Choviam convites de jantares e bailes. A viuvinha
recusava-os todos por causa do seu mau estado
de saúde.
Foi uma verdadeira calamidade.
Entraram a chover as visitas e bilhetes. Muitas
pessoas achavam que a doença devia ser interna,
muito interna, profundamente interna, visto que lhe
não apareciam sinais no rosto. Os nervos (eternos
caluniados!) foram a explicação que geralmente
se deu à singular moléstia da moça.
Três meses correram assim, sem que a doença de
Paula cedesse uma linha aos esforços do médico.
Os esforços do médico não podiam ser maiores;
de dois em dois dias uma receita. Se a doente se
esquecia do seu estado e estava a falar e a corar
como quem tinha saúde, o médico era o primeiro a
lembrar-lhe o perigo, e ela obedecia logo
entregando-se à mais prudente inação.”
(Fonte: A Última Receita. Obra Completa,
Machado de Assis, vol. II, Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1994. Publicado originalmente em Jornal
das Famílias, setembro de 1875.)