Texto para a questão:
O homem que se endereçou
Apanhou o envelope e na sua letra cuidadosa subscritou a si mesmo:
Narciso, rua Treze, nº 21.
Passou cola nas bordas do papel, mergulhou no envelope e fechou-se. Horas mais tarde
a empregada colocou-o no correio. Um dia depois sentiu-se na mala do carteiro. Diante
de uma casa, percebeu que o funcionário tinha parado indeciso, consultara o envelope e
prosseguira. Voltou ao DCT, foi colocado numa prateleira. Dias depois, um novo
carteiro procurou seu endereço. Não achou, devia ter saído algo errado. A carta voltou à
prateleira, no meio de muitas outras, amareladas, empoeiradas. Sentiu, então, com
terror, que a carta se extraviara. E Narciso nunca mais encontrou a si mesmo.
BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Cadeiras proibidas. São Paulo: Global, 2003.