Um homem de 63 anos de idade é um paciente antigo da ala
psiquiátrica de um tradicional instituto de saúde mental da
sua região. Está institucionalizado há 36 anos, tendo perdido
seus vínculos familiares e comunitários originais. É
conhecido por ser inteligente e articulado, mas também
agitado e com pensamentos de onipotência, como nas
diversas situações em que afirma ser “irmão de Deus”,
enviado para libertar a humanidade do satanismo.
Frequentemente, o paciente fica sentado em uma cadeira no
pátio da instituição, de forma que é possível perceber a boca
dele se contraindo, bem como a respectiva cabeça que,
constantemente, se contrai para o lado esquerdo, de maneira
involuntária. O paciente passa boa parte do dia sentado nessa
cadeira, quase imóvel, com olhar vago em uma única
direção. No horário do almoço, cotidianamente, algum
enfermeiro se aproxima do paciente e o convida para
almoçar, ao que ele responde, prontamente, caminhando em
direção ao refeitório. Costuma iniciar a refeição usando as
mãos para levar o alimento até a boca, mas, sempre que é
repreendido por algum cuidador, passa a utilizar os talheres
disponíveis. A equipe relata que o paciente realiza as
próprias atividades fisiológicas de maneira independente,
mas que necessita, continuamente, de ser lembrado pela
equipe de ir ao banheiro, beber água etc. Regularmente, a
instituição que acolhe o paciente recebe visitas de estudantes
de psicologia e de psiquiatria, e ele sempre é entrevistado por
tais estudantes. Relata, nessas ocasiões, o respectivo grau de
parentesco com Deus e adentra um diálogo acerca de sua
missão divina, mas, sempre que indagado quanto a pontos da
própria história, age como se tivesse se esquecido do que
estava falando, afirmando sempre “não sei, não lembro”. A
rotina desse paciente tem sido essa, com pouquíssimas
mudanças ao longo dos últimos 36 anos.