Questões de Concurso Público RECIPREV - PE 2024 para Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Informática
Foram encontradas 9 questões
Ano: 2024
Banca:
IBFC
Órgão:
RECIPREV - PE
Provas:
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Administrativa
|
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Informática |
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Contabilidade |
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Ciência Atuarial |
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IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Arquivologia |
Q2381988
Português
Texto associado
Texto
Sonhos, estranhos sonhos
Apesar de ser corajoso vivendo na comunidade,
quando eu chegava à cidade me tornava um
covarde. Ali era tudo muito estranho para mim.
Havia coisas que eu não compreendia de jeito
nenhum. Coisas do tipo: disputar pelo primeiro
lugar, seja no estudo, seja no esporte; meninos
valentões; mães que agrediam os filhos; escola
que castigava quem não obedecia às regras,
entre outras coisas. Naquela ocasião, eu não
podia ter a presença constante dos meus pais
junto de mim, porque era a política da época que
o Estado brasileiro tomasse conta de seus
“índios”. Isso consistia, entre outras coisas, em
manter os pais longe da escola. Hoje sei que
aquilo servia para nos isolar dos que falavam a
mesma língua e nos obrigar a falar e aprender
somente em português.
Eu ficava muito triste e solitário na escola. Não
tinha amigos da mesma comunidade para
conversar, não tinha muito o que fazer com
aquilo que eu sabia da aldeia e não podia criar
muitas coisas porque o meu tempo era bem
regrado pelos muitos afazeres escolares. E,
claro, tinha também meus colegas, que nunca
me deixavam em paz. O tempo todo estavam
tirando sarro da minha cara. Bastava me verem
e logo já vinha aquela enxurrada de impropérios
contra mim. Parece que eles queriam mesmo
que eu nunca esquecesse quem eu era e de
onde eu vinha. Era o tempo todo me chamando
de índio, selvagem, atrasado, sujo, fedorento...
Eu, covarde que era, baixava minha cabeça e
chorava baixinho.
Eu sempre tive, por conta disso, acho, uns
sonhos bem estranhos. Neles quase sempre eu
me encontrava sozinho numa grande cidade,
perdido e chorando. Algumas vezes, sonhei que
estava ensanguentado. O sangue escorria em
meu rosto e descia até meus pés, mas eu não
sabia de onde vinha, porque não estava ferido.
Sonhava que estava dentro de um buraco
apenas com a cabeça de fora e que meus
colegas ficavam atirando palavras em cima de
mim. Eram palavras mesmo. Não palavras da
boca, mas objetos que eram palavras. Essas
palavras que tanto me assombravam. [...]
(MUNDUKURU, Daniel. Memórias de índio: uma quase
autobiografia. Porto Alegre: Edelbra, 2016, p. 65-66)
De acordo com o texto, segundo a percepção do
enunciador, a estranheza dos seus sonhos:
Ano: 2024
Banca:
IBFC
Órgão:
RECIPREV - PE
Provas:
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Administrativa
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Q2381989
Português
Texto associado
Texto
Sonhos, estranhos sonhos
Apesar de ser corajoso vivendo na comunidade,
quando eu chegava à cidade me tornava um
covarde. Ali era tudo muito estranho para mim.
Havia coisas que eu não compreendia de jeito
nenhum. Coisas do tipo: disputar pelo primeiro
lugar, seja no estudo, seja no esporte; meninos
valentões; mães que agrediam os filhos; escola
que castigava quem não obedecia às regras,
entre outras coisas. Naquela ocasião, eu não
podia ter a presença constante dos meus pais
junto de mim, porque era a política da época que
o Estado brasileiro tomasse conta de seus
“índios”. Isso consistia, entre outras coisas, em
manter os pais longe da escola. Hoje sei que
aquilo servia para nos isolar dos que falavam a
mesma língua e nos obrigar a falar e aprender
somente em português.
Eu ficava muito triste e solitário na escola. Não
tinha amigos da mesma comunidade para
conversar, não tinha muito o que fazer com
aquilo que eu sabia da aldeia e não podia criar
muitas coisas porque o meu tempo era bem
regrado pelos muitos afazeres escolares. E,
claro, tinha também meus colegas, que nunca
me deixavam em paz. O tempo todo estavam
tirando sarro da minha cara. Bastava me verem
e logo já vinha aquela enxurrada de impropérios
contra mim. Parece que eles queriam mesmo
que eu nunca esquecesse quem eu era e de
onde eu vinha. Era o tempo todo me chamando
de índio, selvagem, atrasado, sujo, fedorento...
Eu, covarde que era, baixava minha cabeça e
chorava baixinho.
Eu sempre tive, por conta disso, acho, uns
sonhos bem estranhos. Neles quase sempre eu
me encontrava sozinho numa grande cidade,
perdido e chorando. Algumas vezes, sonhei que
estava ensanguentado. O sangue escorria em
meu rosto e descia até meus pés, mas eu não
sabia de onde vinha, porque não estava ferido.
Sonhava que estava dentro de um buraco
apenas com a cabeça de fora e que meus
colegas ficavam atirando palavras em cima de
mim. Eram palavras mesmo. Não palavras da
boca, mas objetos que eram palavras. Essas
palavras que tanto me assombravam. [...]
(MUNDUKURU, Daniel. Memórias de índio: uma quase
autobiografia. Porto Alegre: Edelbra, 2016, p. 65-66)
Considere o seguinte fragmento do segundo
parágrafo.
“Eu ficava muito triste e solitário na escola. Não tinha amigos da mesma comunidade para conversar, não tinha muito o que fazer com aquilo que eu sabia da aldeia e não podia criar muitas coisas”
Quanto à tipologia, é correto afirmar que, nele predomina a:
“Eu ficava muito triste e solitário na escola. Não tinha amigos da mesma comunidade para conversar, não tinha muito o que fazer com aquilo que eu sabia da aldeia e não podia criar muitas coisas”
Quanto à tipologia, é correto afirmar que, nele predomina a:
Ano: 2024
Banca:
IBFC
Órgão:
RECIPREV - PE
Provas:
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Administrativa
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Q2381990
Português
Texto associado
Texto
Sonhos, estranhos sonhos
Apesar de ser corajoso vivendo na comunidade,
quando eu chegava à cidade me tornava um
covarde. Ali era tudo muito estranho para mim.
Havia coisas que eu não compreendia de jeito
nenhum. Coisas do tipo: disputar pelo primeiro
lugar, seja no estudo, seja no esporte; meninos
valentões; mães que agrediam os filhos; escola
que castigava quem não obedecia às regras,
entre outras coisas. Naquela ocasião, eu não
podia ter a presença constante dos meus pais
junto de mim, porque era a política da época que
o Estado brasileiro tomasse conta de seus
“índios”. Isso consistia, entre outras coisas, em
manter os pais longe da escola. Hoje sei que
aquilo servia para nos isolar dos que falavam a
mesma língua e nos obrigar a falar e aprender
somente em português.
Eu ficava muito triste e solitário na escola. Não
tinha amigos da mesma comunidade para
conversar, não tinha muito o que fazer com
aquilo que eu sabia da aldeia e não podia criar
muitas coisas porque o meu tempo era bem
regrado pelos muitos afazeres escolares. E,
claro, tinha também meus colegas, que nunca
me deixavam em paz. O tempo todo estavam
tirando sarro da minha cara. Bastava me verem
e logo já vinha aquela enxurrada de impropérios
contra mim. Parece que eles queriam mesmo
que eu nunca esquecesse quem eu era e de
onde eu vinha. Era o tempo todo me chamando
de índio, selvagem, atrasado, sujo, fedorento...
Eu, covarde que era, baixava minha cabeça e
chorava baixinho.
Eu sempre tive, por conta disso, acho, uns
sonhos bem estranhos. Neles quase sempre eu
me encontrava sozinho numa grande cidade,
perdido e chorando. Algumas vezes, sonhei que
estava ensanguentado. O sangue escorria em
meu rosto e descia até meus pés, mas eu não
sabia de onde vinha, porque não estava ferido.
Sonhava que estava dentro de um buraco
apenas com a cabeça de fora e que meus
colegas ficavam atirando palavras em cima de
mim. Eram palavras mesmo. Não palavras da
boca, mas objetos que eram palavras. Essas
palavras que tanto me assombravam. [...]
(MUNDUKURU, Daniel. Memórias de índio: uma quase
autobiografia. Porto Alegre: Edelbra, 2016, p. 65-66)
A expressão empregada para iniciar o texto
possui um valor semântico:
Ano: 2024
Banca:
IBFC
Órgão:
RECIPREV - PE
Provas:
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Administrativa
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Q2381991
Português
Texto associado
Texto
Sonhos, estranhos sonhos
Apesar de ser corajoso vivendo na comunidade,
quando eu chegava à cidade me tornava um
covarde. Ali era tudo muito estranho para mim.
Havia coisas que eu não compreendia de jeito
nenhum. Coisas do tipo: disputar pelo primeiro
lugar, seja no estudo, seja no esporte; meninos
valentões; mães que agrediam os filhos; escola
que castigava quem não obedecia às regras,
entre outras coisas. Naquela ocasião, eu não
podia ter a presença constante dos meus pais
junto de mim, porque era a política da época que
o Estado brasileiro tomasse conta de seus
“índios”. Isso consistia, entre outras coisas, em
manter os pais longe da escola. Hoje sei que
aquilo servia para nos isolar dos que falavam a
mesma língua e nos obrigar a falar e aprender
somente em português.
Eu ficava muito triste e solitário na escola. Não
tinha amigos da mesma comunidade para
conversar, não tinha muito o que fazer com
aquilo que eu sabia da aldeia e não podia criar
muitas coisas porque o meu tempo era bem
regrado pelos muitos afazeres escolares. E,
claro, tinha também meus colegas, que nunca
me deixavam em paz. O tempo todo estavam
tirando sarro da minha cara. Bastava me verem
e logo já vinha aquela enxurrada de impropérios
contra mim. Parece que eles queriam mesmo
que eu nunca esquecesse quem eu era e de
onde eu vinha. Era o tempo todo me chamando
de índio, selvagem, atrasado, sujo, fedorento...
Eu, covarde que era, baixava minha cabeça e
chorava baixinho.
Eu sempre tive, por conta disso, acho, uns
sonhos bem estranhos. Neles quase sempre eu
me encontrava sozinho numa grande cidade,
perdido e chorando. Algumas vezes, sonhei que
estava ensanguentado. O sangue escorria em
meu rosto e descia até meus pés, mas eu não
sabia de onde vinha, porque não estava ferido.
Sonhava que estava dentro de um buraco
apenas com a cabeça de fora e que meus
colegas ficavam atirando palavras em cima de
mim. Eram palavras mesmo. Não palavras da
boca, mas objetos que eram palavras. Essas
palavras que tanto me assombravam. [...]
(MUNDUKURU, Daniel. Memórias de índio: uma quase
autobiografia. Porto Alegre: Edelbra, 2016, p. 65-66)
Em “Havia coisas que eu não compreendia de
jeito nenhum.” (1º§), a expressão destacada
cumpre um papel enfático e possui, no
enunciado, caráter:
Ano: 2024
Banca:
IBFC
Órgão:
RECIPREV - PE
Provas:
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Q2381992
Português
Texto associado
Texto
Sonhos, estranhos sonhos
Apesar de ser corajoso vivendo na comunidade,
quando eu chegava à cidade me tornava um
covarde. Ali era tudo muito estranho para mim.
Havia coisas que eu não compreendia de jeito
nenhum. Coisas do tipo: disputar pelo primeiro
lugar, seja no estudo, seja no esporte; meninos
valentões; mães que agrediam os filhos; escola
que castigava quem não obedecia às regras,
entre outras coisas. Naquela ocasião, eu não
podia ter a presença constante dos meus pais
junto de mim, porque era a política da época que
o Estado brasileiro tomasse conta de seus
“índios”. Isso consistia, entre outras coisas, em
manter os pais longe da escola. Hoje sei que
aquilo servia para nos isolar dos que falavam a
mesma língua e nos obrigar a falar e aprender
somente em português.
Eu ficava muito triste e solitário na escola. Não
tinha amigos da mesma comunidade para
conversar, não tinha muito o que fazer com
aquilo que eu sabia da aldeia e não podia criar
muitas coisas porque o meu tempo era bem
regrado pelos muitos afazeres escolares. E,
claro, tinha também meus colegas, que nunca
me deixavam em paz. O tempo todo estavam
tirando sarro da minha cara. Bastava me verem
e logo já vinha aquela enxurrada de impropérios
contra mim. Parece que eles queriam mesmo
que eu nunca esquecesse quem eu era e de
onde eu vinha. Era o tempo todo me chamando
de índio, selvagem, atrasado, sujo, fedorento...
Eu, covarde que era, baixava minha cabeça e
chorava baixinho.
Eu sempre tive, por conta disso, acho, uns
sonhos bem estranhos. Neles quase sempre eu
me encontrava sozinho numa grande cidade,
perdido e chorando. Algumas vezes, sonhei que
estava ensanguentado. O sangue escorria em
meu rosto e descia até meus pés, mas eu não
sabia de onde vinha, porque não estava ferido.
Sonhava que estava dentro de um buraco
apenas com a cabeça de fora e que meus
colegas ficavam atirando palavras em cima de
mim. Eram palavras mesmo. Não palavras da
boca, mas objetos que eram palavras. Essas
palavras que tanto me assombravam. [...]
(MUNDUKURU, Daniel. Memórias de índio: uma quase
autobiografia. Porto Alegre: Edelbra, 2016, p. 65-66)
Na passagem, “aquela enxurrada de
impropérios contra mim” (2º§), o único
vocábulo que não corresponde a um sinônimo
para o substantivo destacado é:
Ano: 2024
Banca:
IBFC
Órgão:
RECIPREV - PE
Provas:
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IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Contabilidade |
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Ciência Atuarial |
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IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Arquivologia |
Q2381993
Português
Texto associado
Texto
Sonhos, estranhos sonhos
Apesar de ser corajoso vivendo na comunidade,
quando eu chegava à cidade me tornava um
covarde. Ali era tudo muito estranho para mim.
Havia coisas que eu não compreendia de jeito
nenhum. Coisas do tipo: disputar pelo primeiro
lugar, seja no estudo, seja no esporte; meninos
valentões; mães que agrediam os filhos; escola
que castigava quem não obedecia às regras,
entre outras coisas. Naquela ocasião, eu não
podia ter a presença constante dos meus pais
junto de mim, porque era a política da época que
o Estado brasileiro tomasse conta de seus
“índios”. Isso consistia, entre outras coisas, em
manter os pais longe da escola. Hoje sei que
aquilo servia para nos isolar dos que falavam a
mesma língua e nos obrigar a falar e aprender
somente em português.
Eu ficava muito triste e solitário na escola. Não
tinha amigos da mesma comunidade para
conversar, não tinha muito o que fazer com
aquilo que eu sabia da aldeia e não podia criar
muitas coisas porque o meu tempo era bem
regrado pelos muitos afazeres escolares. E,
claro, tinha também meus colegas, que nunca
me deixavam em paz. O tempo todo estavam
tirando sarro da minha cara. Bastava me verem
e logo já vinha aquela enxurrada de impropérios
contra mim. Parece que eles queriam mesmo
que eu nunca esquecesse quem eu era e de
onde eu vinha. Era o tempo todo me chamando
de índio, selvagem, atrasado, sujo, fedorento...
Eu, covarde que era, baixava minha cabeça e
chorava baixinho.
Eu sempre tive, por conta disso, acho, uns
sonhos bem estranhos. Neles quase sempre eu
me encontrava sozinho numa grande cidade,
perdido e chorando. Algumas vezes, sonhei que
estava ensanguentado. O sangue escorria em
meu rosto e descia até meus pés, mas eu não
sabia de onde vinha, porque não estava ferido.
Sonhava que estava dentro de um buraco
apenas com a cabeça de fora e que meus
colegas ficavam atirando palavras em cima de
mim. Eram palavras mesmo. Não palavras da
boca, mas objetos que eram palavras. Essas
palavras que tanto me assombravam. [...]
(MUNDUKURU, Daniel. Memórias de índio: uma quase
autobiografia. Porto Alegre: Edelbra, 2016, p. 65-66)
O emprego recorrente de pronomes de primeira
pessoa do singular confere o seguinte efeito ao
texto:
Ano: 2024
Banca:
IBFC
Órgão:
RECIPREV - PE
Provas:
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Administrativa
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Q2381994
Português
Texto associado
Texto
Sonhos, estranhos sonhos
Apesar de ser corajoso vivendo na comunidade,
quando eu chegava à cidade me tornava um
covarde. Ali era tudo muito estranho para mim.
Havia coisas que eu não compreendia de jeito
nenhum. Coisas do tipo: disputar pelo primeiro
lugar, seja no estudo, seja no esporte; meninos
valentões; mães que agrediam os filhos; escola
que castigava quem não obedecia às regras,
entre outras coisas. Naquela ocasião, eu não
podia ter a presença constante dos meus pais
junto de mim, porque era a política da época que
o Estado brasileiro tomasse conta de seus
“índios”. Isso consistia, entre outras coisas, em
manter os pais longe da escola. Hoje sei que
aquilo servia para nos isolar dos que falavam a
mesma língua e nos obrigar a falar e aprender
somente em português.
Eu ficava muito triste e solitário na escola. Não
tinha amigos da mesma comunidade para
conversar, não tinha muito o que fazer com
aquilo que eu sabia da aldeia e não podia criar
muitas coisas porque o meu tempo era bem
regrado pelos muitos afazeres escolares. E,
claro, tinha também meus colegas, que nunca
me deixavam em paz. O tempo todo estavam
tirando sarro da minha cara. Bastava me verem
e logo já vinha aquela enxurrada de impropérios
contra mim. Parece que eles queriam mesmo
que eu nunca esquecesse quem eu era e de
onde eu vinha. Era o tempo todo me chamando
de índio, selvagem, atrasado, sujo, fedorento...
Eu, covarde que era, baixava minha cabeça e
chorava baixinho.
Eu sempre tive, por conta disso, acho, uns
sonhos bem estranhos. Neles quase sempre eu
me encontrava sozinho numa grande cidade,
perdido e chorando. Algumas vezes, sonhei que
estava ensanguentado. O sangue escorria em
meu rosto e descia até meus pés, mas eu não
sabia de onde vinha, porque não estava ferido.
Sonhava que estava dentro de um buraco
apenas com a cabeça de fora e que meus
colegas ficavam atirando palavras em cima de
mim. Eram palavras mesmo. Não palavras da
boca, mas objetos que eram palavras. Essas
palavras que tanto me assombravam. [...]
(MUNDUKURU, Daniel. Memórias de índio: uma quase
autobiografia. Porto Alegre: Edelbra, 2016, p. 65-66)
De acordo com a Gramática Normativa, em
“Isso consistia, entre outras coisas, em manter
os pais longe da escola.” (1º§), tem-se, como
exigência da regência do verbo destacado:
Ano: 2024
Banca:
IBFC
Órgão:
RECIPREV - PE
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IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Arquivologia |
Q2381995
Português
Texto associado
Texto
Sonhos, estranhos sonhos
Apesar de ser corajoso vivendo na comunidade,
quando eu chegava à cidade me tornava um
covarde. Ali era tudo muito estranho para mim.
Havia coisas que eu não compreendia de jeito
nenhum. Coisas do tipo: disputar pelo primeiro
lugar, seja no estudo, seja no esporte; meninos
valentões; mães que agrediam os filhos; escola
que castigava quem não obedecia às regras,
entre outras coisas. Naquela ocasião, eu não
podia ter a presença constante dos meus pais
junto de mim, porque era a política da época que
o Estado brasileiro tomasse conta de seus
“índios”. Isso consistia, entre outras coisas, em
manter os pais longe da escola. Hoje sei que
aquilo servia para nos isolar dos que falavam a
mesma língua e nos obrigar a falar e aprender
somente em português.
Eu ficava muito triste e solitário na escola. Não
tinha amigos da mesma comunidade para
conversar, não tinha muito o que fazer com
aquilo que eu sabia da aldeia e não podia criar
muitas coisas porque o meu tempo era bem
regrado pelos muitos afazeres escolares. E,
claro, tinha também meus colegas, que nunca
me deixavam em paz. O tempo todo estavam
tirando sarro da minha cara. Bastava me verem
e logo já vinha aquela enxurrada de impropérios
contra mim. Parece que eles queriam mesmo
que eu nunca esquecesse quem eu era e de
onde eu vinha. Era o tempo todo me chamando
de índio, selvagem, atrasado, sujo, fedorento...
Eu, covarde que era, baixava minha cabeça e
chorava baixinho.
Eu sempre tive, por conta disso, acho, uns
sonhos bem estranhos. Neles quase sempre eu
me encontrava sozinho numa grande cidade,
perdido e chorando. Algumas vezes, sonhei que
estava ensanguentado. O sangue escorria em
meu rosto e descia até meus pés, mas eu não
sabia de onde vinha, porque não estava ferido.
Sonhava que estava dentro de um buraco
apenas com a cabeça de fora e que meus
colegas ficavam atirando palavras em cima de
mim. Eram palavras mesmo. Não palavras da
boca, mas objetos que eram palavras. Essas
palavras que tanto me assombravam. [...]
(MUNDUKURU, Daniel. Memórias de índio: uma quase
autobiografia. Porto Alegre: Edelbra, 2016, p. 65-66)
No período “Eu, covarde que era, baixava minha
cabeça e chorava baixinho” (2º§), as vírgulas
foram empregadas para:
Ano: 2024
Banca:
IBFC
Órgão:
RECIPREV - PE
Provas:
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Administrativa
|
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Informática |
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Contabilidade |
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Ciência Atuarial |
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Assistência Social |
IBFC - 2024 - RECIPREV - PE - Analista de Previdência e Assistência à Saúde - Arquivologia |
Q2381996
Português
Texto associado
Texto
Sonhos, estranhos sonhos
Apesar de ser corajoso vivendo na comunidade,
quando eu chegava à cidade me tornava um
covarde. Ali era tudo muito estranho para mim.
Havia coisas que eu não compreendia de jeito
nenhum. Coisas do tipo: disputar pelo primeiro
lugar, seja no estudo, seja no esporte; meninos
valentões; mães que agrediam os filhos; escola
que castigava quem não obedecia às regras,
entre outras coisas. Naquela ocasião, eu não
podia ter a presença constante dos meus pais
junto de mim, porque era a política da época que
o Estado brasileiro tomasse conta de seus
“índios”. Isso consistia, entre outras coisas, em
manter os pais longe da escola. Hoje sei que
aquilo servia para nos isolar dos que falavam a
mesma língua e nos obrigar a falar e aprender
somente em português.
Eu ficava muito triste e solitário na escola. Não
tinha amigos da mesma comunidade para
conversar, não tinha muito o que fazer com
aquilo que eu sabia da aldeia e não podia criar
muitas coisas porque o meu tempo era bem
regrado pelos muitos afazeres escolares. E,
claro, tinha também meus colegas, que nunca
me deixavam em paz. O tempo todo estavam
tirando sarro da minha cara. Bastava me verem
e logo já vinha aquela enxurrada de impropérios
contra mim. Parece que eles queriam mesmo
que eu nunca esquecesse quem eu era e de
onde eu vinha. Era o tempo todo me chamando
de índio, selvagem, atrasado, sujo, fedorento...
Eu, covarde que era, baixava minha cabeça e
chorava baixinho.
Eu sempre tive, por conta disso, acho, uns
sonhos bem estranhos. Neles quase sempre eu
me encontrava sozinho numa grande cidade,
perdido e chorando. Algumas vezes, sonhei que
estava ensanguentado. O sangue escorria em
meu rosto e descia até meus pés, mas eu não
sabia de onde vinha, porque não estava ferido.
Sonhava que estava dentro de um buraco
apenas com a cabeça de fora e que meus
colegas ficavam atirando palavras em cima de
mim. Eram palavras mesmo. Não palavras da
boca, mas objetos que eram palavras. Essas
palavras que tanto me assombravam. [...]
(MUNDUKURU, Daniel. Memórias de índio: uma quase
autobiografia. Porto Alegre: Edelbra, 2016, p. 65-66)
No final do texto, ao negar que fosse “palavras
da boca”, o enunciador pretende: