A QUESTÃO SE REFERE AO TEXTO
A SEGUIR.
Produzindo um espantalho
Fazer o outro dizer o que ele não disse, criar
um personagem em cima de uma pessoa real e agir
como se esse ente imaginário estivesse presente – é
disso que se trata na falácia do espantalho, uma das
mais famosas na arte de vencer debates sem precisar
ter razão.
Baseada na criação de um duplo, é esse personagem ficcional que deve ser atacado no lugar da
pessoa real. É essa pessoa, cujo corpo e cuja presença
são como que jogados fora, que é transformada em
um boneco num jogo de argumentos. O ônus por ter
sido transformada em espantalho é totalmente dela.
O arguidor torna-se um embusteiro no momento em
que refuta a posição do duplo, ou seja, atacando uma
posição que não é defendida pela pessoa real. A falácia não é simplesmente o argumento, mas toda a
situação do argumento, como vemos acontecer hoje
com as fake News, verdadeira era da desinformação
planificada.
O truque da falácia do “homem de palha”
está em se bater num suposto argumento fraco, deixando de lado a complexidade do argumento realmente dito que, em geral, não seria fácil de refutar.
Assim como se coloca palha dentro de uma
roupa para simular a presença de um ser humano, a
falácia do espantalho surge quando palavras são colocadas na boca de alguém. Esse alguém continua ali,
mas uma presença espectral vem à tona. O devir espantalho deixa a distância processos de subjetivação,
esvaziando pensamento, sensibilidade e capacidade
de agir. Num mundo sem ética, em que a subjetividade não é respeitada nem em seus dizeres, a espantalhificação é o destino.
Revista Cult, ano 26, ed. 297, set. 2023, p.41. Adaptado.