A História Do Polêmico Teste Psicológico Rorschach
Poucos dispositivos no mundo da psicologia penetraram na
cultura popular de forma tão forte quanto o famoso teste de
manchas de tinta de Hermann Rorschach, que ainda divide
psicólogos de diversos países.
Eu primeiro me deparei com o teste Rorschach de manchas
de tinta quando treinava para ser um psicólogo. Eu recebi
uma série de cartões contendo manchas de tinta e me
perguntaram o que elas pareciam ser (Avaliador: ''O que isso
se parece?'' Eu: ''Um morcego''.) Eu me lembro de pensar que
aquilo mais parecia ser uma leitura de tarô do que um teste
psicométrico de verdade.
Mas quando o teste foi medido e interpretado, ele produziu
um resultado assustadoramente preciso da minha
personalidade. Ele revelou coisas ao meu respeito que nem
minha mãe sabia. Eu me tornei um fã do teste, ainda que
muito cético, desde então.
Então, o que é o teste de manchas de tinta Rorschach? É
simplesmente um conjunto de cartas com imagens de
manchas de tinta dobradas sobre si mesmas para criar uma
imagem espelhada.
O Rorschach é o que psicólogos chamam de um teste
projetivo. A ideia básica é de que quando é mostrada a uma
pessoa uma imagem sem sentido, como uma mancha de
tinta, a sua mente irá trabalhar bastante para dar um
significado a este estímulo, e tal atribuição de sentido é
gerada pela mente.
Ao perguntar à pessoa o que elas veem na mancha de tinta,
elas podem estar na verdade falando de si mesmas e como
elas projetam um significado sobre o mundo verdadeiro.
Mas seu inventor, Hermann Rorschach, nunca tinha a
intenção de criar um teste de personalidade. Quando criança,
o jovem Hermann era um fã de um popular jogo chamado
Klecksografia, tão popular que seu apelido era Kleck. A ideia
do jogo era colecionar cartões com manchas de tinta que
podiam ser comprados no comércio local. Os colecionadores
podiam criar histórias a partir das manchas de tinta. Mais
tarde, Rorschach foi estudar psiquiatria e, quando estudava,
em 1918, ele percebeu que pacientes diagnosticados com
esquizofrenia faziam associações a partir das manchas de
Klecksografia diferentes das pessoas normais. Foi então que
ele desenvolveu o teste Rorschach como uma ferramenta que
servisse de diagnóstico para a esquizofrenia.
Mas foi só a partir de 1939 que a ferramenta foi usada como
um teste projetivo de personalidade. O próprio Rorschach era
cético a respeito disso.
A polêmica em torno da confiabilidade e a validade do teste
Rorschach existe desde a sua criação. Hoje, muitos
psicólogos na Grã-Bretanha - provavelmente a maioria no
país - acreditam que o Rorschach é uma tolice.
As críticas ao Rorschach se centram em três coisas: Em
primeiro lugar, alguns psicólogos argumentaram que o
psicólogo que aplica o teste também projeta o seu mundo
subconsciente sobre as manchas de tinta ao interpretar as
respostas.
Por exemplo, se a pessoa testada vê um sutiã, um psicólogo
homem pode classificar isso como sendo uma resposta
sexual, enquanto uma psicóloga pode classificar a resposta
como algo que diz respeito somente à vestimenta.
Em segundo lugar, o teste também tem sido criticado quanto
à sua validade. Em outras palavras, ele está medindo o que
ele está medindo? Rorschach estava certo de que seu teste
media formas desordenadas de pensar - como a que
caracteriza a esquizofrenia - e isso nunca foi contestado. Mas
sua habilidade para avaliar de forma precisa a personalidade
humana continua sendo algo discutível.
Por fim, críticos sugeriram que o Rorschach peca pela falta de
confiabilidade. Dois avaliadores, por exemplo, podem chegar
a conclusões de personalidade diferentes para a mesma
pessoa.
Eu também sou cético em relação ao valor científico do
Rorschach, mas acredito que ele seja uma ferramenta útil
para terapia e como forma de estimular a reflexão sobre o
mundo interno de uma pessoa.
(Autor: Mike Drayton. ADAPTADO. Disponível em
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2012/07/120725_rorscchach_teste_bg)