Comunicação e informação
Dizer mídia, sem mais nem menos, é uma abstração. O que conta são os jornalistas, as pessoas. E essas são boas ou más,
inteligentes ou estúpidas, honestas ou desonestas, como toda a gente. O pior jornalista é aquele que se comporta como um
camaleão, sempre preparado para mudar de cor conforme o ambiente. A lógica empresarial das tiragens e das audiências convida
inevitavelmente ao sensacionalismo, à manobra rasteira, ao compadrio, aos pactos ocultos. Não há muita política nas colunas dos
jornais, o que há é muitos políticos. Ambições, em vez de ideias. (...)
Quanto às matérias veiculadas, a superabundância de informação pode fazer do cidadão um ser muito mais ignorante. Explico-me: creio que as possibilidades tecnológicas para desenvolver a massificação das informações surgiram rapidamente demais. O
cidadão não dispõe dos elementos e da formação adequados para saber escolher e selecionar, o que o leva a ficar perdido no meio
dessa selva. É justamente nessa defasagem que se produz a instrumentalização em prejuízo do indivíduo e, portanto, a
desinformação.
(Adaptado de: SARAMAGO, José. As palavras de Saramago. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 442-443)