Atenção: Leia os Textos 01 e 02 para responder à questão.
Texto 01
(Disponível em: https://site.sabesp.com.br/site/interna/)
Texto 02
Inquilinos
1. Ninguém é responsável pelo funcionamento do mundo. Nenhum de nós precisa acordar cedo para acender as caldeiras e
checar se a Terra está girando em torno do seu próprio eixo na velocidade apropriada e em torno do Sol, de modo a garantir a correta
sucessão das estações. Como num prédio bem administrado, os serviços básicos do planeta são providenciados sem que se enxergue o síndico − e sem taxa de administração. Imagine se coubesse à humanidade, com sua conhecida tendência ao desleixo e à
improvisação, manter a Terra na sua órbita e nos seus horários, ou se − coroando o mais delirante dos sonhos liberais − sua gerência
fosse entregue a uma empresa privada, com poderes para remanejar os ventos e suprimir correntes marítimas, encurtar ou alongar
dias e noites, e até mudar de galáxia, conforme as conveniências de mercado, e ainda por cima sujeita a decisões catastróficas,
fraudes e falência.
2. É verdade que, mesmo sob o atual regime impessoal, o mundo apresenta falhas na distribuição dos seus benefícios, favorecendo alguns andares do prédio metafórico e martirizando outros, tudo devido ao que só pode ser chamado de incompetência
administrativa. Mas a responsabilidade não é nossa. A infraestrutura já estava pronta quando nós chegamos. Apesar de tentativas
como a construção de grandes obras que afetam o clima e redistribuem as águas, há pouco que podemos fazer para alterar as regras
do seu funcionamento.
3. Podemos, isto sim, é colaborar na manutenção da Terra. Todos os argumentos conservacionistas e ambientalistas teriam mais
força se conseguissem nos convencer de que somos inquilinos no mundo. E que temos as mesmas obrigações de qualquer inquilino,
inclusive a de prestar contas por cada arranhão no fim do contrato. A escatologia cristã deveria substituir o Salvador que virá pela
segunda vez para nos julgar por um Proprietário que chegará para retomar seu imóvel. E o Juízo Final, por um cuidadoso inventário
em que todos os estragos que fizemos no mundo seriam contabilizados e cobrados.
4. − Cadê a floresta que estava aqui? − perguntaria o Proprietário. − Valia uma fortuna.
5. E:
6. − Este rio não está como eu deixei…
7. E, depois de uma contagem minuciosa:
8. − Estão faltando cento e dezessete espécies.
9. A Humanidade poderia tentar negociar. Apontar as benfeitorias − monumentos, parques, áreas férteis onde outrora existiam
desertos − para compensar a devastação. O Proprietário não se impressionaria.
10. − Para que eu quero o Taj Mahal? Sete Quedas era muito mais bonita.
11. − E a Catedral de Chartres? Fomos nós que construímos. Aumentou o valor do terreno em…
12. − Fiquem com todas as suas catedrais, represas, cidades e shoppings, quero o mundo como eu o entreguei.
13. Não precisamos de uma mentalidade ecológica. Precisamos de uma mentalidade de locatários. E do terror da indenização.
(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. O mundo é bárbaro e o que nós temos a ver com isso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010, p. 19-22)
(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. O mundo é bárbaro e o que nós temos a ver com isso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010, p. 19-22)