erro invento, o labirinto”.

Está correto o que se afirma APENAS em
Alternativas
Respostas
1: A
2: A