Descrever a teoria essencial do anarquismo é um pouco como
tentar lutar com Proteu, pois as próprias características da
atitude libertária – a rejeição ao dogma, a deliberada fuga a
sistemas teóricos rígidos e, acima de tudo, a ênfase que dá à total
liberdade de escolha, à primazia do julgamento individual - criam
imediatamente a possibilidade de uma imensa variedade de
pontos de vista, inconcebíveis num sistema rigorosamente
dogmático. Na verdade , o anarquismo é a um só tempo
diversificado e inconstante e, à perspectiva histórica, apresenta a
aparência, não de um curso d’água cada vez mais forte, correndo
em direção ao mar do seu destino (uma imagem que bem
poderia ser aplicada ao marxismo), mas de um fio d’água
filtrando-se através do sol poroso – formando aqui uma corrente
subterrânea, ali um poço turbulento, escorrendo pelas fendas,
desaparecendo de vista para surgir onde as rachaduras da
estrutura social possam lhe oferecer uma oportunidade de fluir.
Como doutrina, muda constantemente, com movimento, cresce e
se desintegra, em permanente flutuação, mas jamais se acaba.
Existe na Europa desde 1840 ininterruptamente, e, por suas
próprias características multiformes, conseguiu sobreviver onde
muitos outros movimentos do século anterior, bem mais
poderosos, mas com menor capacidade de adaptação,
desaparecerem totalmente.
(WOODCOCK, George. História das ideias e movimentos anarquistas. Porto Alegre:
L&PM, 2002, p 17)
A partir da análise do texto, é correto inferir que