Questões de Concurso Público ABEPRO 2018 para Processo de Seleção - Edital 002/2018
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Celulares, capitalismo e obsolescência programada
Algo como cinco bilhões de pessoas, em todo o mundo, usarão um celular em 2020. Cada aparelho é feito de muitos metais preciosos, sem os quais não seriam possíveis vários de seus principais recursos tecnológicos. A mineração desses metais é uma atividade que está na base da moderna economia global, mas seu custo ambiental pode ser enorme, provavelmente muito maior do que temos consciência.
Ferro, alumínio e cobre são os três metais mais comumente usados em seu celular: o ferro é utilizado nos alto-falantes e microfones, e nas molduras de aço inoxidável; o alumínio é uma alternativa leve ao aço inoxidável, também usado na fabricação do forte vidro das telas dos smartphones; e o cobre é utilizado na fiação elétrica. Contudo, quando da extração desses metais, enormes volumes de resíduos são produzidos, podendo ocasionar catastróficos derramamentos. O maior desastre já registrado ocorreu em novembro de 2015, quando o rompimento de uma barragem numa mina de ferro em Minas Gerais, no Brasil, provocou o derramamento de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos ricos em ferro no Rio Doce. A lama inundou as cidades locais e matou 19 pessoas, atravessando 650 km até alcançar o Oceano Atlântico, 17 dias depois.
Ouro e estanho também são comuns em celulares. A mineração do ouro, usado nos celulares principalmente para fazer conectores e fios, além de ser uma das principais causas do desmatamento da Amazônia, gera resíduos altamente tóxicos que podem contaminar a água potável e os peixes, com sérias consequências para a saúde humana. O estanho é usado como elemento para solda em eletrônica e o óxido de índio-estanho é aplicado às telas de celulares como um revestimento fino, que oferece a funcionalidade de tela sensível ao toque. Os mares que circundam as ilhas Bangka e Belitung, na Indonésia, fornecem cerca de um terço do suprimento mundial, no entanto, a dragagem em grande escala de areia rica em estanho destruiu o precioso ecossistema de corais, e o declínio da indústria pesqueira gerou problemas econômicos e sociais no país.
O que torna seu celular inteligente? São os chamados elementos de terras-raras – um grupo de 17 metais que são extraídos principalmente na China, na Rússia e na Austrália. Frequentemente apelidados de “metais tecnológicos”, os terras-raras são fundamentais para o design e a função dos smartphones. Talvez o exemplo mais perturbador sobre o custo ambiental de nossa sede por celulares seja o “lago mundial do lixo tecnológico” em Baotou, na China. Criado em 1958, esse lago artificial recolhe o lodo tóxico das operações de processamento de terras-raras.
Os valiosos metais usados na fabricação de celulares são um recurso finito. Estimativas recentes indicam que nos próximos 20 a 50 anos não teremos mais alguns dos metais terras-raras – o que nos leva a pensar se ainda haverá celulares por aí. Reduzir o impacto ambiental do seu uso exige que os fabricantes aumentem a vida útil dos produtos, tornem a reciclagem mais direta e reduzam os impactos ambientais causados pela busca desses metais. Mas também nós, como consumidores, precisamos considerar os celulares menos como um objeto descartável e mais como um recurso precioso, que carrega enorme peso ambiental.
BYRNE, P.; HUDSON-EDWARDS, K. Trad. I. Castilho. Disponível
em: https://outraspalavras.net/capa/celulares-obsolescenciaprogramada-e-sociedade-inviavel/
Acesso em 03/set/2018. [Adaptado]
1. Algo como cinco bilhões de pessoas, em todo o mundo, usarão um celular em 2020. (1º parágrafo) 2. A mineração desses metais é uma atividade que está na base da moderna economia global, mas seu custo ambiental pode ser enorme, provavelmente muito maior do que temos consciência. (1º parágrafo) 3. Talvez o exemplo mais perturbador sobre o custo ambiental de nossa sede por celulares seja o “lago mundial do lixo tecnológico” em Baotou, na China. (4º parágrafo)
Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V ) e as falsas ( F ) em relação às frases acima.
( ) Em cada uma das frases há algum recurso linguístico de caráter modalizador que atenua, de algum modo, o valor assertivo e categórico da afirmação. ( ) Em 1, a forma verbal “usarão” pode ser substituída por “vai usar”, sem prejuízo de significado temporal e sem alterar a relação de concordância verbal. ( ) Em 2, as formas verbais sublinhadas expressam ações realizadas no momento da enunciação. ( ) Em 2 e 3, há relação semântica que envolve algum tipo de comparação. ( ) Em 3, a forma verbal “seja” pode ser substituída por “é” sem prejuízo de significado temporal e sem desvio da norma culta da língua escrita.
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo.
Celulares, capitalismo e obsolescência programada
Algo como cinco bilhões de pessoas, em todo o mundo, usarão um celular em 2020. Cada aparelho é feito de muitos metais preciosos, sem os quais não seriam possíveis vários de seus principais recursos tecnológicos. A mineração desses metais é uma atividade que está na base da moderna economia global, mas seu custo ambiental pode ser enorme, provavelmente muito maior do que temos consciência.
Ferro, alumínio e cobre são os três metais mais comumente usados em seu celular: o ferro é utilizado nos alto-falantes e microfones, e nas molduras de aço inoxidável; o alumínio é uma alternativa leve ao aço inoxidável, também usado na fabricação do forte vidro das telas dos smartphones; e o cobre é utilizado na fiação elétrica. Contudo, quando da extração desses metais, enormes volumes de resíduos são produzidos, podendo ocasionar catastróficos derramamentos. O maior desastre já registrado ocorreu em novembro de 2015, quando o rompimento de uma barragem numa mina de ferro em Minas Gerais, no Brasil, provocou o derramamento de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos ricos em ferro no Rio Doce. A lama inundou as cidades locais e matou 19 pessoas, atravessando 650 km até alcançar o Oceano Atlântico, 17 dias depois.
Ouro e estanho também são comuns em celulares. A mineração do ouro, usado nos celulares principalmente para fazer conectores e fios, além de ser uma das principais causas do desmatamento da Amazônia, gera resíduos altamente tóxicos que podem contaminar a água potável e os peixes, com sérias consequências para a saúde humana. O estanho é usado como elemento para solda em eletrônica e o óxido de índio-estanho é aplicado às telas de celulares como um revestimento fino, que oferece a funcionalidade de tela sensível ao toque. Os mares que circundam as ilhas Bangka e Belitung, na Indonésia, fornecem cerca de um terço do suprimento mundial, no entanto, a dragagem em grande escala de areia rica em estanho destruiu o precioso ecossistema de corais, e o declínio da indústria pesqueira gerou problemas econômicos e sociais no país.
O que torna seu celular inteligente? São os chamados elementos de terras-raras – um grupo de 17 metais que são extraídos principalmente na China, na Rússia e na Austrália. Frequentemente apelidados de “metais tecnológicos”, os terras-raras são fundamentais para o design e a função dos smartphones. Talvez o exemplo mais perturbador sobre o custo ambiental de nossa sede por celulares seja o “lago mundial do lixo tecnológico” em Baotou, na China. Criado em 1958, esse lago artificial recolhe o lodo tóxico das operações de processamento de terras-raras.
Os valiosos metais usados na fabricação de celulares são um recurso finito. Estimativas recentes indicam que nos próximos 20 a 50 anos não teremos mais alguns dos metais terras-raras – o que nos leva a pensar se ainda haverá celulares por aí. Reduzir o impacto ambiental do seu uso exige que os fabricantes aumentem a vida útil dos produtos, tornem a reciclagem mais direta e reduzam os impactos ambientais causados pela busca desses metais. Mas também nós, como consumidores, precisamos considerar os celulares menos como um objeto descartável e mais como um recurso precioso, que carrega enorme peso ambiental.
BYRNE, P.; HUDSON-EDWARDS, K. Trad. I. Castilho. Disponível
em: https://outraspalavras.net/capa/celulares-obsolescenciaprogramada-e-sociedade-inviavel/
Acesso em 03/set/2018. [Adaptado]
1. “Contudo, quando da extração desses metais, enormes volumes de resíduos são produzidos, podendo ocasionar catastróficos derramamentos.” (2º parágrafo) 2. “Os mares que circundam as ilhas Bangka e Belitung, na Indonésia, fornecem cerca de um terço do suprimento mundial, no entanto, a dragagem em grande escala de areia rica em estanho destruiu o precioso ecossistema de corais.” (3º parágrafo) 3. “Estimativas recentes indicam que nos próximos 20 a 50 anos não teremos mais alguns dos metais terras-raras – o que nos leva a pensar se ainda haverá celulares por aí.” (5º parágrafo) 4. “Mas também nós, como consumidores, precisamos considerar os celulares menos como um objeto descartável e mais como um recurso precioso.” (5º parágrafo)
Assinale a alternativa correta em relação às frases.
1. “Quando olhamos para as citações que um artigo recebeu, estamos considerando um grupo relativamente limitado de pessoas que o usaram: aquele grupo que se interessou, leu e utilizou aquele texto para construir e publicar o seu próprio trabalho.” (1º parágrafo) 2. “Profissionais, pacientes, gestores, ativistas, amadores, wikipedistas, curiosos, muita gente pode se interessar pela literatura científica, pelos mais diversos motivos.” (1º parágrafo)
Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V ) e as falsas ( F ) em relação às frases acima.
( ) Em 1, o sinal de dois-pontos é usado para anunciar uma síntese do que se acabou de dizer. ( ) Em 1, “um artigo”, “o” (em “o usaram”) e “aquele texto” estabelecem relação de correferencialidade. ( ) Embora as orações adverbiais costumem ter uma ordem flexível no período, em 1 a oração temporal “Quando […] recebeu” não pode ser deslocada sob pena de prejudicar a coesão textual. ( ) Em 2, o uso de “muita gente” em vez de “muitas pessoas” confere um traço de informalidade ao texto. ( ) Em 2, “pela” e “pelos” compartilham forma e função: são combinações de preposição com artigo que expressam relação de finalidade.
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo.
Notas de uma resenha
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. In: ADORNO et al. Teoria da Cultura de massa. Trad. de C. N. Coutinho. São Paulo: Paz e Terra, 2000. p. 221-254. [O texto de Benjamin foi escrito em 1936.]
Walter Benjamin é um grande autor moderno e nos aproxima de suas reflexões sobre uma teoria materialista da arte e a discussão de cultura de massa na modernidade capitalista. Em seu texto, o autor aponta para algumas questões importantes como a noção de autenticidade, o valor de culto e a unicidade na obra de arte. O “hic et nunc” (“aqui e agora”) do original constitui o que chama de autenticidade, a unicidade de sua presença no próprio local onde ela se encontra. No entanto, esse conceito não tem sentido para uma reprodução, técnica ou não, pois essa noção escapa a toda reprodução.
Discute-se em que época da reprodutibilidade técnica a obra de arte é atingida em sua aura, definida como “única aparição de uma realidade longínqua, por mais próxima que ela possa estar” (p. 229). O valor da unicidade “autêntica” se baseia no ritual que originariamente foi dado. Sendo assim, a reprodutibilidade contribui diretamente para a destruição do caráter único da autenticidade e da tradição. No sistema capitalista, a existência única é substituída por uma existência serial. Desde que o critério de autenticidade não mais se aplica à produção artística, toda função de arte é subvertida, ela se funda agora não apenas no ritual, mas noutra forma da práxis: a política. À medida que se emancipam, as obras de arte tornam-se mais acessíveis a serem expostas. Isso afeta também a qualidade da própria natureza da arte, pois seu valor expositivo lhe empresta funções novas de maneira que a função artística apareça como acessória.
Benjamin aponta o cinema como agente eficaz dessas contradições. A exemplo de polêmicas entre pintores e fotógrafos, em curso no século XIX, no que diz respeito aos valores respectivos das suas obras, também o cinema e o teatro são polemizados. No teatro, o ator adapta-se diante das reações diretas do público e, assim, nota-se a aparição única de algo distante, ou seja, a aura. Já no cinema há todo um mecanismo de mediação, com restrição do papel da aura e a construção artificial da “personalidade” do ator, ou seja, o culto da “estrela” a favor do capitalismo dos produtores.
Segundo o autor, “a massa é a matriz de onde brota, atualmente, todo um conjunto de novas atitudes em face da obra de arte. A quantidade tornou-se qualidade” (p. 250). As massas buscam diversão. Mas a arte necessita do recolhimento. Quem se recolhe diante da obra de arte, por ela é envolvido. Como imagem dialética, o autor cita a história de um pintor chinês que, de acordo com a lenda, perdeu-se na paisagem que acabara de pintar.
FIGUEIREDO, V. M. C. de.; OLIVEIRA, A. P. Disponível em: <https://www.revistas.ufg.br/fef/article/view/130/1487>
1. O “hic et nunc” (“aqui e agora”) do original constitui o que chama de autenticidade, a unicidade de sua presença no próprio local onde ela se encontra. (1º parágrafo) 2. Desde que o critério de autenticidade não mais se aplica à produção artística, toda função de arte é subvertida, ela se funda agora não apenas no ritual, mas noutra forma da práxis: a política. (2º parágrafo)
Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V ) e as falsas ( F ) em relação às frases acima.
( ) Em 1, o sujeito de “chama” é indeterminado. ( ) Em 1, “sua” e “ela” fazem referência à “obra de arte”. ( ) Em 2, “função de arte” pode ser substituída por “função artística”, sem prejuízo de significado no texto. ( ) Em 2, a palavra “subvertida” pode ser substituída por “apaziguada”, sem prejuízo de significado no texto. ( ) Em 2, entende-se que a subversão da arte implica a substituição da função artística e ritualística pela política.
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo.