[…] Florestan, tendo inspirado a juventude que fundou o Movimento Negro Unificado, no final dos anos 1970, [percebeu] que a
democracia racial brasileira, mais que um ideal normativo […], tinha se transformado em mito. Mito não no sentido de falsidade,
como alguns pensam, mas no sentido de uma ideologia dominante, de uma percepção de classe que pensa o seu ideal de
conduta como verdade efetiva. O mito consistiria em tomar o que eram desigualdades raciais – próprias da ordem racial
escravocrata – como desigualdades de classes da ordem competitiva – próprias do capitalismo industrial. A burguesia e a classe
média brasileiras projetavam tal ideal de comportamento de classe de modo a encobrir o seu racismo.
(Adaptado de: GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Prefácio. In: FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de
classes: o legado da “raça branca”. v. 1. 5.ed. São Paulo: Editora Globo, 2008, p. 12-13)