Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais.
Os seus pés duros quebravam espinho e não sentiam
a quentura da terra. Montado, confundia-se com o
cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem
cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro
entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para
um lado, para o outro, cambaio, torto e feio. Às vezes
utilizava, na relação com as pessoas, a mesma língua
com que se dirigia aos brutos – exclamações, onomatopeias.
Na verdade, falava pouco. Admirava as palavras
compridas e difíceis da gente da cidade, tentava
reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram
inúteis e talvez perigosas.
Graciliano Ramos – Vidas Secas – excerto