Questões de Concurso Público IF Sudeste - MG 2016 para Assistente de Aluno

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Q712239 Português

Texto 1

                            A arte de envelhecer

                                                                                               Dráuzio Varella

[1º§]Achei que estava bem na foto. Magro, olhar vivo, rindo com os amigos na praia. Quase não havia cabelos brancos entre os poucos que sobreviviam. Comparada ao homem de hoje, era a fotografia de um jovem. Tinha 50 anos naquela época, entretanto, idade em que me considerava bem distante da juventude. Se me for dado o privilégio de chegar aos 90 em pleno domínio da razão, é possível que uma imagem de agora me cause impressão semelhante.

[2º§]O envelhecimento é sombra que nos acompanha desde a concepção: o feto de seis meses é muito mais velho do que o embrião de cinco dias. Lidar com a inexorabilidade desse processo exige uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação. Não há animal capaz de criar soluções diante da adversidade como nós, de sobreviver em nichos ecológicos que vão do calor tropical às geleiras do Ártico.

[3º§]Da mesma forma como ensaiamos os primeiros passos por imitação, temos de aprender a ser adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais velhos. A adolescência é um fenômeno moderno. Nossos ancestrais passavam da infância à vida adulta sem estágios intermediários. Nas comunidades agrárias, o menino de sete anos trabalhava na roça e as meninas cuidavam dos afazeres domésticos antes de chegar a essa idade.

[4º§]A figura do adolescente que mora com os pais até os 30 anos, sem abrir mão do direito de reclamar da comida à mesa e da camisa mal passada, surgiu nas sociedades industrializadas depois da Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos avós tinham filhos para criar.

[5º§]A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é um mito das sociedades ocidentais. Confinar aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltar a estética, os costumes e os padrões de comportamento característicos dessa faixa etária tem o efeito perverso de insinuar que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.

[6º§]A ideia de envelhecer aflige mulheres e homens modernos, muito mais do que afligia nossos antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, Cícero foi assassinado aos 63, Matusalém sabe-se lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos gregos, romanos ou judeus viviam em média 30 anos. No início do século 20, a expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida não passava dos 40 anos.

[7º§]A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de peste negra, varíola, malária, febre amarela, gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Nossos ancestrais viveram num mundo devastado por guerras, enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a onipresença da mais temível das criaturas. Que sentido haveria em pensar na velhice quando a probabilidade de morrer jovem era tão alta? Seria como hoje preocupar-nos com a vida aos cem anos de idade, que pouquíssimos conhecerão.

[8º§]Os que estão vivos agora têm boa chance de passar dos 80. Se assim for, é preciso sabedoria para aceitar que nossos atributos se modificam com o passar dos anos. Que nenhuma cirurgia devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18, mas que envelhecer não é sinônimo de decadência física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia, exercitam a cognição e continuam atentos às transformações do mundo.

[9º§]Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar a juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos 15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época. Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem "cabeça de jovem". É considerá-lo mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez.

[10º§]Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das ambiguidades, das diferenças, do contraditório e abre espaço para uma diversidade de experiências com as quais nem sonhávamos anteriormente.

                  Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 23/01/2016. Texto adaptado.

O primeiro parágrafo tem a finalidade de
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Q712241 Português

Texto 1

                            A arte de envelhecer

                                                                                               Dráuzio Varella

[1º§]Achei que estava bem na foto. Magro, olhar vivo, rindo com os amigos na praia. Quase não havia cabelos brancos entre os poucos que sobreviviam. Comparada ao homem de hoje, era a fotografia de um jovem. Tinha 50 anos naquela época, entretanto, idade em que me considerava bem distante da juventude. Se me for dado o privilégio de chegar aos 90 em pleno domínio da razão, é possível que uma imagem de agora me cause impressão semelhante.

[2º§]O envelhecimento é sombra que nos acompanha desde a concepção: o feto de seis meses é muito mais velho do que o embrião de cinco dias. Lidar com a inexorabilidade desse processo exige uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação. Não há animal capaz de criar soluções diante da adversidade como nós, de sobreviver em nichos ecológicos que vão do calor tropical às geleiras do Ártico.

[3º§]Da mesma forma como ensaiamos os primeiros passos por imitação, temos de aprender a ser adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais velhos. A adolescência é um fenômeno moderno. Nossos ancestrais passavam da infância à vida adulta sem estágios intermediários. Nas comunidades agrárias, o menino de sete anos trabalhava na roça e as meninas cuidavam dos afazeres domésticos antes de chegar a essa idade.

[4º§]A figura do adolescente que mora com os pais até os 30 anos, sem abrir mão do direito de reclamar da comida à mesa e da camisa mal passada, surgiu nas sociedades industrializadas depois da Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos avós tinham filhos para criar.

[5º§]A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é um mito das sociedades ocidentais. Confinar aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltar a estética, os costumes e os padrões de comportamento característicos dessa faixa etária tem o efeito perverso de insinuar que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.

[6º§]A ideia de envelhecer aflige mulheres e homens modernos, muito mais do que afligia nossos antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, Cícero foi assassinado aos 63, Matusalém sabe-se lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos gregos, romanos ou judeus viviam em média 30 anos. No início do século 20, a expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida não passava dos 40 anos.

[7º§]A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de peste negra, varíola, malária, febre amarela, gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Nossos ancestrais viveram num mundo devastado por guerras, enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a onipresença da mais temível das criaturas. Que sentido haveria em pensar na velhice quando a probabilidade de morrer jovem era tão alta? Seria como hoje preocupar-nos com a vida aos cem anos de idade, que pouquíssimos conhecerão.

[8º§]Os que estão vivos agora têm boa chance de passar dos 80. Se assim for, é preciso sabedoria para aceitar que nossos atributos se modificam com o passar dos anos. Que nenhuma cirurgia devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18, mas que envelhecer não é sinônimo de decadência física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia, exercitam a cognição e continuam atentos às transformações do mundo.

[9º§]Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar a juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos 15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época. Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem "cabeça de jovem". É considerá-lo mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez.

[10º§]Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das ambiguidades, das diferenças, do contraditório e abre espaço para uma diversidade de experiências com as quais nem sonhávamos anteriormente.

                  Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 23/01/2016. Texto adaptado.

Na relação entre as ideias desenvolvidas entre o 6º e o 7º parágrafos, depreende-se que
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Q712242 Português

Texto 1

                            A arte de envelhecer

                                                                                               Dráuzio Varella

[1º§]Achei que estava bem na foto. Magro, olhar vivo, rindo com os amigos na praia. Quase não havia cabelos brancos entre os poucos que sobreviviam. Comparada ao homem de hoje, era a fotografia de um jovem. Tinha 50 anos naquela época, entretanto, idade em que me considerava bem distante da juventude. Se me for dado o privilégio de chegar aos 90 em pleno domínio da razão, é possível que uma imagem de agora me cause impressão semelhante.

[2º§]O envelhecimento é sombra que nos acompanha desde a concepção: o feto de seis meses é muito mais velho do que o embrião de cinco dias. Lidar com a inexorabilidade desse processo exige uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação. Não há animal capaz de criar soluções diante da adversidade como nós, de sobreviver em nichos ecológicos que vão do calor tropical às geleiras do Ártico.

[3º§]Da mesma forma como ensaiamos os primeiros passos por imitação, temos de aprender a ser adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais velhos. A adolescência é um fenômeno moderno. Nossos ancestrais passavam da infância à vida adulta sem estágios intermediários. Nas comunidades agrárias, o menino de sete anos trabalhava na roça e as meninas cuidavam dos afazeres domésticos antes de chegar a essa idade.

[4º§]A figura do adolescente que mora com os pais até os 30 anos, sem abrir mão do direito de reclamar da comida à mesa e da camisa mal passada, surgiu nas sociedades industrializadas depois da Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos avós tinham filhos para criar.

[5º§]A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é um mito das sociedades ocidentais. Confinar aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltar a estética, os costumes e os padrões de comportamento característicos dessa faixa etária tem o efeito perverso de insinuar que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.

[6º§]A ideia de envelhecer aflige mulheres e homens modernos, muito mais do que afligia nossos antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, Cícero foi assassinado aos 63, Matusalém sabe-se lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos gregos, romanos ou judeus viviam em média 30 anos. No início do século 20, a expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida não passava dos 40 anos.

[7º§]A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de peste negra, varíola, malária, febre amarela, gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Nossos ancestrais viveram num mundo devastado por guerras, enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a onipresença da mais temível das criaturas. Que sentido haveria em pensar na velhice quando a probabilidade de morrer jovem era tão alta? Seria como hoje preocupar-nos com a vida aos cem anos de idade, que pouquíssimos conhecerão.

[8º§]Os que estão vivos agora têm boa chance de passar dos 80. Se assim for, é preciso sabedoria para aceitar que nossos atributos se modificam com o passar dos anos. Que nenhuma cirurgia devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18, mas que envelhecer não é sinônimo de decadência física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia, exercitam a cognição e continuam atentos às transformações do mundo.

[9º§]Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar a juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos 15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época. Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem "cabeça de jovem". É considerá-lo mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez.

[10º§]Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das ambiguidades, das diferenças, do contraditório e abre espaço para uma diversidade de experiências com as quais nem sonhávamos anteriormente.

                  Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 23/01/2016. Texto adaptado.

Releia este trecho:

Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar a juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos 15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época. Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem "cabeça de jovem". É considerá-lo mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez.

A noção de juventude proposta nesse trecho corresponde a uma fase de

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Q712243 Português

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                            A arte de envelhecer

                                                                                               Dráuzio Varella

[1º§]Achei que estava bem na foto. Magro, olhar vivo, rindo com os amigos na praia. Quase não havia cabelos brancos entre os poucos que sobreviviam. Comparada ao homem de hoje, era a fotografia de um jovem. Tinha 50 anos naquela época, entretanto, idade em que me considerava bem distante da juventude. Se me for dado o privilégio de chegar aos 90 em pleno domínio da razão, é possível que uma imagem de agora me cause impressão semelhante.

[2º§]O envelhecimento é sombra que nos acompanha desde a concepção: o feto de seis meses é muito mais velho do que o embrião de cinco dias. Lidar com a inexorabilidade desse processo exige uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação. Não há animal capaz de criar soluções diante da adversidade como nós, de sobreviver em nichos ecológicos que vão do calor tropical às geleiras do Ártico.

[3º§]Da mesma forma como ensaiamos os primeiros passos por imitação, temos de aprender a ser adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais velhos. A adolescência é um fenômeno moderno. Nossos ancestrais passavam da infância à vida adulta sem estágios intermediários. Nas comunidades agrárias, o menino de sete anos trabalhava na roça e as meninas cuidavam dos afazeres domésticos antes de chegar a essa idade.

[4º§]A figura do adolescente que mora com os pais até os 30 anos, sem abrir mão do direito de reclamar da comida à mesa e da camisa mal passada, surgiu nas sociedades industrializadas depois da Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos avós tinham filhos para criar.

[5º§]A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é um mito das sociedades ocidentais. Confinar aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltar a estética, os costumes e os padrões de comportamento característicos dessa faixa etária tem o efeito perverso de insinuar que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.

[6º§]A ideia de envelhecer aflige mulheres e homens modernos, muito mais do que afligia nossos antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, Cícero foi assassinado aos 63, Matusalém sabe-se lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos gregos, romanos ou judeus viviam em média 30 anos. No início do século 20, a expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida não passava dos 40 anos.

[7º§]A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de peste negra, varíola, malária, febre amarela, gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Nossos ancestrais viveram num mundo devastado por guerras, enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a onipresença da mais temível das criaturas. Que sentido haveria em pensar na velhice quando a probabilidade de morrer jovem era tão alta? Seria como hoje preocupar-nos com a vida aos cem anos de idade, que pouquíssimos conhecerão.

[8º§]Os que estão vivos agora têm boa chance de passar dos 80. Se assim for, é preciso sabedoria para aceitar que nossos atributos se modificam com o passar dos anos. Que nenhuma cirurgia devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18, mas que envelhecer não é sinônimo de decadência física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia, exercitam a cognição e continuam atentos às transformações do mundo.

[9º§]Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar a juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos 15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época. Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem "cabeça de jovem". É considerá-lo mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez.

[10º§]Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das ambiguidades, das diferenças, do contraditório e abre espaço para uma diversidade de experiências com as quais nem sonhávamos anteriormente.

                  Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 23/01/2016. Texto adaptado.

No trecho: “Lidar com a inexorabilidade desse processo exige uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação.”, a palavra grifada pode ser substituída, sem perdas semânticas, por
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Q712244 Português

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                            A arte de envelhecer

                                                                                               Dráuzio Varella

[1º§]Achei que estava bem na foto. Magro, olhar vivo, rindo com os amigos na praia. Quase não havia cabelos brancos entre os poucos que sobreviviam. Comparada ao homem de hoje, era a fotografia de um jovem. Tinha 50 anos naquela época, entretanto, idade em que me considerava bem distante da juventude. Se me for dado o privilégio de chegar aos 90 em pleno domínio da razão, é possível que uma imagem de agora me cause impressão semelhante.

[2º§]O envelhecimento é sombra que nos acompanha desde a concepção: o feto de seis meses é muito mais velho do que o embrião de cinco dias. Lidar com a inexorabilidade desse processo exige uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação. Não há animal capaz de criar soluções diante da adversidade como nós, de sobreviver em nichos ecológicos que vão do calor tropical às geleiras do Ártico.

[3º§]Da mesma forma como ensaiamos os primeiros passos por imitação, temos de aprender a ser adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais velhos. A adolescência é um fenômeno moderno. Nossos ancestrais passavam da infância à vida adulta sem estágios intermediários. Nas comunidades agrárias, o menino de sete anos trabalhava na roça e as meninas cuidavam dos afazeres domésticos antes de chegar a essa idade.

[4º§]A figura do adolescente que mora com os pais até os 30 anos, sem abrir mão do direito de reclamar da comida à mesa e da camisa mal passada, surgiu nas sociedades industrializadas depois da Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos avós tinham filhos para criar.

[5º§]A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é um mito das sociedades ocidentais. Confinar aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltar a estética, os costumes e os padrões de comportamento característicos dessa faixa etária tem o efeito perverso de insinuar que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.

[6º§]A ideia de envelhecer aflige mulheres e homens modernos, muito mais do que afligia nossos antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, Cícero foi assassinado aos 63, Matusalém sabe-se lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos gregos, romanos ou judeus viviam em média 30 anos. No início do século 20, a expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida não passava dos 40 anos.

[7º§]A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de peste negra, varíola, malária, febre amarela, gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Nossos ancestrais viveram num mundo devastado por guerras, enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a onipresença da mais temível das criaturas. Que sentido haveria em pensar na velhice quando a probabilidade de morrer jovem era tão alta? Seria como hoje preocupar-nos com a vida aos cem anos de idade, que pouquíssimos conhecerão.

[8º§]Os que estão vivos agora têm boa chance de passar dos 80. Se assim for, é preciso sabedoria para aceitar que nossos atributos se modificam com o passar dos anos. Que nenhuma cirurgia devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18, mas que envelhecer não é sinônimo de decadência física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia, exercitam a cognição e continuam atentos às transformações do mundo.

[9º§]Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar a juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos 15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época. Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem "cabeça de jovem". É considerá-lo mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez.

[10º§]Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das ambiguidades, das diferenças, do contraditório e abre espaço para uma diversidade de experiências com as quais nem sonhávamos anteriormente.

                  Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 23/01/2016. Texto adaptado.

De acordo com o ponto de vista de Dráuzio Varella, no texto 1, a velhice é entendida como um
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                            A arte de envelhecer

                                                                                               Dráuzio Varella

[1º§]Achei que estava bem na foto. Magro, olhar vivo, rindo com os amigos na praia. Quase não havia cabelos brancos entre os poucos que sobreviviam. Comparada ao homem de hoje, era a fotografia de um jovem. Tinha 50 anos naquela época, entretanto, idade em que me considerava bem distante da juventude. Se me for dado o privilégio de chegar aos 90 em pleno domínio da razão, é possível que uma imagem de agora me cause impressão semelhante.

[2º§]O envelhecimento é sombra que nos acompanha desde a concepção: o feto de seis meses é muito mais velho do que o embrião de cinco dias. Lidar com a inexorabilidade desse processo exige uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação. Não há animal capaz de criar soluções diante da adversidade como nós, de sobreviver em nichos ecológicos que vão do calor tropical às geleiras do Ártico.

[3º§]Da mesma forma como ensaiamos os primeiros passos por imitação, temos de aprender a ser adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais velhos. A adolescência é um fenômeno moderno. Nossos ancestrais passavam da infância à vida adulta sem estágios intermediários. Nas comunidades agrárias, o menino de sete anos trabalhava na roça e as meninas cuidavam dos afazeres domésticos antes de chegar a essa idade.

[4º§]A figura do adolescente que mora com os pais até os 30 anos, sem abrir mão do direito de reclamar da comida à mesa e da camisa mal passada, surgiu nas sociedades industrializadas depois da Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos avós tinham filhos para criar.

[5º§]A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é um mito das sociedades ocidentais. Confinar aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltar a estética, os costumes e os padrões de comportamento característicos dessa faixa etária tem o efeito perverso de insinuar que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.

[6º§]A ideia de envelhecer aflige mulheres e homens modernos, muito mais do que afligia nossos antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, Cícero foi assassinado aos 63, Matusalém sabe-se lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos gregos, romanos ou judeus viviam em média 30 anos. No início do século 20, a expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida não passava dos 40 anos.

[7º§]A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de peste negra, varíola, malária, febre amarela, gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Nossos ancestrais viveram num mundo devastado por guerras, enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a onipresença da mais temível das criaturas. Que sentido haveria em pensar na velhice quando a probabilidade de morrer jovem era tão alta? Seria como hoje preocupar-nos com a vida aos cem anos de idade, que pouquíssimos conhecerão.

[8º§]Os que estão vivos agora têm boa chance de passar dos 80. Se assim for, é preciso sabedoria para aceitar que nossos atributos se modificam com o passar dos anos. Que nenhuma cirurgia devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18, mas que envelhecer não é sinônimo de decadência física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia, exercitam a cognição e continuam atentos às transformações do mundo.

[9º§]Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar a juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos 15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época. Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem "cabeça de jovem". É considerá-lo mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez.

[10º§]Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das ambiguidades, das diferenças, do contraditório e abre espaço para uma diversidade de experiências com as quais nem sonhávamos anteriormente.

                  Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 23/01/2016. Texto adaptado.

Houve emprego de sujeito desinencial em:
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                            A arte de envelhecer

                                                                                               Dráuzio Varella

[1º§]Achei que estava bem na foto. Magro, olhar vivo, rindo com os amigos na praia. Quase não havia cabelos brancos entre os poucos que sobreviviam. Comparada ao homem de hoje, era a fotografia de um jovem. Tinha 50 anos naquela época, entretanto, idade em que me considerava bem distante da juventude. Se me for dado o privilégio de chegar aos 90 em pleno domínio da razão, é possível que uma imagem de agora me cause impressão semelhante.

[2º§]O envelhecimento é sombra que nos acompanha desde a concepção: o feto de seis meses é muito mais velho do que o embrião de cinco dias. Lidar com a inexorabilidade desse processo exige uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação. Não há animal capaz de criar soluções diante da adversidade como nós, de sobreviver em nichos ecológicos que vão do calor tropical às geleiras do Ártico.

[3º§]Da mesma forma como ensaiamos os primeiros passos por imitação, temos de aprender a ser adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais velhos. A adolescência é um fenômeno moderno. Nossos ancestrais passavam da infância à vida adulta sem estágios intermediários. Nas comunidades agrárias, o menino de sete anos trabalhava na roça e as meninas cuidavam dos afazeres domésticos antes de chegar a essa idade.

[4º§]A figura do adolescente que mora com os pais até os 30 anos, sem abrir mão do direito de reclamar da comida à mesa e da camisa mal passada, surgiu nas sociedades industrializadas depois da Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos avós tinham filhos para criar.

[5º§]A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é um mito das sociedades ocidentais. Confinar aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltar a estética, os costumes e os padrões de comportamento característicos dessa faixa etária tem o efeito perverso de insinuar que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.

[6º§]A ideia de envelhecer aflige mulheres e homens modernos, muito mais do que afligia nossos antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, Cícero foi assassinado aos 63, Matusalém sabe-se lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos gregos, romanos ou judeus viviam em média 30 anos. No início do século 20, a expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida não passava dos 40 anos.

[7º§]A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de peste negra, varíola, malária, febre amarela, gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Nossos ancestrais viveram num mundo devastado por guerras, enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a onipresença da mais temível das criaturas. Que sentido haveria em pensar na velhice quando a probabilidade de morrer jovem era tão alta? Seria como hoje preocupar-nos com a vida aos cem anos de idade, que pouquíssimos conhecerão.

[8º§]Os que estão vivos agora têm boa chance de passar dos 80. Se assim for, é preciso sabedoria para aceitar que nossos atributos se modificam com o passar dos anos. Que nenhuma cirurgia devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18, mas que envelhecer não é sinônimo de decadência física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia, exercitam a cognição e continuam atentos às transformações do mundo.

[9º§]Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar a juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos 15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época. Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem "cabeça de jovem". É considerá-lo mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez.

[10º§]Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das ambiguidades, das diferenças, do contraditório e abre espaço para uma diversidade de experiências com as quais nem sonhávamos anteriormente.

                  Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 23/01/2016. Texto adaptado.

De acordo com Cunha e Cintra (2013: p.101), “os vocábulos formados pela agregação simultânea de prefixo e sufixo a determinado radical chamam-se PARASSINTÉTICOS (...)”. Esse conceito se aplica à formação do vocábulo
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Q712247 Português

Texto 1

                            A arte de envelhecer

                                                                                               Dráuzio Varella

[1º§]Achei que estava bem na foto. Magro, olhar vivo, rindo com os amigos na praia. Quase não havia cabelos brancos entre os poucos que sobreviviam. Comparada ao homem de hoje, era a fotografia de um jovem. Tinha 50 anos naquela época, entretanto, idade em que me considerava bem distante da juventude. Se me for dado o privilégio de chegar aos 90 em pleno domínio da razão, é possível que uma imagem de agora me cause impressão semelhante.

[2º§]O envelhecimento é sombra que nos acompanha desde a concepção: o feto de seis meses é muito mais velho do que o embrião de cinco dias. Lidar com a inexorabilidade desse processo exige uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação. Não há animal capaz de criar soluções diante da adversidade como nós, de sobreviver em nichos ecológicos que vão do calor tropical às geleiras do Ártico.

[3º§]Da mesma forma como ensaiamos os primeiros passos por imitação, temos de aprender a ser adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais velhos. A adolescência é um fenômeno moderno. Nossos ancestrais passavam da infância à vida adulta sem estágios intermediários. Nas comunidades agrárias, o menino de sete anos trabalhava na roça e as meninas cuidavam dos afazeres domésticos antes de chegar a essa idade.

[4º§]A figura do adolescente que mora com os pais até os 30 anos, sem abrir mão do direito de reclamar da comida à mesa e da camisa mal passada, surgiu nas sociedades industrializadas depois da Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos avós tinham filhos para criar.

[5º§]A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é um mito das sociedades ocidentais. Confinar aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltar a estética, os costumes e os padrões de comportamento característicos dessa faixa etária tem o efeito perverso de insinuar que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.

[6º§]A ideia de envelhecer aflige mulheres e homens modernos, muito mais do que afligia nossos antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, Cícero foi assassinado aos 63, Matusalém sabe-se lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos gregos, romanos ou judeus viviam em média 30 anos. No início do século 20, a expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida não passava dos 40 anos.

[7º§]A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de peste negra, varíola, malária, febre amarela, gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Nossos ancestrais viveram num mundo devastado por guerras, enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a onipresença da mais temível das criaturas. Que sentido haveria em pensar na velhice quando a probabilidade de morrer jovem era tão alta? Seria como hoje preocupar-nos com a vida aos cem anos de idade, que pouquíssimos conhecerão.

[8º§]Os que estão vivos agora têm boa chance de passar dos 80. Se assim for, é preciso sabedoria para aceitar que nossos atributos se modificam com o passar dos anos. Que nenhuma cirurgia devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18, mas que envelhecer não é sinônimo de decadência física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia, exercitam a cognição e continuam atentos às transformações do mundo.

[9º§]Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar a juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos 15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época. Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem "cabeça de jovem". É considerá-lo mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez.

[10º§]Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das ambiguidades, das diferenças, do contraditório e abre espaço para uma diversidade de experiências com as quais nem sonhávamos anteriormente.

                  Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 23/01/2016. Texto adaptado.

A palavra ‘que’, grifada nas sentenças a seguir, foi utilizada para retomar um termo/uma ideia antecedente em:
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Q712248 Português

Texto 1

                            A arte de envelhecer

                                                                                               Dráuzio Varella

[1º§]Achei que estava bem na foto. Magro, olhar vivo, rindo com os amigos na praia. Quase não havia cabelos brancos entre os poucos que sobreviviam. Comparada ao homem de hoje, era a fotografia de um jovem. Tinha 50 anos naquela época, entretanto, idade em que me considerava bem distante da juventude. Se me for dado o privilégio de chegar aos 90 em pleno domínio da razão, é possível que uma imagem de agora me cause impressão semelhante.

[2º§]O envelhecimento é sombra que nos acompanha desde a concepção: o feto de seis meses é muito mais velho do que o embrião de cinco dias. Lidar com a inexorabilidade desse processo exige uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação. Não há animal capaz de criar soluções diante da adversidade como nós, de sobreviver em nichos ecológicos que vão do calor tropical às geleiras do Ártico.

[3º§]Da mesma forma como ensaiamos os primeiros passos por imitação, temos de aprender a ser adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais velhos. A adolescência é um fenômeno moderno. Nossos ancestrais passavam da infância à vida adulta sem estágios intermediários. Nas comunidades agrárias, o menino de sete anos trabalhava na roça e as meninas cuidavam dos afazeres domésticos antes de chegar a essa idade.

[4º§]A figura do adolescente que mora com os pais até os 30 anos, sem abrir mão do direito de reclamar da comida à mesa e da camisa mal passada, surgiu nas sociedades industrializadas depois da Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos avós tinham filhos para criar.

[5º§]A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é um mito das sociedades ocidentais. Confinar aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltar a estética, os costumes e os padrões de comportamento característicos dessa faixa etária tem o efeito perverso de insinuar que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.

[6º§]A ideia de envelhecer aflige mulheres e homens modernos, muito mais do que afligia nossos antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, Cícero foi assassinado aos 63, Matusalém sabe-se lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos gregos, romanos ou judeus viviam em média 30 anos. No início do século 20, a expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida não passava dos 40 anos.

[7º§]A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de peste negra, varíola, malária, febre amarela, gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Nossos ancestrais viveram num mundo devastado por guerras, enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a onipresença da mais temível das criaturas. Que sentido haveria em pensar na velhice quando a probabilidade de morrer jovem era tão alta? Seria como hoje preocupar-nos com a vida aos cem anos de idade, que pouquíssimos conhecerão.

[8º§]Os que estão vivos agora têm boa chance de passar dos 80. Se assim for, é preciso sabedoria para aceitar que nossos atributos se modificam com o passar dos anos. Que nenhuma cirurgia devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18, mas que envelhecer não é sinônimo de decadência física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia, exercitam a cognição e continuam atentos às transformações do mundo.

[9º§]Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar a juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos 15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época. Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem "cabeça de jovem". É considerá-lo mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez.

[10º§]Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das ambiguidades, das diferenças, do contraditório e abre espaço para uma diversidade de experiências com as quais nem sonhávamos anteriormente.

                  Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 23/01/2016. Texto adaptado.


          

A visão crítica sobre envelhecer, presente nessa charge,
Alternativas
Q712249 Português

Texto 3

                         Ciência e o sentido da vida

                                                                                                             Marcelo Gleiser

    [1º§]Outro dia, estava dando uma palestra, quando alguém me fez "aquela" pergunta: professor, por que o senhor é cientista? Respondi que não podia ser outra coisa, que considerava um privilégio poder dedicar minha vida ao ensino e à pesquisa. Mas o que de fato está por trás dessa profissão, ao menos para mim, é uma oportunidade única para criarmos algo de novo, algo que nos diferencie do resto.

    [2º§]A ciência oferece uma oportunidade para que possamos nos engajar com o "mistério", como Einstein chamava nossa atração pelo desconhecido: "A emoção mais significativa que podemos sentir é o mistério. Ela é o berço da verdadeira arte e da ciência. Quem não a conhece e não é mais capaz de se maravilhar, está mais morto do que vivo, como uma vela que se apagou".

      [3º§]Einstein pôs as artes e as ciências sobre o mesmo patamar, frutos que são da criatividade humana. Para ele, nossas criações são produto desse questionamento incessante sobre quem somos e sobre o mundo à nossa volta.

      [4º§]A ciência abre portas para o desconhecido, para o que nos foge aos sentidos. Aquilo que não vemos ou ouvimos é tão real quanto o que percebemos. Usamos instrumentos variados para amplificar nossa percepção da realidade, mesmo sabendo que nossa visão será sempre limitada: qualquer microscópio, telescópio ou detector tem alcance e precisão determinados pelo estado da tecnologia.

      [5º§]É claro que um telescópio do século 19 não pode competir com os telescópios mais avançados de hoje. Com isso, o que captamos da realidade depende de forma essencial daquilo que nossos instrumentos nos permitem ver. Esse fato tem uma consequência importante: o que captamos do mundo depende das tecnologias que usamos. Ou seja, com o avanço delas, muda, muitas vezes, nossa visão de mundo.

      [6º§]Um exemplo que já usei aqui é o microscópio. A visão da vida antes e depois da invenção do microscópio mudou completamente. O instrumento, inventado ao fim do século 17, permitiu que víssemos criaturas invisíveis aos olhos. Com isso, novas perguntas sobre a natureza da vida puderam ser feitas – perguntas que, antes da invenção do microscópio, não eram nem vislumbradas.

      [7º§]Esta é uma lição importante, que elaboro no livro "Ilha do Conhecimento": o conhecimento não evolui linearmente; cresce de forma imprevisível, interagindo com as tecnologias que temos ao nosso dispor. Portanto, o mistério que nos cerca, e que tanto fascinava Einstein, estará sempre à nossa volta: não há como decifrá-lo por completo. Isso dá uma conotação única à ciência. Sendo um caminho para o conhecimento, ela nos oferece uma oportunidade de estar sempre buscando, e crescendo com a busca.

      [8º§]O sentido da vida é dar sentido à vida. Não existe, ou deve existir, um fim. Pense num alpinista. Ele se prepara para subir o pico que vê à sua frente e, depois de muito esforço, consegue. De lá de cima, pode fazer duas coisas: se dar por satisfeito e descer, ou olhar em torno e ver todos os picos que ainda não escalou.

      [9º§]A busca pelo conhecimento científico é assim: uma escalada por todos os picos que podemos encontrar. E quando conquistarmos todos eles, basta olhar para cima, e continuar nossa busca no espaço.

                                     Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 12/10/2014. Texto adaptado.

De acordo com o texto 3, a ciência
Alternativas
Q712250 Português

Texto 3

                         Ciência e o sentido da vida

                                                                                                             Marcelo Gleiser

    [1º§]Outro dia, estava dando uma palestra, quando alguém me fez "aquela" pergunta: professor, por que o senhor é cientista? Respondi que não podia ser outra coisa, que considerava um privilégio poder dedicar minha vida ao ensino e à pesquisa. Mas o que de fato está por trás dessa profissão, ao menos para mim, é uma oportunidade única para criarmos algo de novo, algo que nos diferencie do resto.

    [2º§]A ciência oferece uma oportunidade para que possamos nos engajar com o "mistério", como Einstein chamava nossa atração pelo desconhecido: "A emoção mais significativa que podemos sentir é o mistério. Ela é o berço da verdadeira arte e da ciência. Quem não a conhece e não é mais capaz de se maravilhar, está mais morto do que vivo, como uma vela que se apagou".

      [3º§]Einstein pôs as artes e as ciências sobre o mesmo patamar, frutos que são da criatividade humana. Para ele, nossas criações são produto desse questionamento incessante sobre quem somos e sobre o mundo à nossa volta.

      [4º§]A ciência abre portas para o desconhecido, para o que nos foge aos sentidos. Aquilo que não vemos ou ouvimos é tão real quanto o que percebemos. Usamos instrumentos variados para amplificar nossa percepção da realidade, mesmo sabendo que nossa visão será sempre limitada: qualquer microscópio, telescópio ou detector tem alcance e precisão determinados pelo estado da tecnologia.

      [5º§]É claro que um telescópio do século 19 não pode competir com os telescópios mais avançados de hoje. Com isso, o que captamos da realidade depende de forma essencial daquilo que nossos instrumentos nos permitem ver. Esse fato tem uma consequência importante: o que captamos do mundo depende das tecnologias que usamos. Ou seja, com o avanço delas, muda, muitas vezes, nossa visão de mundo.

      [6º§]Um exemplo que já usei aqui é o microscópio. A visão da vida antes e depois da invenção do microscópio mudou completamente. O instrumento, inventado ao fim do século 17, permitiu que víssemos criaturas invisíveis aos olhos. Com isso, novas perguntas sobre a natureza da vida puderam ser feitas – perguntas que, antes da invenção do microscópio, não eram nem vislumbradas.

      [7º§]Esta é uma lição importante, que elaboro no livro "Ilha do Conhecimento": o conhecimento não evolui linearmente; cresce de forma imprevisível, interagindo com as tecnologias que temos ao nosso dispor. Portanto, o mistério que nos cerca, e que tanto fascinava Einstein, estará sempre à nossa volta: não há como decifrá-lo por completo. Isso dá uma conotação única à ciência. Sendo um caminho para o conhecimento, ela nos oferece uma oportunidade de estar sempre buscando, e crescendo com a busca.

      [8º§]O sentido da vida é dar sentido à vida. Não existe, ou deve existir, um fim. Pense num alpinista. Ele se prepara para subir o pico que vê à sua frente e, depois de muito esforço, consegue. De lá de cima, pode fazer duas coisas: se dar por satisfeito e descer, ou olhar em torno e ver todos os picos que ainda não escalou.

      [9º§]A busca pelo conhecimento científico é assim: uma escalada por todos os picos que podemos encontrar. E quando conquistarmos todos eles, basta olhar para cima, e continuar nossa busca no espaço.

                                     Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 12/10/2014. Texto adaptado.

A partir da leitura do 4º, do 5º e do 6º parágrafos, o desenvolvimento tecnológico só NÃO possibilita aos cientistas
Alternativas
Q712251 Português

Texto 3

                         Ciência e o sentido da vida

                                                                                                             Marcelo Gleiser

    [1º§]Outro dia, estava dando uma palestra, quando alguém me fez "aquela" pergunta: professor, por que o senhor é cientista? Respondi que não podia ser outra coisa, que considerava um privilégio poder dedicar minha vida ao ensino e à pesquisa. Mas o que de fato está por trás dessa profissão, ao menos para mim, é uma oportunidade única para criarmos algo de novo, algo que nos diferencie do resto.

    [2º§]A ciência oferece uma oportunidade para que possamos nos engajar com o "mistério", como Einstein chamava nossa atração pelo desconhecido: "A emoção mais significativa que podemos sentir é o mistério. Ela é o berço da verdadeira arte e da ciência. Quem não a conhece e não é mais capaz de se maravilhar, está mais morto do que vivo, como uma vela que se apagou".

      [3º§]Einstein pôs as artes e as ciências sobre o mesmo patamar, frutos que são da criatividade humana. Para ele, nossas criações são produto desse questionamento incessante sobre quem somos e sobre o mundo à nossa volta.

      [4º§]A ciência abre portas para o desconhecido, para o que nos foge aos sentidos. Aquilo que não vemos ou ouvimos é tão real quanto o que percebemos. Usamos instrumentos variados para amplificar nossa percepção da realidade, mesmo sabendo que nossa visão será sempre limitada: qualquer microscópio, telescópio ou detector tem alcance e precisão determinados pelo estado da tecnologia.

      [5º§]É claro que um telescópio do século 19 não pode competir com os telescópios mais avançados de hoje. Com isso, o que captamos da realidade depende de forma essencial daquilo que nossos instrumentos nos permitem ver. Esse fato tem uma consequência importante: o que captamos do mundo depende das tecnologias que usamos. Ou seja, com o avanço delas, muda, muitas vezes, nossa visão de mundo.

      [6º§]Um exemplo que já usei aqui é o microscópio. A visão da vida antes e depois da invenção do microscópio mudou completamente. O instrumento, inventado ao fim do século 17, permitiu que víssemos criaturas invisíveis aos olhos. Com isso, novas perguntas sobre a natureza da vida puderam ser feitas – perguntas que, antes da invenção do microscópio, não eram nem vislumbradas.

      [7º§]Esta é uma lição importante, que elaboro no livro "Ilha do Conhecimento": o conhecimento não evolui linearmente; cresce de forma imprevisível, interagindo com as tecnologias que temos ao nosso dispor. Portanto, o mistério que nos cerca, e que tanto fascinava Einstein, estará sempre à nossa volta: não há como decifrá-lo por completo. Isso dá uma conotação única à ciência. Sendo um caminho para o conhecimento, ela nos oferece uma oportunidade de estar sempre buscando, e crescendo com a busca.

      [8º§]O sentido da vida é dar sentido à vida. Não existe, ou deve existir, um fim. Pense num alpinista. Ele se prepara para subir o pico que vê à sua frente e, depois de muito esforço, consegue. De lá de cima, pode fazer duas coisas: se dar por satisfeito e descer, ou olhar em torno e ver todos os picos que ainda não escalou.

      [9º§]A busca pelo conhecimento científico é assim: uma escalada por todos os picos que podemos encontrar. E quando conquistarmos todos eles, basta olhar para cima, e continuar nossa busca no espaço.

                                     Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 12/10/2014. Texto adaptado.

Considere este trecho:

Imagem associada para resolução da questão

A opção em que se encontra a reescrita desse trecho sem rupturas de sentido é

Alternativas
Q712252 Português

Texto 3

                         Ciência e o sentido da vida

                                                                                                             Marcelo Gleiser

    [1º§]Outro dia, estava dando uma palestra, quando alguém me fez "aquela" pergunta: professor, por que o senhor é cientista? Respondi que não podia ser outra coisa, que considerava um privilégio poder dedicar minha vida ao ensino e à pesquisa. Mas o que de fato está por trás dessa profissão, ao menos para mim, é uma oportunidade única para criarmos algo de novo, algo que nos diferencie do resto.

    [2º§]A ciência oferece uma oportunidade para que possamos nos engajar com o "mistério", como Einstein chamava nossa atração pelo desconhecido: "A emoção mais significativa que podemos sentir é o mistério. Ela é o berço da verdadeira arte e da ciência. Quem não a conhece e não é mais capaz de se maravilhar, está mais morto do que vivo, como uma vela que se apagou".

      [3º§]Einstein pôs as artes e as ciências sobre o mesmo patamar, frutos que são da criatividade humana. Para ele, nossas criações são produto desse questionamento incessante sobre quem somos e sobre o mundo à nossa volta.

      [4º§]A ciência abre portas para o desconhecido, para o que nos foge aos sentidos. Aquilo que não vemos ou ouvimos é tão real quanto o que percebemos. Usamos instrumentos variados para amplificar nossa percepção da realidade, mesmo sabendo que nossa visão será sempre limitada: qualquer microscópio, telescópio ou detector tem alcance e precisão determinados pelo estado da tecnologia.

      [5º§]É claro que um telescópio do século 19 não pode competir com os telescópios mais avançados de hoje. Com isso, o que captamos da realidade depende de forma essencial daquilo que nossos instrumentos nos permitem ver. Esse fato tem uma consequência importante: o que captamos do mundo depende das tecnologias que usamos. Ou seja, com o avanço delas, muda, muitas vezes, nossa visão de mundo.

      [6º§]Um exemplo que já usei aqui é o microscópio. A visão da vida antes e depois da invenção do microscópio mudou completamente. O instrumento, inventado ao fim do século 17, permitiu que víssemos criaturas invisíveis aos olhos. Com isso, novas perguntas sobre a natureza da vida puderam ser feitas – perguntas que, antes da invenção do microscópio, não eram nem vislumbradas.

      [7º§]Esta é uma lição importante, que elaboro no livro "Ilha do Conhecimento": o conhecimento não evolui linearmente; cresce de forma imprevisível, interagindo com as tecnologias que temos ao nosso dispor. Portanto, o mistério que nos cerca, e que tanto fascinava Einstein, estará sempre à nossa volta: não há como decifrá-lo por completo. Isso dá uma conotação única à ciência. Sendo um caminho para o conhecimento, ela nos oferece uma oportunidade de estar sempre buscando, e crescendo com a busca.

      [8º§]O sentido da vida é dar sentido à vida. Não existe, ou deve existir, um fim. Pense num alpinista. Ele se prepara para subir o pico que vê à sua frente e, depois de muito esforço, consegue. De lá de cima, pode fazer duas coisas: se dar por satisfeito e descer, ou olhar em torno e ver todos os picos que ainda não escalou.

      [9º§]A busca pelo conhecimento científico é assim: uma escalada por todos os picos que podemos encontrar. E quando conquistarmos todos eles, basta olhar para cima, e continuar nossa busca no espaço.

                                     Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 12/10/2014. Texto adaptado.

NÃO é uma estratégia argumentativa utilizada no texto 3 o uso de
Alternativas
Q712253 Português

Texto 3

                         Ciência e o sentido da vida

                                                                                                             Marcelo Gleiser

    [1º§]Outro dia, estava dando uma palestra, quando alguém me fez "aquela" pergunta: professor, por que o senhor é cientista? Respondi que não podia ser outra coisa, que considerava um privilégio poder dedicar minha vida ao ensino e à pesquisa. Mas o que de fato está por trás dessa profissão, ao menos para mim, é uma oportunidade única para criarmos algo de novo, algo que nos diferencie do resto.

    [2º§]A ciência oferece uma oportunidade para que possamos nos engajar com o "mistério", como Einstein chamava nossa atração pelo desconhecido: "A emoção mais significativa que podemos sentir é o mistério. Ela é o berço da verdadeira arte e da ciência. Quem não a conhece e não é mais capaz de se maravilhar, está mais morto do que vivo, como uma vela que se apagou".

      [3º§]Einstein pôs as artes e as ciências sobre o mesmo patamar, frutos que são da criatividade humana. Para ele, nossas criações são produto desse questionamento incessante sobre quem somos e sobre o mundo à nossa volta.

      [4º§]A ciência abre portas para o desconhecido, para o que nos foge aos sentidos. Aquilo que não vemos ou ouvimos é tão real quanto o que percebemos. Usamos instrumentos variados para amplificar nossa percepção da realidade, mesmo sabendo que nossa visão será sempre limitada: qualquer microscópio, telescópio ou detector tem alcance e precisão determinados pelo estado da tecnologia.

      [5º§]É claro que um telescópio do século 19 não pode competir com os telescópios mais avançados de hoje. Com isso, o que captamos da realidade depende de forma essencial daquilo que nossos instrumentos nos permitem ver. Esse fato tem uma consequência importante: o que captamos do mundo depende das tecnologias que usamos. Ou seja, com o avanço delas, muda, muitas vezes, nossa visão de mundo.

      [6º§]Um exemplo que já usei aqui é o microscópio. A visão da vida antes e depois da invenção do microscópio mudou completamente. O instrumento, inventado ao fim do século 17, permitiu que víssemos criaturas invisíveis aos olhos. Com isso, novas perguntas sobre a natureza da vida puderam ser feitas – perguntas que, antes da invenção do microscópio, não eram nem vislumbradas.

      [7º§]Esta é uma lição importante, que elaboro no livro "Ilha do Conhecimento": o conhecimento não evolui linearmente; cresce de forma imprevisível, interagindo com as tecnologias que temos ao nosso dispor. Portanto, o mistério que nos cerca, e que tanto fascinava Einstein, estará sempre à nossa volta: não há como decifrá-lo por completo. Isso dá uma conotação única à ciência. Sendo um caminho para o conhecimento, ela nos oferece uma oportunidade de estar sempre buscando, e crescendo com a busca.

      [8º§]O sentido da vida é dar sentido à vida. Não existe, ou deve existir, um fim. Pense num alpinista. Ele se prepara para subir o pico que vê à sua frente e, depois de muito esforço, consegue. De lá de cima, pode fazer duas coisas: se dar por satisfeito e descer, ou olhar em torno e ver todos os picos que ainda não escalou.

      [9º§]A busca pelo conhecimento científico é assim: uma escalada por todos os picos que podemos encontrar. E quando conquistarmos todos eles, basta olhar para cima, e continuar nossa busca no espaço.

                                     Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 12/10/2014. Texto adaptado.

Dentre os pronomes grifados nas sentenças a seguir, houve uma ocorrência de O ou A como equivalente a um pronome demonstrativo em:
Alternativas
Q721161 Português
Texto 1
A arte de envelhecer

  1. Dráuzio Varella
[1º§]Achei que estava bem na foto. Magro, olhar vivo, rindo com os amigos na praia. Quase não havia cabelos brancos entre os poucos que sobreviviam. Comparada ao homem de hoje, era a fotografia de um jovem. Tinha 50 anos naquela época, entretanto, idade em que me considerava bem distante da juventude. Se me for dado o privilégio de chegar aos 90 em pleno domínio da razão, é possível que uma imagem de agora me cause impressão semelhante.
[2º§]O envelhecimento é sombra que nos acompanha desde a concepção: o feto de seis meses é muito mais velho do que o embrião de cinco dias. Lidar com a inexorabilidade desse processo exige uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação. Não há animal capaz de criar soluções diante da adversidade como nós, de sobreviver em nichos ecológicos que vão do calor tropical às geleiras do Ártico.
[3º§]Da mesma forma como ensaiamos os primeiros passos por imitação, temos de aprender a ser adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais velhos. A adolescência é um fenômeno moderno. Nossos ancestrais passavam da infância à vida adulta sem estágios intermediários. Nas comunidades agrárias, o menino de sete anos trabalhava na roça e as meninas cuidavam dos afazeres domésticos antes de chegar a essa idade.
[4º§]A figura do adolescente que mora com os pais até os 30 anos, sem abrir mão do direito de reclamar da comida à mesa e da camisa mal passada, surgiu nas sociedades industrializadas depois da Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos avós tinham filhos para criar.
[5º§]A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é um mito das sociedades ocidentais. Confinar aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltar a estética, os costumes e os padrões de comportamento característicos dessa faixa etária tem o efeito perverso de insinuar que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.
[6º§]A ideia de envelhecer aflige mulheres e homens modernos, muito mais do que afligia nossos antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, Cícero foi assassinado aos 63, Matusalém sabe-se lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos gregos, romanos ou judeus viviam em média 30 anos. No início do século 20, a expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida não passava dos 40 anos.
[7º§]A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de peste negra, varíola, malária, febre amarela, gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Nossos ancestrais viveram num mundo devastado por guerras, enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a onipresença da mais temível das criaturas. Que sentido haveria em pensar na velhice quando a probabilidade de morrer jovem era tão alta? Seria como hoje preocupar-nos com a vida aos cem anos de idade, que pouquíssimos conhecerão.
[8º§]Os que estão vivos agora têm boa chance de passar dos 80. Se assim for, é preciso sabedoria para aceitar que nossos atributos se modificam com o passar dos anos. Que nenhuma cirurgia devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18, mas que envelhecer não é sinônimo de decadência física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia, exercitam a cognição e continuam atentos às transformações do mundo.
[9º§]Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar a juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram aqueles dos 15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de suprimir por conta própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento inseguranças, medos, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época. Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem "cabeça de jovem". É considerá-lo mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de dez.
[10º§]Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das ambiguidades, das diferenças, do contraditório e abre espaço para uma diversidade de experiências com as quais nem sonhávamos anteriormente.

Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 23/01/2016. Texto adaptado
A tese do texto 1 está reproduzida no trecho:
Alternativas
Respostas
1: C
2: B
3: C
4: E
5: E
6: E
7: E
8: C
9: C
10: D
11: C
12: B
13: D
14: E
15: B