Texto I
Descaso com saneamento
deixa rios em estado de alerta
A crise hídrica transformou a paisagem urbana em muitas
cidades paulistas. Casas passaram a contar com cisternas e
caixas-d’água azuis se multiplicaram por telhados, lajes e até em
garagens. Em regiões mais nobres, jardins e portarias de prédios
ganharam placas que alertam sobre a utilização de água de reúso.
As pessoas mudaram seu comportamento, economizaram e
cobraram soluções.
As discussões sobre a gestão da água, nos mais diversos
aspectos, saíram dos setores tradicionais e técnicos e ganharam
espaço no cotidiano. Porém, vieram as chuvas, as enchentes e os
rios urbanos voltaram a ficar tomados por lixo, mascarando, de
certa forma, o enorme volume de esgoto que muitos desses
corpos de água recebem diariamente.
É como se não precisássemos de cada gota de água desses
rios urbanos e como se a água limpa que consumimos em nossas
casas, em um passe de mágica, voltasse a existir em tamanha
abundância, nos proporcionando o luxo de continuar a poluir
centenas de córregos e milhares de riachos nas nossas cidades.
Para completar, todo esse descaso decorrente da falta de
saneamento se reverte em contaminação e em graves doenças
de veiculação hídrica.
Dados do monitoramento da qualidade da água – que
realizamos em rios, córregos e lagos de onze Estados brasileiros e
do Distrito Federal – revelaram que 36,3% dos pontos de coleta
analisados apresentam qualidade ruim ou péssima. Apenas
13 pontos foram avaliados com qualidade de água boa (4,5%) e
os outros 59,2% estão em situação regular, o que significa um
estado de alerta. Nenhum dos pontos analisados foi avaliado
como ótimo.
Divulgamos esse grave retrato no Dia Mundial da Água (22 de
março), com base nas análises realizadas entre março de 2015 e
fevereiro de 2016, em 289 pontos de coleta distribuídos em
76 municípios.
(MANTOVANI, Mário; RIBEIRO, Malu. UOL Notícias, abril/2016.)