Texto I
O que é o “caxangá”, que os escravos de Jó
jogavam?
(Artur Louback)
Caxangá tem vários significados, mas nada de
jogo. Pode ser um crustáceo (parecido com um
siri), um chapéu usado por marinheiros, e há até
uma definição indígena: segundo o Dicionário
Tupi-Guarani-Português, de Francisco da Silveira
Bueno, caxangá vem de caáçangá, que significa
“mata extensa”. Mas nada disso tem a ver com o
jogo e menos ainda com Jó, o personagem bíblico
que perdeu tudo o que tinha (inclusive os
escravos), menos a fé. Isso deixa os especialistas
intrigados. “Já procurei caxangá, caxengá e
caxingá, com “x” e “ch”, e não encontrei nada que
fizesse sentido como um jogo”, diz o etimologista
Claudio Moreno. “Se esse jogo existisse, seria
quase impossível explicar como ele passou
despercebido por todos os antropólogos e
etnólogos que estudam nossas tradições
populares”. O que pode ter ocorrido é uma espécie
de “telefone sem fio”: se originalmente o verso
fosse “juntavam caxangá” ao invés de “jogavam”,
poderiam pensar em escravos pegando siris em
vez de em um jogo. Outra hipótese é que caxangá
seja uma expressão sem sentido, como “a Tonga
da mironga do kabuletê”, da canção de Toquinho
e Vinicius – as palavras separadas até têm sentido
(são vocábulos africanos), mas não com o
significado que elas têm na música.
(Disponível em https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-ocaxanga-que-os-escravos-de-jo-jogavam/. Acesso em 5 de dezembro de
2024)