Medo é coisa boa
Paulo Pestana
Crônica
Os criadores da inteligência artificial e alguns dos
maiores cientistas do mundo dizem que o negócio é
perigoso. E pedem para parar. Que se suspenda o curso da
ciência por seis meses. Justo quando um estudo da
Universidade da Califórnia mostra que o ChatGPT dá
respostas melhores a consultas médicas do que os
doutores.
É bom ver esses ousados e intimoratos senhores
com medo e com pudores que Oppenheimer – um dos
criadores da bomba atômica – não teve, alegando que a
ideia era “tecnicamente boa”.
Isso evita até desfechos trágicos como o suicídio
de Santos Dumont, causado, dizem, por uma depressão
profunda iniciada quando ele viu aviões sendo usados
como armas na primeira grande guerra. Ele se sentia
culpado pela atuação de homens como o alemão Manfred
von Richthofen, o Barão Vermelho, que teria abatido 80
inimigos no ar.
Ao contrário do que muita gente pensa, medo é
uma coisa boa. Impõe limites, sinaliza respeito – é o que
nos impede de, por exemplo, enfiar a cabeça na boca de
um leão (ainda que haja quem ganhe a vida fazendo isso
ou coisa pior). Mas o medo não pode ser paralisante e por
isso não faz nenhum sentido tentar para o mundo ou o
avanço da ciência. Ou não?
Os livros de Isaac Asimov definiram as leis da
robótica; a mais importante delas é a primeira: um robô
não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que
um ser humano sofra algum mal. Pelo jeito, e pelo que diz
Geoffrey Hinton, um bambambã do assunto e que ajudou
a desenvolver a ideia, a inteligência artificial pode ser
usada para “coisas ruins”.
Como tudo, poderíamos dizer. Como os aviões.
Já se sabe que a IA já é capaz de criar algoritmos e
novos softwares. Mas qual o perigo disso?
Na dúvida, perguntei ao ChatGPT que mesmo sem
ser essa inteligência toda – os cientistas acham que ainda é
um embrião – respondeu:
“Essa é uma questão controversa e debatida por
diversos especialistas no campo da inteligência artificial. A
maioria dos especialistas concorda que a inteligência
artificial tem o potencial de superar a capacidade humana
em tarefas específicas. Por exemplo, algumas tecnologias
de IA já superam os humanos em jogos de estratégia,
reconhecimento de padrões e processamento de grande
quantidade de dados”.
E continuou: “No entanto, alguns especialistas
acreditam que a IA não será capaz de superar
completamente a inteligência humana em todas as áreas,
especialmente naquelas que requerem habilidades sociais
e emocionais. Além disso, a maioria concorda que a IA não
pode representar uma ameaça aos humanos, a menos que
seja programada com intenções maliciosas”.
E ainda esticou o assunto: “No geral, o
desenvolvimento da IA e seus efeitos na sociedade é um
tema complexo que deve ser cuidadosamente considerado
em termos de ética e responsabilidade. É importante
garantir que a tecnologia seja usada de maneira segura e
benéfica para a humanidade”.
Minha conclusão é que precisamos nos preocupar
mesmo, porque a inteligência artificial está chegando lá; já
aprendeu a enrolar, igual a uns políticos espertinhos.
PESTANA, Paulo. Medo é coisa boa. Correio Braziliense, 17 de maio de
2023. Disponível em: https://blogs.correiobraziliense.com.br/paulopestana/medo-e-coisaboa/. Acesso em: 22 jun. 2023. Adaptado.