Sindicatos e o fim da escala 6×1
Felipe Silva | Dirigente do Sindicato dos Vigilantes
do RJ e membro do Movimento Luta de Classes
12 de novembro de 2024
OPINIÃO – O futuro da política no Brasil está
intrinsecamente ligado às pautas trabalhistas, e
entre as mais urgentes está o fim da escala 6×1.
Historicamente, o movimento sindical tem sido
protagonista nas maiores conquistas da classe
trabalhadora, especialmente nas lutas pela redução
da carga horária. Desde as greves de 1917 até a
implementação da CLT em 1943 e a conquista da
jornada de 44 horas semanais na Constituição de
1988, foram as mobilizações sindicais que abriram
caminho para cada um desses avanços.
Ignorar o trabalhador é fechar os olhos para a
realidade do país. Hoje, a prioridade das centrais
sindicais e dos movimentos sociais deve ser o
trabalhador, que enfrenta constantes ataques aos
seus direitos – intensificados com a Reforma
Trabalhista. Ainda que os sindicatos tenham sido
fundamentais para os direitos da classe, o cenário
atual é de desafios, agravado pela queda no
número de associados e pelo enfraquecimento do
movimento sindical, influenciado por campanhas
antissindicais fomentadas pela grande mídia,
empresários e políticos da extrema-direita. A
resposta não pode ser paralisia; é hora de se
mobilizar, de “voltar para a base” e fazer muito com
poucos recursos.
Um sinal claro dos anseios da classe trabalhadora
foi a eleição de Rick Azevedo, idealizador do
movimento VAT, para a Câmara Municipal do Rio
de Janeiro. Sua eleição representa um verdadeiro
grito de socorro dos trabalhadores cariocas. Apesar
de o tema da escala 6×1 não ser competência
direta da câmara, Rick, que até pouco tempo era
visto como “um maluco que só falava da escala
6×1”, conquistou a confiança e o voto dos
trabalhadores. Ele representa a visibilidade que
essa pauta precisa – algo que tantas candidaturas
voltadas para a defesa da classe trabalhadora pelo
Brasil não conseguiram fazer. Sua eleição mostra a
urgência de colocar as lutas da base no centro da
agenda sindical.
Chega de governismo e de uma falsa esperança de
governo popular. É preciso conquistar os direitos
dos trabalhadores com luta, não com discursos vazios. O sindicalismo não pode mais ser símbolo
de acomodação.
É preciso reconhecer as perdas, mas também se
comprometer a reconquistar a confiança do
trabalhador. Isso exige um resgate do sindicalismo
raiz, com foco nas pautas que realmente impactam
o dia a dia da classe trabalhadora.
Desde o início da campanha pelo fim da escala
6×1, houve o apoio de alguns sindicatos,
principalmente o Sindicato dos Comerciários do Rio
de Janeiro, um dos principais a combater
historicamente a jornada de trabalho excessiva, e
dezenas de sindicalistas envolvidos, como eu, que
fiz parte da coordenação nacional do VAT e atuo no
sindicato dos vigilantes do município do Rio de
janeiro, que, mesmo diante de desafios impostos
pela Reforma Trabalhista, ainda lutam para
defender os direitos de seus trabalhadores e tem
como umas das maiorias conquistas o adicional de
periculosidade e aposentadoria especial, vitórias
relevantes, mas que requer um esforço contínuo
para ser garantida em um cenário de crescentes
ataques.
Mas é preciso mais. É necessário um envolvimento
em massa das centrais sindicais.
Agora, mais do que nunca, é essencial ter coragem
para que a base também tenha – e para que os
trabalhadores voltem a acreditar no poder de
transformação da luta sindical.
(https://averdade.org.br/2024/11/opiniao-sin
dicatos-e-o-fim-da-escala-6x1/)