Questões de Concurso Público Prefeitura de Ubá - MG 2021 para Enfermeiro 30h/40h

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Ano: 2021 Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) Órgão: Prefeitura de Ubá - MG Provas: FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Assistente Social | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Bibliotecário | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Biólogo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Contador | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Enfermeiro 30h/40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Educador Físico 30h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Enfermeiro do Trabalho | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Agrônomo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Ambiental 30h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Civil | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Eletricista | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Farmacêutico 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Fisioterapeuta 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Médico Generalista 20h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Médico Auditor | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Fonoaudiólogo 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Psicólogo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Nutricionista 40h |
Q2420247 Português

INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder às questões de 1 a 10.


Coronavírus expõe a nossa desinformação sobre a China, o maior fenômeno econômico dos nossos tempos


Não é a primeira vez que a China passa por uma crise epidêmica. A história das doenças contagiosas que espalham medo é longa. Também é longa a história de como as autoridades chinesas, com seus erros e acertos, contornaram suas próprias crises, como no surto de cólera de 1949 e a varíola em 1950.


A mais recente e marcante epidemia foi a Síndrome Respiratória Aguda Severa, a Sars, na sigla em inglês. Como pontuaram os sinólogos Arthur Kleinman e James Watson, no livro “Sars in China: prelude to pandemic?”, a Sars em 2003 provocou uma das mais sérias crises de saúde de nossos tempos. Kleinman, que tem cinco décadas de experiência em intervenção em saúde pública na China, acredita que a epidemia foi uma espécie de prelúdio de novas catástrofes de saúde que viriam acontecer no século 21. Ainda que o número de mortes tenha sido de aproximadamente 1.000 pessoas — pequeno, comparado a outras epidemias —, a Sars mobilizou inseguranças, medos e preconceitos sobre o país. Os Estados Unidos não pouparam os boatos de que se estaria espalhando bioterror em seu território. O impacto sobre as vidas humanas na China e sobre a economia global foi tremendo, desvelando a fragilidade do mundo globalizado.


Passada a Sars, hoje a notícia do coronavírus se espalha por meio de uma onda de pânico moral que mistura fake news, desinformação, racismo e estereótipos tolos. Notícias falsas gravíssimas percorrem o WhatsApp. A mais debatida nas redes sociais foi a de que o vírus teria tido origem na sopa de morcegos, o que fez com que brasileiros — que vivem no país em que se come coração de galinha e tripa de boi — ficassem escandalizados. Um vídeo no Twitter mostrava uma cena grotesca de um jovem chinês comendo um pássaro vivo, como a prova cabal de que era por isso que o vírus se espalha.


Na apuração de informações para esta coluna, descobri, com a ajuda do professor David Nemer, da Universidade de Virgínia (EUA), que grupos no WhatsApp foram inundados de boatos, em forma de “breaking news”, que diziam que os chineses estavam morrendo caídos nas ruas, que pais abandonaram filhos no aeroporto ao saberem da contaminação e que 23 milhões de pessoas estavam em quarentena e 112 mil haviam morrido. Essa é a narrativa apocalíptica — ou a doutrina do choque, como diria a escritora Naomi Klein — sempre muito bem manipulada para fins políticos.


Tudo isso repete o antigo imaginário euro-estadunidense que procura associar a China à impureza simbólica e concreta. Há pelo menos 30 anos, a imprensa liberal ocidental, quando aborda a produção de manufaturas baratas, recorre sistematicamente à expressão “infestação” do mundo de mercadorias chinesas. Os chineses estão sempre contaminando o mundo de alguma forma.


Para contrabalançar os estereótipos negativos, vieram os estereótipos positivos. A grande notícia das redes sociais foi a de que “A China construirá um hospital em 10 dias” — manchete que circulou de forma padronizada em diversos veículos. A difusão dessa notícia veio dos órgãos oficiais da imprensa chinesa, numa tentativa de direcionar as narrativas internacionais sobre a epidemia e o país.


É evidente que a manchete do hospital tem uma intenção positiva, que é mostrar uma China dinâmica, com tecnologia de ponta e vontade governamental para resolver seus problemas internos. Mas não deixa de ser o estereótipo do outro extremo, que reatualiza o eterno retorno da mítica chinesa acerca de suas grandiosas construções.


Autores como historiador búlgaro Tzvetan Todorov e o antropólogo francês François Laplantine mostraram que a imagem do Brasil pelos missionários europeus no século 16 era ambivalente: entre o mau e o bom selvagem, paraíso ou inferno. Os maus selvagens eram os indígenas rudes, sem roupa, sem pelo, sem alma. Os bons selvagens eram os nativos de alma pura, que não conheciam a malícia e a maldade.


No caso dos morcegos e desinformação, vê-se um etnocentrismo cru que desumaniza o outro. No caso do hospital, cai-se em idealização também estereotipada.


É importante frisar que não estou fazendo uma crítica a quem compartilhou a notícia. Eu mesma compartilhei. A construção rápida de um hospital mostra pragmatismo diante da calamidade. Além disso, a notícia tem um papel político para se opor à fantasia acerca dos morcegos, que fixam os chineses em um lugar bárbaro e exótico.


O problema, portanto, não é nossa ação individual, mas precisamente o desalentadorfato de que, entre o morcego e o hospital, não sobra quase nada. Caímos sempre na armadilha do dualismo “tradição-modernidade”. Se a gente olha esse debate de longe, estruturalmente, o que concluímos é que não saímos do mesmo lugar de narrativas extremas e caricatas sobre o maior fenômeno econômico mundial dos nossos tempos. Sabemos muito pouco sobre o país mais populoso do mundo, com quase 1,4 bilhão de pessoas. [...]


MACHADO, Rosana. Disponível em: www.theintercept.

com/2020/01/28/coronavirus-desinformacao-china.

Acesso em: 27 out. 2021.

A respeito do gênero do texto de Rosana Machado, publicado no início de 2020, é correto afirmar que se trata de

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Ano: 2021 Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) Órgão: Prefeitura de Ubá - MG Provas: FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Assistente Social | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Bibliotecário | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Biólogo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Contador | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Enfermeiro 30h/40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Educador Físico 30h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Enfermeiro do Trabalho | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Agrônomo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Ambiental 30h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Civil | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Eletricista | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Farmacêutico 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Fisioterapeuta 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Médico Generalista 20h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Médico Auditor | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Fonoaudiólogo 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Psicólogo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Nutricionista 40h |
Q2420248 Português

INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder às questões de 1 a 10.


Coronavírus expõe a nossa desinformação sobre a China, o maior fenômeno econômico dos nossos tempos


Não é a primeira vez que a China passa por uma crise epidêmica. A história das doenças contagiosas que espalham medo é longa. Também é longa a história de como as autoridades chinesas, com seus erros e acertos, contornaram suas próprias crises, como no surto de cólera de 1949 e a varíola em 1950.


A mais recente e marcante epidemia foi a Síndrome Respiratória Aguda Severa, a Sars, na sigla em inglês. Como pontuaram os sinólogos Arthur Kleinman e James Watson, no livro “Sars in China: prelude to pandemic?”, a Sars em 2003 provocou uma das mais sérias crises de saúde de nossos tempos. Kleinman, que tem cinco décadas de experiência em intervenção em saúde pública na China, acredita que a epidemia foi uma espécie de prelúdio de novas catástrofes de saúde que viriam acontecer no século 21. Ainda que o número de mortes tenha sido de aproximadamente 1.000 pessoas — pequeno, comparado a outras epidemias —, a Sars mobilizou inseguranças, medos e preconceitos sobre o país. Os Estados Unidos não pouparam os boatos de que se estaria espalhando bioterror em seu território. O impacto sobre as vidas humanas na China e sobre a economia global foi tremendo, desvelando a fragilidade do mundo globalizado.


Passada a Sars, hoje a notícia do coronavírus se espalha por meio de uma onda de pânico moral que mistura fake news, desinformação, racismo e estereótipos tolos. Notícias falsas gravíssimas percorrem o WhatsApp. A mais debatida nas redes sociais foi a de que o vírus teria tido origem na sopa de morcegos, o que fez com que brasileiros — que vivem no país em que se come coração de galinha e tripa de boi — ficassem escandalizados. Um vídeo no Twitter mostrava uma cena grotesca de um jovem chinês comendo um pássaro vivo, como a prova cabal de que era por isso que o vírus se espalha.


Na apuração de informações para esta coluna, descobri, com a ajuda do professor David Nemer, da Universidade de Virgínia (EUA), que grupos no WhatsApp foram inundados de boatos, em forma de “breaking news”, que diziam que os chineses estavam morrendo caídos nas ruas, que pais abandonaram filhos no aeroporto ao saberem da contaminação e que 23 milhões de pessoas estavam em quarentena e 112 mil haviam morrido. Essa é a narrativa apocalíptica — ou a doutrina do choque, como diria a escritora Naomi Klein — sempre muito bem manipulada para fins políticos.


Tudo isso repete o antigo imaginário euro-estadunidense que procura associar a China à impureza simbólica e concreta. Há pelo menos 30 anos, a imprensa liberal ocidental, quando aborda a produção de manufaturas baratas, recorre sistematicamente à expressão “infestação” do mundo de mercadorias chinesas. Os chineses estão sempre contaminando o mundo de alguma forma.


Para contrabalançar os estereótipos negativos, vieram os estereótipos positivos. A grande notícia das redes sociais foi a de que “A China construirá um hospital em 10 dias” — manchete que circulou de forma padronizada em diversos veículos. A difusão dessa notícia veio dos órgãos oficiais da imprensa chinesa, numa tentativa de direcionar as narrativas internacionais sobre a epidemia e o país.


É evidente que a manchete do hospital tem uma intenção positiva, que é mostrar uma China dinâmica, com tecnologia de ponta e vontade governamental para resolver seus problemas internos. Mas não deixa de ser o estereótipo do outro extremo, que reatualiza o eterno retorno da mítica chinesa acerca de suas grandiosas construções.


Autores como historiador búlgaro Tzvetan Todorov e o antropólogo francês François Laplantine mostraram que a imagem do Brasil pelos missionários europeus no século 16 era ambivalente: entre o mau e o bom selvagem, paraíso ou inferno. Os maus selvagens eram os indígenas rudes, sem roupa, sem pelo, sem alma. Os bons selvagens eram os nativos de alma pura, que não conheciam a malícia e a maldade.


No caso dos morcegos e desinformação, vê-se um etnocentrismo cru que desumaniza o outro. No caso do hospital, cai-se em idealização também estereotipada.


É importante frisar que não estou fazendo uma crítica a quem compartilhou a notícia. Eu mesma compartilhei. A construção rápida de um hospital mostra pragmatismo diante da calamidade. Além disso, a notícia tem um papel político para se opor à fantasia acerca dos morcegos, que fixam os chineses em um lugar bárbaro e exótico.


O problema, portanto, não é nossa ação individual, mas precisamente o desalentadorfato de que, entre o morcego e o hospital, não sobra quase nada. Caímos sempre na armadilha do dualismo “tradição-modernidade”. Se a gente olha esse debate de longe, estruturalmente, o que concluímos é que não saímos do mesmo lugar de narrativas extremas e caricatas sobre o maior fenômeno econômico mundial dos nossos tempos. Sabemos muito pouco sobre o país mais populoso do mundo, com quase 1,4 bilhão de pessoas. [...]


MACHADO, Rosana. Disponível em: www.theintercept.

com/2020/01/28/coronavirus-desinformacao-china.

Acesso em: 27 out. 2021.

O texto defende a tese de que

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Ano: 2021 Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) Órgão: Prefeitura de Ubá - MG Provas: FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Assistente Social | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Bibliotecário | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Biólogo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Contador | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Enfermeiro 30h/40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Educador Físico 30h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Enfermeiro do Trabalho | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Agrônomo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Ambiental 30h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Civil | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Eletricista | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Farmacêutico 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Fisioterapeuta 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Médico Generalista 20h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Médico Auditor | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Fonoaudiólogo 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Psicólogo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Nutricionista 40h |
Q2420250 Português

INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder às questões de 1 a 10.


Coronavírus expõe a nossa desinformação sobre a China, o maior fenômeno econômico dos nossos tempos


Não é a primeira vez que a China passa por uma crise epidêmica. A história das doenças contagiosas que espalham medo é longa. Também é longa a história de como as autoridades chinesas, com seus erros e acertos, contornaram suas próprias crises, como no surto de cólera de 1949 e a varíola em 1950.


A mais recente e marcante epidemia foi a Síndrome Respiratória Aguda Severa, a Sars, na sigla em inglês. Como pontuaram os sinólogos Arthur Kleinman e James Watson, no livro “Sars in China: prelude to pandemic?”, a Sars em 2003 provocou uma das mais sérias crises de saúde de nossos tempos. Kleinman, que tem cinco décadas de experiência em intervenção em saúde pública na China, acredita que a epidemia foi uma espécie de prelúdio de novas catástrofes de saúde que viriam acontecer no século 21. Ainda que o número de mortes tenha sido de aproximadamente 1.000 pessoas — pequeno, comparado a outras epidemias —, a Sars mobilizou inseguranças, medos e preconceitos sobre o país. Os Estados Unidos não pouparam os boatos de que se estaria espalhando bioterror em seu território. O impacto sobre as vidas humanas na China e sobre a economia global foi tremendo, desvelando a fragilidade do mundo globalizado.


Passada a Sars, hoje a notícia do coronavírus se espalha por meio de uma onda de pânico moral que mistura fake news, desinformação, racismo e estereótipos tolos. Notícias falsas gravíssimas percorrem o WhatsApp. A mais debatida nas redes sociais foi a de que o vírus teria tido origem na sopa de morcegos, o que fez com que brasileiros — que vivem no país em que se come coração de galinha e tripa de boi — ficassem escandalizados. Um vídeo no Twitter mostrava uma cena grotesca de um jovem chinês comendo um pássaro vivo, como a prova cabal de que era por isso que o vírus se espalha.


Na apuração de informações para esta coluna, descobri, com a ajuda do professor David Nemer, da Universidade de Virgínia (EUA), que grupos no WhatsApp foram inundados de boatos, em forma de “breaking news”, que diziam que os chineses estavam morrendo caídos nas ruas, que pais abandonaram filhos no aeroporto ao saberem da contaminação e que 23 milhões de pessoas estavam em quarentena e 112 mil haviam morrido. Essa é a narrativa apocalíptica — ou a doutrina do choque, como diria a escritora Naomi Klein — sempre muito bem manipulada para fins políticos.


Tudo isso repete o antigo imaginário euro-estadunidense que procura associar a China à impureza simbólica e concreta. Há pelo menos 30 anos, a imprensa liberal ocidental, quando aborda a produção de manufaturas baratas, recorre sistematicamente à expressão “infestação” do mundo de mercadorias chinesas. Os chineses estão sempre contaminando o mundo de alguma forma.


Para contrabalançar os estereótipos negativos, vieram os estereótipos positivos. A grande notícia das redes sociais foi a de que “A China construirá um hospital em 10 dias” — manchete que circulou de forma padronizada em diversos veículos. A difusão dessa notícia veio dos órgãos oficiais da imprensa chinesa, numa tentativa de direcionar as narrativas internacionais sobre a epidemia e o país.


É evidente que a manchete do hospital tem uma intenção positiva, que é mostrar uma China dinâmica, com tecnologia de ponta e vontade governamental para resolver seus problemas internos. Mas não deixa de ser o estereótipo do outro extremo, que reatualiza o eterno retorno da mítica chinesa acerca de suas grandiosas construções.


Autores como historiador búlgaro Tzvetan Todorov e o antropólogo francês François Laplantine mostraram que a imagem do Brasil pelos missionários europeus no século 16 era ambivalente: entre o mau e o bom selvagem, paraíso ou inferno. Os maus selvagens eram os indígenas rudes, sem roupa, sem pelo, sem alma. Os bons selvagens eram os nativos de alma pura, que não conheciam a malícia e a maldade.


No caso dos morcegos e desinformação, vê-se um etnocentrismo cru que desumaniza o outro. No caso do hospital, cai-se em idealização também estereotipada.


É importante frisar que não estou fazendo uma crítica a quem compartilhou a notícia. Eu mesma compartilhei. A construção rápida de um hospital mostra pragmatismo diante da calamidade. Além disso, a notícia tem um papel político para se opor à fantasia acerca dos morcegos, que fixam os chineses em um lugar bárbaro e exótico.


O problema, portanto, não é nossa ação individual, mas precisamente o desalentadorfato de que, entre o morcego e o hospital, não sobra quase nada. Caímos sempre na armadilha do dualismo “tradição-modernidade”. Se a gente olha esse debate de longe, estruturalmente, o que concluímos é que não saímos do mesmo lugar de narrativas extremas e caricatas sobre o maior fenômeno econômico mundial dos nossos tempos. Sabemos muito pouco sobre o país mais populoso do mundo, com quase 1,4 bilhão de pessoas. [...]


MACHADO, Rosana. Disponível em: www.theintercept.

com/2020/01/28/coronavirus-desinformacao-china.

Acesso em: 27 out. 2021.

Releia o seguinte trecho.


“Também é longa a história de como as autoridades chinesas, com seus erros e acertos, contornaram suas próprias crises, como no surto de cólera de 1949 e a varíola em 1950.”


A preposição destacada poderia ser substituída, sem prejuízo para a coesão e para a coerência do texto, por

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Q2420251 Português

INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder às questões de 1 a 10.


Coronavírus expõe a nossa desinformação sobre a China, o maior fenômeno econômico dos nossos tempos


Não é a primeira vez que a China passa por uma crise epidêmica. A história das doenças contagiosas que espalham medo é longa. Também é longa a história de como as autoridades chinesas, com seus erros e acertos, contornaram suas próprias crises, como no surto de cólera de 1949 e a varíola em 1950.


A mais recente e marcante epidemia foi a Síndrome Respiratória Aguda Severa, a Sars, na sigla em inglês. Como pontuaram os sinólogos Arthur Kleinman e James Watson, no livro “Sars in China: prelude to pandemic?”, a Sars em 2003 provocou uma das mais sérias crises de saúde de nossos tempos. Kleinman, que tem cinco décadas de experiência em intervenção em saúde pública na China, acredita que a epidemia foi uma espécie de prelúdio de novas catástrofes de saúde que viriam acontecer no século 21. Ainda que o número de mortes tenha sido de aproximadamente 1.000 pessoas — pequeno, comparado a outras epidemias —, a Sars mobilizou inseguranças, medos e preconceitos sobre o país. Os Estados Unidos não pouparam os boatos de que se estaria espalhando bioterror em seu território. O impacto sobre as vidas humanas na China e sobre a economia global foi tremendo, desvelando a fragilidade do mundo globalizado.


Passada a Sars, hoje a notícia do coronavírus se espalha por meio de uma onda de pânico moral que mistura fake news, desinformação, racismo e estereótipos tolos. Notícias falsas gravíssimas percorrem o WhatsApp. A mais debatida nas redes sociais foi a de que o vírus teria tido origem na sopa de morcegos, o que fez com que brasileiros — que vivem no país em que se come coração de galinha e tripa de boi — ficassem escandalizados. Um vídeo no Twitter mostrava uma cena grotesca de um jovem chinês comendo um pássaro vivo, como a prova cabal de que era por isso que o vírus se espalha.


Na apuração de informações para esta coluna, descobri, com a ajuda do professor David Nemer, da Universidade de Virgínia (EUA), que grupos no WhatsApp foram inundados de boatos, em forma de “breaking news”, que diziam que os chineses estavam morrendo caídos nas ruas, que pais abandonaram filhos no aeroporto ao saberem da contaminação e que 23 milhões de pessoas estavam em quarentena e 112 mil haviam morrido. Essa é a narrativa apocalíptica — ou a doutrina do choque, como diria a escritora Naomi Klein — sempre muito bem manipulada para fins políticos.


Tudo isso repete o antigo imaginário euro-estadunidense que procura associar a China à impureza simbólica e concreta. Há pelo menos 30 anos, a imprensa liberal ocidental, quando aborda a produção de manufaturas baratas, recorre sistematicamente à expressão “infestação” do mundo de mercadorias chinesas. Os chineses estão sempre contaminando o mundo de alguma forma.


Para contrabalançar os estereótipos negativos, vieram os estereótipos positivos. A grande notícia das redes sociais foi a de que “A China construirá um hospital em 10 dias” — manchete que circulou de forma padronizada em diversos veículos. A difusão dessa notícia veio dos órgãos oficiais da imprensa chinesa, numa tentativa de direcionar as narrativas internacionais sobre a epidemia e o país.


É evidente que a manchete do hospital tem uma intenção positiva, que é mostrar uma China dinâmica, com tecnologia de ponta e vontade governamental para resolver seus problemas internos. Mas não deixa de ser o estereótipo do outro extremo, que reatualiza o eterno retorno da mítica chinesa acerca de suas grandiosas construções.


Autores como historiador búlgaro Tzvetan Todorov e o antropólogo francês François Laplantine mostraram que a imagem do Brasil pelos missionários europeus no século 16 era ambivalente: entre o mau e o bom selvagem, paraíso ou inferno. Os maus selvagens eram os indígenas rudes, sem roupa, sem pelo, sem alma. Os bons selvagens eram os nativos de alma pura, que não conheciam a malícia e a maldade.


No caso dos morcegos e desinformação, vê-se um etnocentrismo cru que desumaniza o outro. No caso do hospital, cai-se em idealização também estereotipada.


É importante frisar que não estou fazendo uma crítica a quem compartilhou a notícia. Eu mesma compartilhei. A construção rápida de um hospital mostra pragmatismo diante da calamidade. Além disso, a notícia tem um papel político para se opor à fantasia acerca dos morcegos, que fixam os chineses em um lugar bárbaro e exótico.


O problema, portanto, não é nossa ação individual, mas precisamente o desalentadorfato de que, entre o morcego e o hospital, não sobra quase nada. Caímos sempre na armadilha do dualismo “tradição-modernidade”. Se a gente olha esse debate de longe, estruturalmente, o que concluímos é que não saímos do mesmo lugar de narrativas extremas e caricatas sobre o maior fenômeno econômico mundial dos nossos tempos. Sabemos muito pouco sobre o país mais populoso do mundo, com quase 1,4 bilhão de pessoas. [...]


MACHADO, Rosana. Disponível em: www.theintercept.

com/2020/01/28/coronavirus-desinformacao-china.

Acesso em: 27 out. 2021.

Elisa Guimarães, na obra Texto, discurso e ensino, faz as seguintes considerações.


“Observa-se que a nossos discursos em geral somam-se outras vozes, quando nos exprimimos, por exemplo, por meio de uma expressão cristalizada na sociedade: “Casa de ferreiro, espeto de pau” – “É de pequenino que se torce o pepino” – o provérbio refletindo a “sabedoria popular” pela qual nos deixamos contagiar.

As aspas que usamos frequentemente têm a função de esclarecer que estamos nos permitindo repetir o que disse o outro. O discurso jornalístico, no afã de deixar clara a fonte da informação, utiliza-se do discurso indireto. Assim, não é raro nos depararmos em jornais com enunciados como “O presidente da comissão afirmou que...”.”


GUIMARÃES, 2009, p. 90-91.


A propósito de tais considerações, é correto afirmar que o texto de Rosana Machado

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Ano: 2021 Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) Órgão: Prefeitura de Ubá - MG Provas: FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Assistente Social | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Bibliotecário | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Biólogo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Contador | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Enfermeiro 30h/40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Educador Físico 30h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Enfermeiro do Trabalho | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Agrônomo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Ambiental 30h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Civil | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Eletricista | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Farmacêutico 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Fisioterapeuta 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Médico Generalista 20h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Médico Auditor | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Fonoaudiólogo 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Psicólogo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Nutricionista 40h |
Q2420253 Português

INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder às questões de 1 a 10.


Coronavírus expõe a nossa desinformação sobre a China, o maior fenômeno econômico dos nossos tempos


Não é a primeira vez que a China passa por uma crise epidêmica. A história das doenças contagiosas que espalham medo é longa. Também é longa a história de como as autoridades chinesas, com seus erros e acertos, contornaram suas próprias crises, como no surto de cólera de 1949 e a varíola em 1950.


A mais recente e marcante epidemia foi a Síndrome Respiratória Aguda Severa, a Sars, na sigla em inglês. Como pontuaram os sinólogos Arthur Kleinman e James Watson, no livro “Sars in China: prelude to pandemic?”, a Sars em 2003 provocou uma das mais sérias crises de saúde de nossos tempos. Kleinman, que tem cinco décadas de experiência em intervenção em saúde pública na China, acredita que a epidemia foi uma espécie de prelúdio de novas catástrofes de saúde que viriam acontecer no século 21. Ainda que o número de mortes tenha sido de aproximadamente 1.000 pessoas — pequeno, comparado a outras epidemias —, a Sars mobilizou inseguranças, medos e preconceitos sobre o país. Os Estados Unidos não pouparam os boatos de que se estaria espalhando bioterror em seu território. O impacto sobre as vidas humanas na China e sobre a economia global foi tremendo, desvelando a fragilidade do mundo globalizado.


Passada a Sars, hoje a notícia do coronavírus se espalha por meio de uma onda de pânico moral que mistura fake news, desinformação, racismo e estereótipos tolos. Notícias falsas gravíssimas percorrem o WhatsApp. A mais debatida nas redes sociais foi a de que o vírus teria tido origem na sopa de morcegos, o que fez com que brasileiros — que vivem no país em que se come coração de galinha e tripa de boi — ficassem escandalizados. Um vídeo no Twitter mostrava uma cena grotesca de um jovem chinês comendo um pássaro vivo, como a prova cabal de que era por isso que o vírus se espalha.


Na apuração de informações para esta coluna, descobri, com a ajuda do professor David Nemer, da Universidade de Virgínia (EUA), que grupos no WhatsApp foram inundados de boatos, em forma de “breaking news”, que diziam que os chineses estavam morrendo caídos nas ruas, que pais abandonaram filhos no aeroporto ao saberem da contaminação e que 23 milhões de pessoas estavam em quarentena e 112 mil haviam morrido. Essa é a narrativa apocalíptica — ou a doutrina do choque, como diria a escritora Naomi Klein — sempre muito bem manipulada para fins políticos.


Tudo isso repete o antigo imaginário euro-estadunidense que procura associar a China à impureza simbólica e concreta. Há pelo menos 30 anos, a imprensa liberal ocidental, quando aborda a produção de manufaturas baratas, recorre sistematicamente à expressão “infestação” do mundo de mercadorias chinesas. Os chineses estão sempre contaminando o mundo de alguma forma.


Para contrabalançar os estereótipos negativos, vieram os estereótipos positivos. A grande notícia das redes sociais foi a de que “A China construirá um hospital em 10 dias” — manchete que circulou de forma padronizada em diversos veículos. A difusão dessa notícia veio dos órgãos oficiais da imprensa chinesa, numa tentativa de direcionar as narrativas internacionais sobre a epidemia e o país.


É evidente que a manchete do hospital tem uma intenção positiva, que é mostrar uma China dinâmica, com tecnologia de ponta e vontade governamental para resolver seus problemas internos. Mas não deixa de ser o estereótipo do outro extremo, que reatualiza o eterno retorno da mítica chinesa acerca de suas grandiosas construções.


Autores como historiador búlgaro Tzvetan Todorov e o antropólogo francês François Laplantine mostraram que a imagem do Brasil pelos missionários europeus no século 16 era ambivalente: entre o mau e o bom selvagem, paraíso ou inferno. Os maus selvagens eram os indígenas rudes, sem roupa, sem pelo, sem alma. Os bons selvagens eram os nativos de alma pura, que não conheciam a malícia e a maldade.


No caso dos morcegos e desinformação, vê-se um etnocentrismo cru que desumaniza o outro. No caso do hospital, cai-se em idealização também estereotipada.


É importante frisar que não estou fazendo uma crítica a quem compartilhou a notícia. Eu mesma compartilhei. A construção rápida de um hospital mostra pragmatismo diante da calamidade. Além disso, a notícia tem um papel político para se opor à fantasia acerca dos morcegos, que fixam os chineses em um lugar bárbaro e exótico.


O problema, portanto, não é nossa ação individual, mas precisamente o desalentadorfato de que, entre o morcego e o hospital, não sobra quase nada. Caímos sempre na armadilha do dualismo “tradição-modernidade”. Se a gente olha esse debate de longe, estruturalmente, o que concluímos é que não saímos do mesmo lugar de narrativas extremas e caricatas sobre o maior fenômeno econômico mundial dos nossos tempos. Sabemos muito pouco sobre o país mais populoso do mundo, com quase 1,4 bilhão de pessoas. [...]


MACHADO, Rosana. Disponível em: www.theintercept.

com/2020/01/28/coronavirus-desinformacao-china.

Acesso em: 27 out. 2021.

Analise a charge a seguir, uma paródia da bandeira da China, publicada em um jornal dinamarquês por ocasião das notícias sobre o coronavírus.


Imagem associada para resolução da questão


Disponível em: www.dw.com/pt-br.

Acesso em: 10 fev. 2020.


Considerando o exposto no texto de Rosana Machado, é correto afirmar que essa charge apresenta um conteúdo

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Q2420255 Português

INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder às questões de 1 a 10.


Coronavírus expõe a nossa desinformação sobre a China, o maior fenômeno econômico dos nossos tempos


Não é a primeira vez que a China passa por uma crise epidêmica. A história das doenças contagiosas que espalham medo é longa. Também é longa a história de como as autoridades chinesas, com seus erros e acertos, contornaram suas próprias crises, como no surto de cólera de 1949 e a varíola em 1950.


A mais recente e marcante epidemia foi a Síndrome Respiratória Aguda Severa, a Sars, na sigla em inglês. Como pontuaram os sinólogos Arthur Kleinman e James Watson, no livro “Sars in China: prelude to pandemic?”, a Sars em 2003 provocou uma das mais sérias crises de saúde de nossos tempos. Kleinman, que tem cinco décadas de experiência em intervenção em saúde pública na China, acredita que a epidemia foi uma espécie de prelúdio de novas catástrofes de saúde que viriam acontecer no século 21. Ainda que o número de mortes tenha sido de aproximadamente 1.000 pessoas — pequeno, comparado a outras epidemias —, a Sars mobilizou inseguranças, medos e preconceitos sobre o país. Os Estados Unidos não pouparam os boatos de que se estaria espalhando bioterror em seu território. O impacto sobre as vidas humanas na China e sobre a economia global foi tremendo, desvelando a fragilidade do mundo globalizado.


Passada a Sars, hoje a notícia do coronavírus se espalha por meio de uma onda de pânico moral que mistura fake news, desinformação, racismo e estereótipos tolos. Notícias falsas gravíssimas percorrem o WhatsApp. A mais debatida nas redes sociais foi a de que o vírus teria tido origem na sopa de morcegos, o que fez com que brasileiros — que vivem no país em que se come coração de galinha e tripa de boi — ficassem escandalizados. Um vídeo no Twitter mostrava uma cena grotesca de um jovem chinês comendo um pássaro vivo, como a prova cabal de que era por isso que o vírus se espalha.


Na apuração de informações para esta coluna, descobri, com a ajuda do professor David Nemer, da Universidade de Virgínia (EUA), que grupos no WhatsApp foram inundados de boatos, em forma de “breaking news”, que diziam que os chineses estavam morrendo caídos nas ruas, que pais abandonaram filhos no aeroporto ao saberem da contaminação e que 23 milhões de pessoas estavam em quarentena e 112 mil haviam morrido. Essa é a narrativa apocalíptica — ou a doutrina do choque, como diria a escritora Naomi Klein — sempre muito bem manipulada para fins políticos.


Tudo isso repete o antigo imaginário euro-estadunidense que procura associar a China à impureza simbólica e concreta. Há pelo menos 30 anos, a imprensa liberal ocidental, quando aborda a produção de manufaturas baratas, recorre sistematicamente à expressão “infestação” do mundo de mercadorias chinesas. Os chineses estão sempre contaminando o mundo de alguma forma.


Para contrabalançar os estereótipos negativos, vieram os estereótipos positivos. A grande notícia das redes sociais foi a de que “A China construirá um hospital em 10 dias” — manchete que circulou de forma padronizada em diversos veículos. A difusão dessa notícia veio dos órgãos oficiais da imprensa chinesa, numa tentativa de direcionar as narrativas internacionais sobre a epidemia e o país.


É evidente que a manchete do hospital tem uma intenção positiva, que é mostrar uma China dinâmica, com tecnologia de ponta e vontade governamental para resolver seus problemas internos. Mas não deixa de ser o estereótipo do outro extremo, que reatualiza o eterno retorno da mítica chinesa acerca de suas grandiosas construções.


Autores como historiador búlgaro Tzvetan Todorov e o antropólogo francês François Laplantine mostraram que a imagem do Brasil pelos missionários europeus no século 16 era ambivalente: entre o mau e o bom selvagem, paraíso ou inferno. Os maus selvagens eram os indígenas rudes, sem roupa, sem pelo, sem alma. Os bons selvagens eram os nativos de alma pura, que não conheciam a malícia e a maldade.


No caso dos morcegos e desinformação, vê-se um etnocentrismo cru que desumaniza o outro. No caso do hospital, cai-se em idealização também estereotipada.


É importante frisar que não estou fazendo uma crítica a quem compartilhou a notícia. Eu mesma compartilhei. A construção rápida de um hospital mostra pragmatismo diante da calamidade. Além disso, a notícia tem um papel político para se opor à fantasia acerca dos morcegos, que fixam os chineses em um lugar bárbaro e exótico.


O problema, portanto, não é nossa ação individual, mas precisamente o desalentadorfato de que, entre o morcego e o hospital, não sobra quase nada. Caímos sempre na armadilha do dualismo “tradição-modernidade”. Se a gente olha esse debate de longe, estruturalmente, o que concluímos é que não saímos do mesmo lugar de narrativas extremas e caricatas sobre o maior fenômeno econômico mundial dos nossos tempos. Sabemos muito pouco sobre o país mais populoso do mundo, com quase 1,4 bilhão de pessoas. [...]


MACHADO, Rosana. Disponível em: www.theintercept.

com/2020/01/28/coronavirus-desinformacao-china.

Acesso em: 27 out. 2021.

Assinale a alternativa em que o trecho destacado é uma oração adjetiva restritiva.

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Q2420257 Português

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Coronavírus expõe a nossa desinformação sobre a China, o maior fenômeno econômico dos nossos tempos


Não é a primeira vez que a China passa por uma crise epidêmica. A história das doenças contagiosas que espalham medo é longa. Também é longa a história de como as autoridades chinesas, com seus erros e acertos, contornaram suas próprias crises, como no surto de cólera de 1949 e a varíola em 1950.


A mais recente e marcante epidemia foi a Síndrome Respiratória Aguda Severa, a Sars, na sigla em inglês. Como pontuaram os sinólogos Arthur Kleinman e James Watson, no livro “Sars in China: prelude to pandemic?”, a Sars em 2003 provocou uma das mais sérias crises de saúde de nossos tempos. Kleinman, que tem cinco décadas de experiência em intervenção em saúde pública na China, acredita que a epidemia foi uma espécie de prelúdio de novas catástrofes de saúde que viriam acontecer no século 21. Ainda que o número de mortes tenha sido de aproximadamente 1.000 pessoas — pequeno, comparado a outras epidemias —, a Sars mobilizou inseguranças, medos e preconceitos sobre o país. Os Estados Unidos não pouparam os boatos de que se estaria espalhando bioterror em seu território. O impacto sobre as vidas humanas na China e sobre a economia global foi tremendo, desvelando a fragilidade do mundo globalizado.


Passada a Sars, hoje a notícia do coronavírus se espalha por meio de uma onda de pânico moral que mistura fake news, desinformação, racismo e estereótipos tolos. Notícias falsas gravíssimas percorrem o WhatsApp. A mais debatida nas redes sociais foi a de que o vírus teria tido origem na sopa de morcegos, o que fez com que brasileiros — que vivem no país em que se come coração de galinha e tripa de boi — ficassem escandalizados. Um vídeo no Twitter mostrava uma cena grotesca de um jovem chinês comendo um pássaro vivo, como a prova cabal de que era por isso que o vírus se espalha.


Na apuração de informações para esta coluna, descobri, com a ajuda do professor David Nemer, da Universidade de Virgínia (EUA), que grupos no WhatsApp foram inundados de boatos, em forma de “breaking news”, que diziam que os chineses estavam morrendo caídos nas ruas, que pais abandonaram filhos no aeroporto ao saberem da contaminação e que 23 milhões de pessoas estavam em quarentena e 112 mil haviam morrido. Essa é a narrativa apocalíptica — ou a doutrina do choque, como diria a escritora Naomi Klein — sempre muito bem manipulada para fins políticos.


Tudo isso repete o antigo imaginário euro-estadunidense que procura associar a China à impureza simbólica e concreta. Há pelo menos 30 anos, a imprensa liberal ocidental, quando aborda a produção de manufaturas baratas, recorre sistematicamente à expressão “infestação” do mundo de mercadorias chinesas. Os chineses estão sempre contaminando o mundo de alguma forma.


Para contrabalançar os estereótipos negativos, vieram os estereótipos positivos. A grande notícia das redes sociais foi a de que “A China construirá um hospital em 10 dias” — manchete que circulou de forma padronizada em diversos veículos. A difusão dessa notícia veio dos órgãos oficiais da imprensa chinesa, numa tentativa de direcionar as narrativas internacionais sobre a epidemia e o país.


É evidente que a manchete do hospital tem uma intenção positiva, que é mostrar uma China dinâmica, com tecnologia de ponta e vontade governamental para resolver seus problemas internos. Mas não deixa de ser o estereótipo do outro extremo, que reatualiza o eterno retorno da mítica chinesa acerca de suas grandiosas construções.


Autores como historiador búlgaro Tzvetan Todorov e o antropólogo francês François Laplantine mostraram que a imagem do Brasil pelos missionários europeus no século 16 era ambivalente: entre o mau e o bom selvagem, paraíso ou inferno. Os maus selvagens eram os indígenas rudes, sem roupa, sem pelo, sem alma. Os bons selvagens eram os nativos de alma pura, que não conheciam a malícia e a maldade.


No caso dos morcegos e desinformação, vê-se um etnocentrismo cru que desumaniza o outro. No caso do hospital, cai-se em idealização também estereotipada.


É importante frisar que não estou fazendo uma crítica a quem compartilhou a notícia. Eu mesma compartilhei. A construção rápida de um hospital mostra pragmatismo diante da calamidade. Além disso, a notícia tem um papel político para se opor à fantasia acerca dos morcegos, que fixam os chineses em um lugar bárbaro e exótico.


O problema, portanto, não é nossa ação individual, mas precisamente o desalentadorfato de que, entre o morcego e o hospital, não sobra quase nada. Caímos sempre na armadilha do dualismo “tradição-modernidade”. Se a gente olha esse debate de longe, estruturalmente, o que concluímos é que não saímos do mesmo lugar de narrativas extremas e caricatas sobre o maior fenômeno econômico mundial dos nossos tempos. Sabemos muito pouco sobre o país mais populoso do mundo, com quase 1,4 bilhão de pessoas. [...]


MACHADO, Rosana. Disponível em: www.theintercept.

com/2020/01/28/coronavirus-desinformacao-china.

Acesso em: 27 out. 2021.

Releia o seguinte trecho.


“O impacto sobre as vidas humanas na China e sobre a economia global foi tremendo, desvelando a fragilidade do mundo globalizado.”


A oração reduzida, em destaque, exprime a relação lógica de

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Q2420259 Português

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Coronavírus expõe a nossa desinformação sobre a China, o maior fenômeno econômico dos nossos tempos


Não é a primeira vez que a China passa por uma crise epidêmica. A história das doenças contagiosas que espalham medo é longa. Também é longa a história de como as autoridades chinesas, com seus erros e acertos, contornaram suas próprias crises, como no surto de cólera de 1949 e a varíola em 1950.


A mais recente e marcante epidemia foi a Síndrome Respiratória Aguda Severa, a Sars, na sigla em inglês. Como pontuaram os sinólogos Arthur Kleinman e James Watson, no livro “Sars in China: prelude to pandemic?”, a Sars em 2003 provocou uma das mais sérias crises de saúde de nossos tempos. Kleinman, que tem cinco décadas de experiência em intervenção em saúde pública na China, acredita que a epidemia foi uma espécie de prelúdio de novas catástrofes de saúde que viriam acontecer no século 21. Ainda que o número de mortes tenha sido de aproximadamente 1.000 pessoas — pequeno, comparado a outras epidemias —, a Sars mobilizou inseguranças, medos e preconceitos sobre o país. Os Estados Unidos não pouparam os boatos de que se estaria espalhando bioterror em seu território. O impacto sobre as vidas humanas na China e sobre a economia global foi tremendo, desvelando a fragilidade do mundo globalizado.


Passada a Sars, hoje a notícia do coronavírus se espalha por meio de uma onda de pânico moral que mistura fake news, desinformação, racismo e estereótipos tolos. Notícias falsas gravíssimas percorrem o WhatsApp. A mais debatida nas redes sociais foi a de que o vírus teria tido origem na sopa de morcegos, o que fez com que brasileiros — que vivem no país em que se come coração de galinha e tripa de boi — ficassem escandalizados. Um vídeo no Twitter mostrava uma cena grotesca de um jovem chinês comendo um pássaro vivo, como a prova cabal de que era por isso que o vírus se espalha.


Na apuração de informações para esta coluna, descobri, com a ajuda do professor David Nemer, da Universidade de Virgínia (EUA), que grupos no WhatsApp foram inundados de boatos, em forma de “breaking news”, que diziam que os chineses estavam morrendo caídos nas ruas, que pais abandonaram filhos no aeroporto ao saberem da contaminação e que 23 milhões de pessoas estavam em quarentena e 112 mil haviam morrido. Essa é a narrativa apocalíptica — ou a doutrina do choque, como diria a escritora Naomi Klein — sempre muito bem manipulada para fins políticos.


Tudo isso repete o antigo imaginário euro-estadunidense que procura associar a China à impureza simbólica e concreta. Há pelo menos 30 anos, a imprensa liberal ocidental, quando aborda a produção de manufaturas baratas, recorre sistematicamente à expressão “infestação” do mundo de mercadorias chinesas. Os chineses estão sempre contaminando o mundo de alguma forma.


Para contrabalançar os estereótipos negativos, vieram os estereótipos positivos. A grande notícia das redes sociais foi a de que “A China construirá um hospital em 10 dias” — manchete que circulou de forma padronizada em diversos veículos. A difusão dessa notícia veio dos órgãos oficiais da imprensa chinesa, numa tentativa de direcionar as narrativas internacionais sobre a epidemia e o país.


É evidente que a manchete do hospital tem uma intenção positiva, que é mostrar uma China dinâmica, com tecnologia de ponta e vontade governamental para resolver seus problemas internos. Mas não deixa de ser o estereótipo do outro extremo, que reatualiza o eterno retorno da mítica chinesa acerca de suas grandiosas construções.


Autores como historiador búlgaro Tzvetan Todorov e o antropólogo francês François Laplantine mostraram que a imagem do Brasil pelos missionários europeus no século 16 era ambivalente: entre o mau e o bom selvagem, paraíso ou inferno. Os maus selvagens eram os indígenas rudes, sem roupa, sem pelo, sem alma. Os bons selvagens eram os nativos de alma pura, que não conheciam a malícia e a maldade.


No caso dos morcegos e desinformação, vê-se um etnocentrismo cru que desumaniza o outro. No caso do hospital, cai-se em idealização também estereotipada.


É importante frisar que não estou fazendo uma crítica a quem compartilhou a notícia. Eu mesma compartilhei. A construção rápida de um hospital mostra pragmatismo diante da calamidade. Além disso, a notícia tem um papel político para se opor à fantasia acerca dos morcegos, que fixam os chineses em um lugar bárbaro e exótico.


O problema, portanto, não é nossa ação individual, mas precisamente o desalentadorfato de que, entre o morcego e o hospital, não sobra quase nada. Caímos sempre na armadilha do dualismo “tradição-modernidade”. Se a gente olha esse debate de longe, estruturalmente, o que concluímos é que não saímos do mesmo lugar de narrativas extremas e caricatas sobre o maior fenômeno econômico mundial dos nossos tempos. Sabemos muito pouco sobre o país mais populoso do mundo, com quase 1,4 bilhão de pessoas. [...]


MACHADO, Rosana. Disponível em: www.theintercept.

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Acesso em: 27 out. 2021.

Releia os trechos a seguir, que foram reescritos com pequenas alterações.


I. “Coronavírus expõe a nossa desinformação sobre a China, o maior fenômeno econômico dos nossos tempos.” / Coronavírus expõe nossa desinformação sobre a China, o maior fenômeno econômico dos nossos tempos.

II. “Passada a Sars, hoje a notícia do coronavírus se espalha por meio de uma onda de pânico moral [...]”. / Passada a Sars, a notícia do coronavírus hoje se espalha por meio de uma onda de pânico moral [...].

III. “Os bons selvagens eram os nativos de alma pura, que não conheciam a malícia e a maldade.” / Os bons selvagens eram os nativos de alma pura que não conheciam a malícia e a maldade.


Acarretou mudança de sentido a reescrita do(s) trecho(s)

Alternativas
Ano: 2021 Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) Órgão: Prefeitura de Ubá - MG Provas: FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Assistente Social | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Bibliotecário | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Biólogo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Contador | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Enfermeiro 30h/40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Educador Físico 30h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Enfermeiro do Trabalho | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Agrônomo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Ambiental 30h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Civil | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Eletricista | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Farmacêutico 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Fisioterapeuta 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Médico Generalista 20h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Médico Auditor | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Fonoaudiólogo 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Psicólogo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Nutricionista 40h |
Q2420260 Português

INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder às questões de 1 a 10.


Coronavírus expõe a nossa desinformação sobre a China, o maior fenômeno econômico dos nossos tempos


Não é a primeira vez que a China passa por uma crise epidêmica. A história das doenças contagiosas que espalham medo é longa. Também é longa a história de como as autoridades chinesas, com seus erros e acertos, contornaram suas próprias crises, como no surto de cólera de 1949 e a varíola em 1950.


A mais recente e marcante epidemia foi a Síndrome Respiratória Aguda Severa, a Sars, na sigla em inglês. Como pontuaram os sinólogos Arthur Kleinman e James Watson, no livro “Sars in China: prelude to pandemic?”, a Sars em 2003 provocou uma das mais sérias crises de saúde de nossos tempos. Kleinman, que tem cinco décadas de experiência em intervenção em saúde pública na China, acredita que a epidemia foi uma espécie de prelúdio de novas catástrofes de saúde que viriam acontecer no século 21. Ainda que o número de mortes tenha sido de aproximadamente 1.000 pessoas — pequeno, comparado a outras epidemias —, a Sars mobilizou inseguranças, medos e preconceitos sobre o país. Os Estados Unidos não pouparam os boatos de que se estaria espalhando bioterror em seu território. O impacto sobre as vidas humanas na China e sobre a economia global foi tremendo, desvelando a fragilidade do mundo globalizado.


Passada a Sars, hoje a notícia do coronavírus se espalha por meio de uma onda de pânico moral que mistura fake news, desinformação, racismo e estereótipos tolos. Notícias falsas gravíssimas percorrem o WhatsApp. A mais debatida nas redes sociais foi a de que o vírus teria tido origem na sopa de morcegos, o que fez com que brasileiros — que vivem no país em que se come coração de galinha e tripa de boi — ficassem escandalizados. Um vídeo no Twitter mostrava uma cena grotesca de um jovem chinês comendo um pássaro vivo, como a prova cabal de que era por isso que o vírus se espalha.


Na apuração de informações para esta coluna, descobri, com a ajuda do professor David Nemer, da Universidade de Virgínia (EUA), que grupos no WhatsApp foram inundados de boatos, em forma de “breaking news”, que diziam que os chineses estavam morrendo caídos nas ruas, que pais abandonaram filhos no aeroporto ao saberem da contaminação e que 23 milhões de pessoas estavam em quarentena e 112 mil haviam morrido. Essa é a narrativa apocalíptica — ou a doutrina do choque, como diria a escritora Naomi Klein — sempre muito bem manipulada para fins políticos.


Tudo isso repete o antigo imaginário euro-estadunidense que procura associar a China à impureza simbólica e concreta. Há pelo menos 30 anos, a imprensa liberal ocidental, quando aborda a produção de manufaturas baratas, recorre sistematicamente à expressão “infestação” do mundo de mercadorias chinesas. Os chineses estão sempre contaminando o mundo de alguma forma.


Para contrabalançar os estereótipos negativos, vieram os estereótipos positivos. A grande notícia das redes sociais foi a de que “A China construirá um hospital em 10 dias” — manchete que circulou de forma padronizada em diversos veículos. A difusão dessa notícia veio dos órgãos oficiais da imprensa chinesa, numa tentativa de direcionar as narrativas internacionais sobre a epidemia e o país.


É evidente que a manchete do hospital tem uma intenção positiva, que é mostrar uma China dinâmica, com tecnologia de ponta e vontade governamental para resolver seus problemas internos. Mas não deixa de ser o estereótipo do outro extremo, que reatualiza o eterno retorno da mítica chinesa acerca de suas grandiosas construções.


Autores como historiador búlgaro Tzvetan Todorov e o antropólogo francês François Laplantine mostraram que a imagem do Brasil pelos missionários europeus no século 16 era ambivalente: entre o mau e o bom selvagem, paraíso ou inferno. Os maus selvagens eram os indígenas rudes, sem roupa, sem pelo, sem alma. Os bons selvagens eram os nativos de alma pura, que não conheciam a malícia e a maldade.


No caso dos morcegos e desinformação, vê-se um etnocentrismo cru que desumaniza o outro. No caso do hospital, cai-se em idealização também estereotipada.


É importante frisar que não estou fazendo uma crítica a quem compartilhou a notícia. Eu mesma compartilhei. A construção rápida de um hospital mostra pragmatismo diante da calamidade. Além disso, a notícia tem um papel político para se opor à fantasia acerca dos morcegos, que fixam os chineses em um lugar bárbaro e exótico.


O problema, portanto, não é nossa ação individual, mas precisamente o desalentadorfato de que, entre o morcego e o hospital, não sobra quase nada. Caímos sempre na armadilha do dualismo “tradição-modernidade”. Se a gente olha esse debate de longe, estruturalmente, o que concluímos é que não saímos do mesmo lugar de narrativas extremas e caricatas sobre o maior fenômeno econômico mundial dos nossos tempos. Sabemos muito pouco sobre o país mais populoso do mundo, com quase 1,4 bilhão de pessoas. [...]


MACHADO, Rosana. Disponível em: www.theintercept.

com/2020/01/28/coronavirus-desinformacao-china.

Acesso em: 27 out. 2021.

A palavra “coronavírus” é formada pelo processo de

Alternativas
Ano: 2021 Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) Órgão: Prefeitura de Ubá - MG Provas: FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Assistente Social | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Bibliotecário | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Biólogo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Contador | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Enfermeiro 30h/40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Educador Físico 30h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Enfermeiro do Trabalho | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Agrônomo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Ambiental 30h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Civil | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Engenheiro Eletricista | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Farmacêutico 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Fisioterapeuta 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Médico Generalista 20h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Médico Auditor | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Fonoaudiólogo 40h | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Psicólogo | FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2021 - Prefeitura de Ubá - MG - Nutricionista 40h |
Q2420262 Português

INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder às questões de 1 a 10.


Coronavírus expõe a nossa desinformação sobre a China, o maior fenômeno econômico dos nossos tempos


Não é a primeira vez que a China passa por uma crise epidêmica. A história das doenças contagiosas que espalham medo é longa. Também é longa a história de como as autoridades chinesas, com seus erros e acertos, contornaram suas próprias crises, como no surto de cólera de 1949 e a varíola em 1950.


A mais recente e marcante epidemia foi a Síndrome Respiratória Aguda Severa, a Sars, na sigla em inglês. Como pontuaram os sinólogos Arthur Kleinman e James Watson, no livro “Sars in China: prelude to pandemic?”, a Sars em 2003 provocou uma das mais sérias crises de saúde de nossos tempos. Kleinman, que tem cinco décadas de experiência em intervenção em saúde pública na China, acredita que a epidemia foi uma espécie de prelúdio de novas catástrofes de saúde que viriam acontecer no século 21. Ainda que o número de mortes tenha sido de aproximadamente 1.000 pessoas — pequeno, comparado a outras epidemias —, a Sars mobilizou inseguranças, medos e preconceitos sobre o país. Os Estados Unidos não pouparam os boatos de que se estaria espalhando bioterror em seu território. O impacto sobre as vidas humanas na China e sobre a economia global foi tremendo, desvelando a fragilidade do mundo globalizado.


Passada a Sars, hoje a notícia do coronavírus se espalha por meio de uma onda de pânico moral que mistura fake news, desinformação, racismo e estereótipos tolos. Notícias falsas gravíssimas percorrem o WhatsApp. A mais debatida nas redes sociais foi a de que o vírus teria tido origem na sopa de morcegos, o que fez com que brasileiros — que vivem no país em que se come coração de galinha e tripa de boi — ficassem escandalizados. Um vídeo no Twitter mostrava uma cena grotesca de um jovem chinês comendo um pássaro vivo, como a prova cabal de que era por isso que o vírus se espalha.


Na apuração de informações para esta coluna, descobri, com a ajuda do professor David Nemer, da Universidade de Virgínia (EUA), que grupos no WhatsApp foram inundados de boatos, em forma de “breaking news”, que diziam que os chineses estavam morrendo caídos nas ruas, que pais abandonaram filhos no aeroporto ao saberem da contaminação e que 23 milhões de pessoas estavam em quarentena e 112 mil haviam morrido. Essa é a narrativa apocalíptica — ou a doutrina do choque, como diria a escritora Naomi Klein — sempre muito bem manipulada para fins políticos.


Tudo isso repete o antigo imaginário euro-estadunidense que procura associar a China à impureza simbólica e concreta. Há pelo menos 30 anos, a imprensa liberal ocidental, quando aborda a produção de manufaturas baratas, recorre sistematicamente à expressão “infestação” do mundo de mercadorias chinesas. Os chineses estão sempre contaminando o mundo de alguma forma.


Para contrabalançar os estereótipos negativos, vieram os estereótipos positivos. A grande notícia das redes sociais foi a de que “A China construirá um hospital em 10 dias” — manchete que circulou de forma padronizada em diversos veículos. A difusão dessa notícia veio dos órgãos oficiais da imprensa chinesa, numa tentativa de direcionar as narrativas internacionais sobre a epidemia e o país.


É evidente que a manchete do hospital tem uma intenção positiva, que é mostrar uma China dinâmica, com tecnologia de ponta e vontade governamental para resolver seus problemas internos. Mas não deixa de ser o estereótipo do outro extremo, que reatualiza o eterno retorno da mítica chinesa acerca de suas grandiosas construções.


Autores como historiador búlgaro Tzvetan Todorov e o antropólogo francês François Laplantine mostraram que a imagem do Brasil pelos missionários europeus no século 16 era ambivalente: entre o mau e o bom selvagem, paraíso ou inferno. Os maus selvagens eram os indígenas rudes, sem roupa, sem pelo, sem alma. Os bons selvagens eram os nativos de alma pura, que não conheciam a malícia e a maldade.


No caso dos morcegos e desinformação, vê-se um etnocentrismo cru que desumaniza o outro. No caso do hospital, cai-se em idealização também estereotipada.


É importante frisar que não estou fazendo uma crítica a quem compartilhou a notícia. Eu mesma compartilhei. A construção rápida de um hospital mostra pragmatismo diante da calamidade. Além disso, a notícia tem um papel político para se opor à fantasia acerca dos morcegos, que fixam os chineses em um lugar bárbaro e exótico.


O problema, portanto, não é nossa ação individual, mas precisamente o desalentadorfato de que, entre o morcego e o hospital, não sobra quase nada. Caímos sempre na armadilha do dualismo “tradição-modernidade”. Se a gente olha esse debate de longe, estruturalmente, o que concluímos é que não saímos do mesmo lugar de narrativas extremas e caricatas sobre o maior fenômeno econômico mundial dos nossos tempos. Sabemos muito pouco sobre o país mais populoso do mundo, com quase 1,4 bilhão de pessoas. [...]


MACHADO, Rosana. Disponível em: www.theintercept.

com/2020/01/28/coronavirus-desinformacao-china.

Acesso em: 27 out. 2021.

Assinale a alternativa em que a palavra destacada é uma conjunção subordinativa conformativa.

Alternativas
Respostas
1: A
2: B
3: B
4: B
5: A
6: C
7: B
8: D
9: D
10: C