Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.
Que pode dizer um autobiógrafo de um país que foi parte de sua vida e da vida de sua mulher durante meio século? Algumas
das pessoas mais próximas a nós são italianos. A Itália foi boa para nós, dando-nos amizades em belos lugares, a infinita descoberta
de sua capacidade de criação, no passado e no presente, e mais desses raros momentos de pura satisfação de estar vivo do que os
seres humanos podem esperar depois que termina a juventude.
Embora eu acredite que ser historiador ajude a entender um país, devo perguntar-me por que a Itália de 2002 não é aquela
que imaginei cinquenta anos atrás. Até onde terei deixado de perceber para onde se dirigia a Itália porque minha observação era
deficiente e até onde porque as curvas do caminho ainda não eram visíveis? Terá sido a democratização de uma sociedade de
consumo a responsável pelo alargamento do hiato entre a minoria de gente instruída e o restante de um povo que leu menos jornais e
gastou menos dinheiro com livros per capita do que todos os membros da União Europeia, com exceção dos dois mais pobres? A
longo prazo, percebo que desfrutar a Itália acabou sendo mais fácil do que entendê-la.
(Adaptado de: HOBSBAWM, Eric. Tempos interessantes. São Paulo, Cia. Da Letras, 2002, p. 390-392.)