GENERALISTA OU PROFISSIONALIZANTE?
Nilson José Machado
Na União Europeia, 80% dos alunos na faixa dos 18 aos 24 anos completam o Ensino Médio;
nos Estados Unidos, quase 90% o fazem. No Brasil, são cerca de 37% dos jovens nessa faixa
etária, segundo dados de 2010. A necessidade de ampliar o número de alunos em tal nível de
ensino não pode elidir, no entanto, algumas questões cruciais. Uma delas é a necessidade de
equilíbrio entre uma formação dita generalista e uma aproximação do mundo do trabalho. Entre
o excesso de academicismo e o estreitamento demasiado dos conteúdos educacionais,
restringindo-os a dimensões prático-utilitárias, é possível buscar um equilíbrio de modo a não
confinar os alunos a horizontes limitados.
Naturalmente, uma formação pessoal densa é uma pressuposição tácita tanto da intenção de
prosseguimento de estudos quanto de uma inserção qualificada no mundo do trabalho. Em
uma sociedade em que o conhecimento se transformou no principal fator de produção, não se
pode pretender formar profissionais com conhecimentos e horizontes limitados. Não faz
sentido, portanto, contrapor o conhecimento escolar generalista à formação profissional em
nível médio.
A legislação educacional parece em sintonia com tal percepção. Ao situar o Ensino Médio
como etapa final da Educação Básica, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)
posicionou-se diante da aparente dicotomia, definindo os objetivos gerais de tal nível de
ensino. A meta precípua da escola básica não é uma preparação técnica para o desempenho
de funções instrumentais específicas, mas sim uma formação ampla, o que significa
desenvolver nos alunos um elenco de competências gerais. Segundo o documento norteador
do Enem, depreende-se que, ao final da escola básica, os alunos devem demonstrar
capacidade de expressão em diferentes linguagens, compreensão de fenômenos de natureza
diversa, argumentação analítica e elaboração de sínteses que conduzam à tomada de
decisões.
A associação imediata do Ensino Médio à formação profissional exige uma atenção especial
sobre o mundo do trabalho. No passado, uma formação profissional já significou uma
preparação instrumental, visando uma inserção mais rápida no mercado de trabalho.
Atualmente, o significado do trabalho transformou-se. Existe uma consciência mais clara de
que as aspirações de um profissional vão muito além da realização de mera tarefa técnica em
área de atuação bem definida: é fundamental o reconhecimento do significado do que se faz.
Categorias de profissionais têm códigos de ética, bem como instituições representativas que
regulam o exercício de suas atividades, mediando os eventuais conflitos entre o mercado e o
Estado, relativamente a tal exercício.
Para não configurar uma limitação ou um desvio no cumprimento dos preceitos legais, que
estabelecem o Ensino Médio como etapa final da Educação Básica, é essencial que esse
sentido amplo de profissionalismo e de formação profissional esteja presente nas políticas
públicas relativas ao Ensino Médio regular, especialmente aquelas que buscam uma articulação com o ensino profissionalizante.
Disponível em: . Acesso em 08 mai. 2014.