Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
Os intelectuais e a escrita
Poderia uma função social para os intelectuais − quer dizer, poderiam os próprios intelectuais − ter existido antes da invenção
da escrita? Dificilmente. Sempre houve uma função social para xamãs, sacerdotes, magos e outros servos e senhores de ritos, e é de
supor que também para aqueles que hoje chamaríamos de artistas. Mas como existir intelectuais antes da invenção de um sistema de
escrita e de números que precisava ser manipulado, compreendido, interpretado, aprendido e preservado? Entretanto, com o advento
desses modernos instrumentos de comunicação, cálculo e, acima de tudo, memória, as exíguas minorias que dominavam essas
habilidades provavelmente exerceram mais poder social durante uma época do que os intelectuais jamais voltaram a exercer.
Os que dominavam a escrita, como nas primeiras cidades das primeiras economias agrárias da Mesopotâmia, puderam se tornar
o primeiro “clero”, classe de governantes sacerdotais. Até os séculos XIX e XX, o monopólio da capacidade de ler e escrever no
mundo alfabetizado e a instrução necessária para dominá-la também implicavam um monopólio de poder, protegido da competição
pelo conhecimento de línguas escritas especializadas, ritual ou culturalmente prestigiosa.
De outro lado, a pena jamais teve mais poder do que a espada. Os guerreiros sempre conquistaram os escritores, mas sem estes
últimos não poderia ter havido nem Estados, nem grandes economias, nem, menos ainda, os grandes impérios históricos do mundo
antigo.
(Adaptado de: HOBSBAWM, Eric. Tempos fraturados. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 226-227)