“[...] Antes de atravessar o Mar Vermelho,
livrando seu povo do cativeiro do Egito, Moisés
decidiu ouvir os marqueteiros de seu tempo, gente
entendida na política neoliberal de resultados. Juntou
os melhores profissionais da classe, que já naquele
tempo achava que política é promoção. Disse que
precisava atravessar o mar Vermelho e iria, à frente
de seu povo, construir uma enorme ponte que ligasse
as duas margens.
Os entendidos fizeram cara feia. Nada de ponte,
não haveria a tal criatividade (...) Moisés concordou.
Além de rotineira, a ideia da ponte era cara e
demorada. Mas tinha uma alternativa; construir
barcos que o levariam o seu povo à Terra prometida.
Mais uma vez o pessoal do marketing torceu a
cara. Barcos era pior do que ponte, coisa velha. Além
de não ser uma ideia criativa, era solução pouco
moderna, desde os fenícios que os barcos eram
veículos superados.
Moisés ia perdendo a paciência e perdeu
mesmo. Deu um murro na mesa e perguntou: ‘Afinal,
o que vocês querem que eu faça? Que eu mande as
águas se separarem, formarem muralhas líquidas e
fazer meu povo atravessar a pé enxuto o mar
Vermelho?’
O pessoal delirou. O mais categorizado dos
marqueteiros, considerado o gênio da classe,
exultou: ‘Isso, Moisés! Isso, sim, é uma solução
criativa! Vai ser um estouro! Se você faz o seu
pessoal atravessar a pé enxuto o mar Vermelho, eu
lhe garanto duas páginas na Bíblia!’ [...]”