Na Palma da Mão sintetiza em seu vilão os problemas de viver uma vida
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Estreante na direção, Kim Tae-joon demonstra dificuldade para transformar
mensagem em imagem.
Na Palma da Mão é um filme perdido no meio do caminho. Em algum
momento, o diretor estreante Kim Tae-joon tem em mãos um antagonista
muito promissor. Frio, inteligente, cruel e capaz de fazer horrores sem emitir
uma sílaba. Logo esse vilão se revela como um fetichista, enfeitiçado pelo
próprio modus operandi e disposto a se divertir com suas vítimas até enjoar. É
nesse vilão que reside a alma do filme, mas todo o entorno não é capaz de
acompanhar o nível do personagem.
É como se o hacker-serial-killer fosse uma resposta do mundo para a
doentia relação da humanidade com redes sociais. Como se ele fosse uma
figura moldada exatamente para reagir de forma aterrorizante a todas as
nossas dificuldades de articular uma vida offline em tempos de Instagram e
Twitter.
Se essa proposta soa interessante, infelizmente, a protagonista, seus
amigos e familiares e os policiais responsáveis pela investigação pouco ajudam
no desenvolvimento das ideias e, principalmente, dos gêneros. Em alguns
momentos, Na Palma da Mão parece um exercício de retrato de arquétipos do
terror, mas pouco propõe com esses arquétipos. As relações familiares e
profissionais da obra existem para gerar alguma tensão aqui e ali, mas pouco
se relacionam com o sociopata que monopoliza os holofotes da trama.
Um ponto peculiar é que nunca testemunhamos os atos torpes e violentos,
o que é interessante por não abraçar a violência como caminho fácil, mas que,
aqui, acaba por fazer com que o espectador não sinta uma ameaça real em
torno da protagonista até os momentos derradeiros do filme. Kim Tae-joon não
faz cerimônia e elimina também qualquer suspense de sua narrativa,
apresentando um longa bastante direto em seu impacto. De antemão, já
sabemos quem é o vilão e quem é a mocinha e como tudo se desenrolará, mas
praticamente nenhuma nuance é desenvolvida a partir disso.
As tensões são sempre simplificadas, e se de positivo podemos enaltecer a
atuação de Yim Si-wan, que se diverte como o vilão (não tão) sádico que
interpreta, de negativo há de se destacar a falta de um trabalho mais apurado
como cinema para que as pequenas tensões se juntem em um grande evento.
Todo o enorme clímax do filme existe como um evento autossuficiente, isolado
em si: uma típica situação de sequestro e resgate que pouco se amarra com as
discussões previamente propostas.
Ao negligenciar os mistérios e tensões, Na Palma da Mão termina por
demonstrar mais interesse de seu diretor em discutir a fragilidade de uma vida
construída a partir da nossa relação com a internet e, mais especificamente,
as redes sociais. Isso, porém, pouco se reflete na narrativa, já que quase tudo
de relevante no filme acontece offline em momentos um tanto quanto genéricos
de suspense, drama e terror. Falta associar mais a vida online com os
problemas de privacidade, segurança e saúde mental propostos pelo filme.
É o caso clássico de um filme que acredita ter uma “mensagem” tão edificante,
que se esquece de que ela precisa existir em um… Filme; precisa articular
essas ideias cinematograficamente, com seus enquadramentos, iluminação, montagem, som… Enfim, com os meios que são utilizados apenas para que o
roteiro seja seguido, e não para propor imagens que desenvolvam o tom do
filme como um todo, que existe apenas em seu bom antagonista.
FIORE, Matheus. Na Palma da Mão sintetiza em seu vilão os problemas de viver
uma vida online. Omelete, 25 de fevereiro de 2023. Disponível em:
https://www.omelete.com.br/. Acesso em: 08 mar. 2023.