Questões de Concurso Público BHTRANS 2013 para Engenheiro Mecânico

Foram encontradas 10 questões

Q2876199 Português

INSTRUÇÕES: As questões de 21 a 30 referem-se ao texto abaixo.


Leia-o com atenção antes de responder a elas.


O que se revela quando se diz



A língua, na maioria das vezes, oferece-nos várias possibilidades para dizer praticamente as mesmas coisas. Escolher a forma mais adequada para cada situação, cotejar usos, comparar registros, sempre tendo em mente a riqueza dos processos de variação linguística, é (ou deveria ser) preocupação de todos os falantes, sob o risco de a intercompreensão e a eficiência de comunicação se perderem.

O “ultrapassado” – ao menos em grande parte do universo acadêmico – discurso do certo X errado, fundamentado numa dicotomia tão rígida quanto equivocada, desconsidera que a língua, como sistema que é, merece ser tomada mais como um objeto de estudo do que como um pretexto para normatizações frágeis e, muitas vezes, preconceituosas.

Por exemplo: quando, no começo dos anos 50, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira compuseram um dos maiores sucessos da música popular brasileira de todos os tempos, o baião “Asa Branca”, alguns puristas podem ter ficado incomodados com o final da quarta estrofe da canção: “Espero a chuva cair de novo / Pra mim voltá pro meu sertão”. Afinal, o uso do pronome oblíquo “mim” na posição de sujeito vai de encontro às prescrições dos normativistas, que apregoam o emprego do pronome reto (eu) numa construção como essa.

As explicações sintáticas para essa prescrição vão das mais finas (os pronomes pessoais em português mantêm resquícios da flexão de caso do latim e, por isso, são grafados diferentemente de acordo com sua função sintática) às mais insólitas (todos já ouvimos o descabido “mim não faz nada” ou o politicamente incorreto e descabido “mim é índio”). O fato é que, por mais que haja quem condene o “mim” como sujeito, esse uso não se deixou abalar e continua afirmando sua existência nas ruas.

Manuel Bandeira chegou mesmo a dizer que não havia nada mais “gostoso” do que usar o mim como sujeito de verbo no infinito. Para ele, a expressão “pra mim brincar” deveria ser usada por todos os brasileiros. Em que pese sua filiação modernista, que o levava a prestigiar as variantes populares da língua, até mesmo como reação aos beletrismos de parte da literatura brasileira da virada do século XIX para o século XX, é de elogiar sua percepção aguçada de fenômenos de língua, que o faz privilegiar a espontaneidade em detrimento da “correção”. A tese de Bandeira é plenamente adequada para explicar o uso dos pronomes em “Asa Branca”. Na canção, o emprego do “eu” no lugar do “mim” tornaria o texto incoerente. O narrador de “Asa Branca” é um retirante que foge da seca. Assim, para aumentar o efeito de “verdade” do texto, optou-se por uma variedade linguística compatível com o universo social desse narrador.

Linguistas de todas as épocas reconhecem que, quando falamos ou escrevemos, dizemos mais do que imaginamos. Na verdade, revelamos de onde somos, em que época vivemos, qual o nosso universo social, como queremos nos relacionar com nossos interlocutores. Isso se dá porque a língua não é neutra; ela encerra valores, crenças, ideologias. É por esse motivo que uma simples escolha lexical pode ter mais peso do que supúnhamos.

Veja-se o caso dos vocativos. Ao referirmo-nos aos nossos interlocutores, interpelando-os diretamente, podemos empregar as mais variadas formas de tratamento: doutor, senhor, moço, amigo, companheiro, camarada, rapaz, parceiro, mano, gajo, meu irmão, guri, quase todas com suas respectivas flexões femininas. Os exemplos são infindáveis. Acontece, contudo, que cada forma de tratamento revela muito mais do que se imagina: um “doutor” numa conversa cotidiana pode ser irônico; um “gajo” numa aula de literatura, uma homenagem a Portugal; um “mano” no Rio de Janeiro, uma brincadeira com o falar de São Paulo; um “camarada” num encontro partidário, uma filiação ideológica. Nada é neutro. Daí, o aforismo de Wittgenstein: “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”. Quanto maior é a consciência dos falantes sobre essas questões, maior é sua capacidade de controlar, ainda que parcialmente, o que se revela quando se diz.


(CALBUCCI. E. Disponível em <www.museudalinguaportuguesa.com.br>

Acessado em: 29 mar. 2013. Texto adaptado)

Assinale a alternativa que contém uma assertiva que NÃO pode ser confirmada pelo texto.

Alternativas
Q2876734 Português

INSTRUÇÕES: As questões de 21 a 30 referem-se ao texto abaixo.


Leia-o com atenção antes de responder a elas.


O que se revela quando se diz



A língua, na maioria das vezes, oferece-nos várias possibilidades para dizer praticamente as mesmas coisas. Escolher a forma mais adequada para cada situação, cotejar usos, comparar registros, sempre tendo em mente a riqueza dos processos de variação linguística, é (ou deveria ser) preocupação de todos os falantes, sob o risco de a intercompreensão e a eficiência de comunicação se perderem.

O “ultrapassado” – ao menos em grande parte do universo acadêmico – discurso do certo X errado, fundamentado numa dicotomia tão rígida quanto equivocada, desconsidera que a língua, como sistema que é, merece ser tomada mais como um objeto de estudo do que como um pretexto para normatizações frágeis e, muitas vezes, preconceituosas.

Por exemplo: quando, no começo dos anos 50, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira compuseram um dos maiores sucessos da música popular brasileira de todos os tempos, o baião “Asa Branca”, alguns puristas podem ter ficado incomodados com o final da quarta estrofe da canção: “Espero a chuva cair de novo / Pra mim voltá pro meu sertão”. Afinal, o uso do pronome oblíquo “mim” na posição de sujeito vai de encontro às prescrições dos normativistas, que apregoam o emprego do pronome reto (eu) numa construção como essa.

As explicações sintáticas para essa prescrição vão das mais finas (os pronomes pessoais em português mantêm resquícios da flexão de caso do latim e, por isso, são grafados diferentemente de acordo com sua função sintática) às mais insólitas (todos já ouvimos o descabido “mim não faz nada” ou o politicamente incorreto e descabido “mim é índio”). O fato é que, por mais que haja quem condene o “mim” como sujeito, esse uso não se deixou abalar e continua afirmando sua existência nas ruas.

Manuel Bandeira chegou mesmo a dizer que não havia nada mais “gostoso” do que usar o mim como sujeito de verbo no infinito. Para ele, a expressão “pra mim brincar” deveria ser usada por todos os brasileiros. Em que pese sua filiação modernista, que o levava a prestigiar as variantes populares da língua, até mesmo como reação aos beletrismos de parte da literatura brasileira da virada do século XIX para o século XX, é de elogiar sua percepção aguçada de fenômenos de língua, que o faz privilegiar a espontaneidade em detrimento da “correção”. A tese de Bandeira é plenamente adequada para explicar o uso dos pronomes em “Asa Branca”. Na canção, o emprego do “eu” no lugar do “mim” tornaria o texto incoerente. O narrador de “Asa Branca” é um retirante que foge da seca. Assim, para aumentar o efeito de “verdade” do texto, optou-se por uma variedade linguística compatível com o universo social desse narrador.

Linguistas de todas as épocas reconhecem que, quando falamos ou escrevemos, dizemos mais do que imaginamos. Na verdade, revelamos de onde somos, em que época vivemos, qual o nosso universo social, como queremos nos relacionar com nossos interlocutores. Isso se dá porque a língua não é neutra; ela encerra valores, crenças, ideologias. É por esse motivo que uma simples escolha lexical pode ter mais peso do que supúnhamos.

Veja-se o caso dos vocativos. Ao referirmo-nos aos nossos interlocutores, interpelando-os diretamente, podemos empregar as mais variadas formas de tratamento: doutor, senhor, moço, amigo, companheiro, camarada, rapaz, parceiro, mano, gajo, meu irmão, guri, quase todas com suas respectivas flexões femininas. Os exemplos são infindáveis. Acontece, contudo, que cada forma de tratamento revela muito mais do que se imagina: um “doutor” numa conversa cotidiana pode ser irônico; um “gajo” numa aula de literatura, uma homenagem a Portugal; um “mano” no Rio de Janeiro, uma brincadeira com o falar de São Paulo; um “camarada” num encontro partidário, uma filiação ideológica. Nada é neutro. Daí, o aforismo de Wittgenstein: “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”. Quanto maior é a consciência dos falantes sobre essas questões, maior é sua capacidade de controlar, ainda que parcialmente, o que se revela quando se diz.


(CALBUCCI. E. Disponível em <www.museudalinguaportuguesa.com.br>

Acessado em: 29 mar. 2013. Texto adaptado)

Assinale a alternativa que contém uma assertiva CORRETA em relação aos comentários expostos no texto relativos à letra do baião “Asa Branca”.

Alternativas
Q2876735 Português

INSTRUÇÕES: As questões de 21 a 30 referem-se ao texto abaixo.


Leia-o com atenção antes de responder a elas.


O que se revela quando se diz



A língua, na maioria das vezes, oferece-nos várias possibilidades para dizer praticamente as mesmas coisas. Escolher a forma mais adequada para cada situação, cotejar usos, comparar registros, sempre tendo em mente a riqueza dos processos de variação linguística, é (ou deveria ser) preocupação de todos os falantes, sob o risco de a intercompreensão e a eficiência de comunicação se perderem.

O “ultrapassado” – ao menos em grande parte do universo acadêmico – discurso do certo X errado, fundamentado numa dicotomia tão rígida quanto equivocada, desconsidera que a língua, como sistema que é, merece ser tomada mais como um objeto de estudo do que como um pretexto para normatizações frágeis e, muitas vezes, preconceituosas.

Por exemplo: quando, no começo dos anos 50, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira compuseram um dos maiores sucessos da música popular brasileira de todos os tempos, o baião “Asa Branca”, alguns puristas podem ter ficado incomodados com o final da quarta estrofe da canção: “Espero a chuva cair de novo / Pra mim voltá pro meu sertão”. Afinal, o uso do pronome oblíquo “mim” na posição de sujeito vai de encontro às prescrições dos normativistas, que apregoam o emprego do pronome reto (eu) numa construção como essa.

As explicações sintáticas para essa prescrição vão das mais finas (os pronomes pessoais em português mantêm resquícios da flexão de caso do latim e, por isso, são grafados diferentemente de acordo com sua função sintática) às mais insólitas (todos já ouvimos o descabido “mim não faz nada” ou o politicamente incorreto e descabido “mim é índio”). O fato é que, por mais que haja quem condene o “mim” como sujeito, esse uso não se deixou abalar e continua afirmando sua existência nas ruas.

Manuel Bandeira chegou mesmo a dizer que não havia nada mais “gostoso” do que usar o mim como sujeito de verbo no infinito. Para ele, a expressão “pra mim brincar” deveria ser usada por todos os brasileiros. Em que pese sua filiação modernista, que o levava a prestigiar as variantes populares da língua, até mesmo como reação aos beletrismos de parte da literatura brasileira da virada do século XIX para o século XX, é de elogiar sua percepção aguçada de fenômenos de língua, que o faz privilegiar a espontaneidade em detrimento da “correção”. A tese de Bandeira é plenamente adequada para explicar o uso dos pronomes em “Asa Branca”. Na canção, o emprego do “eu” no lugar do “mim” tornaria o texto incoerente. O narrador de “Asa Branca” é um retirante que foge da seca. Assim, para aumentar o efeito de “verdade” do texto, optou-se por uma variedade linguística compatível com o universo social desse narrador.

Linguistas de todas as épocas reconhecem que, quando falamos ou escrevemos, dizemos mais do que imaginamos. Na verdade, revelamos de onde somos, em que época vivemos, qual o nosso universo social, como queremos nos relacionar com nossos interlocutores. Isso se dá porque a língua não é neutra; ela encerra valores, crenças, ideologias. É por esse motivo que uma simples escolha lexical pode ter mais peso do que supúnhamos.

Veja-se o caso dos vocativos. Ao referirmo-nos aos nossos interlocutores, interpelando-os diretamente, podemos empregar as mais variadas formas de tratamento: doutor, senhor, moço, amigo, companheiro, camarada, rapaz, parceiro, mano, gajo, meu irmão, guri, quase todas com suas respectivas flexões femininas. Os exemplos são infindáveis. Acontece, contudo, que cada forma de tratamento revela muito mais do que se imagina: um “doutor” numa conversa cotidiana pode ser irônico; um “gajo” numa aula de literatura, uma homenagem a Portugal; um “mano” no Rio de Janeiro, uma brincadeira com o falar de São Paulo; um “camarada” num encontro partidário, uma filiação ideológica. Nada é neutro. Daí, o aforismo de Wittgenstein: “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”. Quanto maior é a consciência dos falantes sobre essas questões, maior é sua capacidade de controlar, ainda que parcialmente, o que se revela quando se diz.


(CALBUCCI. E. Disponível em <www.museudalinguaportuguesa.com.br>

Acessado em: 29 mar. 2013. Texto adaptado)

Sobre a afirmativa de Manuel Bandeira mencionada no texto, só é CORRETO afirmar que

Alternativas
Q2876736 Português

INSTRUÇÕES: As questões de 21 a 30 referem-se ao texto abaixo.


Leia-o com atenção antes de responder a elas.


O que se revela quando se diz



A língua, na maioria das vezes, oferece-nos várias possibilidades para dizer praticamente as mesmas coisas. Escolher a forma mais adequada para cada situação, cotejar usos, comparar registros, sempre tendo em mente a riqueza dos processos de variação linguística, é (ou deveria ser) preocupação de todos os falantes, sob o risco de a intercompreensão e a eficiência de comunicação se perderem.

O “ultrapassado” – ao menos em grande parte do universo acadêmico – discurso do certo X errado, fundamentado numa dicotomia tão rígida quanto equivocada, desconsidera que a língua, como sistema que é, merece ser tomada mais como um objeto de estudo do que como um pretexto para normatizações frágeis e, muitas vezes, preconceituosas.

Por exemplo: quando, no começo dos anos 50, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira compuseram um dos maiores sucessos da música popular brasileira de todos os tempos, o baião “Asa Branca”, alguns puristas podem ter ficado incomodados com o final da quarta estrofe da canção: “Espero a chuva cair de novo / Pra mim voltá pro meu sertão”. Afinal, o uso do pronome oblíquo “mim” na posição de sujeito vai de encontro às prescrições dos normativistas, que apregoam o emprego do pronome reto (eu) numa construção como essa.

As explicações sintáticas para essa prescrição vão das mais finas (os pronomes pessoais em português mantêm resquícios da flexão de caso do latim e, por isso, são grafados diferentemente de acordo com sua função sintática) às mais insólitas (todos já ouvimos o descabido “mim não faz nada” ou o politicamente incorreto e descabido “mim é índio”). O fato é que, por mais que haja quem condene o “mim” como sujeito, esse uso não se deixou abalar e continua afirmando sua existência nas ruas.

Manuel Bandeira chegou mesmo a dizer que não havia nada mais “gostoso” do que usar o mim como sujeito de verbo no infinito. Para ele, a expressão “pra mim brincar” deveria ser usada por todos os brasileiros. Em que pese sua filiação modernista, que o levava a prestigiar as variantes populares da língua, até mesmo como reação aos beletrismos de parte da literatura brasileira da virada do século XIX para o século XX, é de elogiar sua percepção aguçada de fenômenos de língua, que o faz privilegiar a espontaneidade em detrimento da “correção”. A tese de Bandeira é plenamente adequada para explicar o uso dos pronomes em “Asa Branca”. Na canção, o emprego do “eu” no lugar do “mim” tornaria o texto incoerente. O narrador de “Asa Branca” é um retirante que foge da seca. Assim, para aumentar o efeito de “verdade” do texto, optou-se por uma variedade linguística compatível com o universo social desse narrador.

Linguistas de todas as épocas reconhecem que, quando falamos ou escrevemos, dizemos mais do que imaginamos. Na verdade, revelamos de onde somos, em que época vivemos, qual o nosso universo social, como queremos nos relacionar com nossos interlocutores. Isso se dá porque a língua não é neutra; ela encerra valores, crenças, ideologias. É por esse motivo que uma simples escolha lexical pode ter mais peso do que supúnhamos.

Veja-se o caso dos vocativos. Ao referirmo-nos aos nossos interlocutores, interpelando-os diretamente, podemos empregar as mais variadas formas de tratamento: doutor, senhor, moço, amigo, companheiro, camarada, rapaz, parceiro, mano, gajo, meu irmão, guri, quase todas com suas respectivas flexões femininas. Os exemplos são infindáveis. Acontece, contudo, que cada forma de tratamento revela muito mais do que se imagina: um “doutor” numa conversa cotidiana pode ser irônico; um “gajo” numa aula de literatura, uma homenagem a Portugal; um “mano” no Rio de Janeiro, uma brincadeira com o falar de São Paulo; um “camarada” num encontro partidário, uma filiação ideológica. Nada é neutro. Daí, o aforismo de Wittgenstein: “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”. Quanto maior é a consciência dos falantes sobre essas questões, maior é sua capacidade de controlar, ainda que parcialmente, o que se revela quando se diz.


(CALBUCCI. E. Disponível em <www.museudalinguaportuguesa.com.br>

Acessado em: 29 mar. 2013. Texto adaptado)

“Espero a chuva cair de novo / Pra mim voltá pro meu sertão”


Nos versos acima, a melhor justificativa para a redação da estrutura sublinhada, segundo o texto, é:

Alternativas
Q2876737 Português

INSTRUÇÕES: As questões de 21 a 30 referem-se ao texto abaixo.


Leia-o com atenção antes de responder a elas.


O que se revela quando se diz



A língua, na maioria das vezes, oferece-nos várias possibilidades para dizer praticamente as mesmas coisas. Escolher a forma mais adequada para cada situação, cotejar usos, comparar registros, sempre tendo em mente a riqueza dos processos de variação linguística, é (ou deveria ser) preocupação de todos os falantes, sob o risco de a intercompreensão e a eficiência de comunicação se perderem.

O “ultrapassado” – ao menos em grande parte do universo acadêmico – discurso do certo X errado, fundamentado numa dicotomia tão rígida quanto equivocada, desconsidera que a língua, como sistema que é, merece ser tomada mais como um objeto de estudo do que como um pretexto para normatizações frágeis e, muitas vezes, preconceituosas.

Por exemplo: quando, no começo dos anos 50, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira compuseram um dos maiores sucessos da música popular brasileira de todos os tempos, o baião “Asa Branca”, alguns puristas podem ter ficado incomodados com o final da quarta estrofe da canção: “Espero a chuva cair de novo / Pra mim voltá pro meu sertão”. Afinal, o uso do pronome oblíquo “mim” na posição de sujeito vai de encontro às prescrições dos normativistas, que apregoam o emprego do pronome reto (eu) numa construção como essa.

As explicações sintáticas para essa prescrição vão das mais finas (os pronomes pessoais em português mantêm resquícios da flexão de caso do latim e, por isso, são grafados diferentemente de acordo com sua função sintática) às mais insólitas (todos já ouvimos o descabido “mim não faz nada” ou o politicamente incorreto e descabido “mim é índio”). O fato é que, por mais que haja quem condene o “mim” como sujeito, esse uso não se deixou abalar e continua afirmando sua existência nas ruas.

Manuel Bandeira chegou mesmo a dizer que não havia nada mais “gostoso” do que usar o mim como sujeito de verbo no infinito. Para ele, a expressão “pra mim brincar” deveria ser usada por todos os brasileiros. Em que pese sua filiação modernista, que o levava a prestigiar as variantes populares da língua, até mesmo como reação aos beletrismos de parte da literatura brasileira da virada do século XIX para o século XX, é de elogiar sua percepção aguçada de fenômenos de língua, que o faz privilegiar a espontaneidade em detrimento da “correção”. A tese de Bandeira é plenamente adequada para explicar o uso dos pronomes em “Asa Branca”. Na canção, o emprego do “eu” no lugar do “mim” tornaria o texto incoerente. O narrador de “Asa Branca” é um retirante que foge da seca. Assim, para aumentar o efeito de “verdade” do texto, optou-se por uma variedade linguística compatível com o universo social desse narrador.

Linguistas de todas as épocas reconhecem que, quando falamos ou escrevemos, dizemos mais do que imaginamos. Na verdade, revelamos de onde somos, em que época vivemos, qual o nosso universo social, como queremos nos relacionar com nossos interlocutores. Isso se dá porque a língua não é neutra; ela encerra valores, crenças, ideologias. É por esse motivo que uma simples escolha lexical pode ter mais peso do que supúnhamos.

Veja-se o caso dos vocativos. Ao referirmo-nos aos nossos interlocutores, interpelando-os diretamente, podemos empregar as mais variadas formas de tratamento: doutor, senhor, moço, amigo, companheiro, camarada, rapaz, parceiro, mano, gajo, meu irmão, guri, quase todas com suas respectivas flexões femininas. Os exemplos são infindáveis. Acontece, contudo, que cada forma de tratamento revela muito mais do que se imagina: um “doutor” numa conversa cotidiana pode ser irônico; um “gajo” numa aula de literatura, uma homenagem a Portugal; um “mano” no Rio de Janeiro, uma brincadeira com o falar de São Paulo; um “camarada” num encontro partidário, uma filiação ideológica. Nada é neutro. Daí, o aforismo de Wittgenstein: “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”. Quanto maior é a consciência dos falantes sobre essas questões, maior é sua capacidade de controlar, ainda que parcialmente, o que se revela quando se diz.


(CALBUCCI. E. Disponível em <www.museudalinguaportuguesa.com.br>

Acessado em: 29 mar. 2013. Texto adaptado)

Identifique a alternativa em que as modificações na redação provocam alteração de sentido no texto.

Alternativas
Respostas
1: C
2: B
3: A
4: B
5: D