Questões de Concurso Público Prefeitura de Cariacica - ES 2016 para Professor - Língua Portuguesa
Foram encontradas 50 questões
Como e por que as línguas mudam
Segundo Saussure, a língua possui duas características aparentemente contraditórias entre si: a imutabilidade e a mutabilidade. Para ele, a língua é dada aos falantes como uma realidade que nenhum indivíduo pode transformar por sua própria vontade; a língua é fruto de uma convenção social, e mudá-la exigiria o consenso social. Além disso, é uma instituição herdada de gerações anteriores e não um contrato firmado entre os falantes no presente. Saussure insiste na arbitrariedade dos signos linguísticos (as palavras) como uma escolha e, ao mesmo tempo, uma coerção. Por outro lado, a mutabilidade dos signos – e, portanto, da língua – está ligada à própria inconsciência que os falantes têm das leis que regem o sistema, assim como à própria tensão entre a língua como bem social e os atos de fala individuais, com seu caráter particular e transitório.
Mas, se a língua é produtora e produto da cultura, a diversidade cultural é causa da diversidade linguística e vice-versa. Além da mudança temporal, decorrente da evolução histórica, há também a diversidade geográfica, em que os diferentes habitats condicionam diferentes formas de cultura. Assim, a separação dos grupamentos humanos no tempo e no espaço conduz à sua diferenciação. Mais ainda, em sociedades complexas e extremamente heterogêneas como as pós-industriais, estratificadas pela organização política e a especialização das atividades econômicas, a classe social, o grupo profissional e a própria situação de comunicação levam à diferenciação.
Existem, portanto, quatro fatores responsáveis pela mudança linguística: o tempo histórico, o espaço geográfico, a divisão das classes sociais e a variedade das situações de discurso, entendidas como os diferentes ambientes sociais, ligados às diversas práticas profissionais, religiosas, recreativas, culturais, etc., que condicionam diferentes formas de expressão do pensamento (isto é, diferentes escolhas de vocabulário e construção sintática), como é o caso dos discursos científico, político, jurídico, jornalístico, publicitário, dos jargões e das gírias específicas de cada grupo social (os médicos, os economistas, os surfistas...).
Na mudança histórica, o aspecto que mais chama a atenção é a mutação fonética. A alteração da pronúncia ao longo do tempo pode, muitas vezes, ser mascarada pela grafia: o português cozer era pronunciado na Idade Média como codzer, distinguindo-se perfeitamente de seu hoje homófono coser. Uma alteração de pronúncia pode implicar mudança no sistema de sons distintivos da língua, os fonemas, pelo acréscimo, supressão ou reorganização das relações entre as unidades. Uma mudança ao nível dos fonemas pode, por sua vez, acarretar alterações em categorias morfológicas, como no caso da flexão de número em latim. Frequentemente, a mudança histórica se dá não apenas na pronúncia, mas também no significado. É assim que muitas palavras, independentemente da conservação ou mutação de sua forma fonética ou gráfica, adquirem novos significados, podendo manter ou não os antigos. Finalmente, novas palavras são introduzidas na língua, fruto de criação interna ou de empréstimo, enquanto outras caem em desuso e desaparecem.
A mudança espacial é resultado da diferente evolução temporal da língua em comunidades linguísticas separadas geograficamente. A distância geográfica, responsável pela falta de comunicação entre dois grupos de falantes de uma mesma língua, produz em cada um dos grupos uma evolução histórica independente, que, a longo prazo, poderá resultar na não intercompreensão entre os grupos. As migrações humanas também são outro fator que conspira a favor da mudança espacial. Ocorre assim o fenômeno da dialetação, que pode, com o tempo, fazer surgirem novas línguas.
A separação entre classes sociais, tanto do ponto de vista físico quanto em termos do modo de vida, faz com que indivíduos pertencentes a classes sociais distintas se expressem de formas diferentes e reproduzam visões de mundo parcialmente diversas. Surgem então os socioletos, ou formas de expressão particulares de cada classe social. Finalmente, os diferentes grupos sociais (grupos profissionais, religiosos, etários, etc.) existentes numa sociedade complexa tendem a produzir discursos privativos desses grupos. Temos aí os vários idioletos e tecnoletos de uma sociedade.
(Aldo Bizzocchi – Revista Língua Portuguesa – Editora Escala. Adaptado.)
Como e por que as línguas mudam
Segundo Saussure, a língua possui duas características aparentemente contraditórias entre si: a imutabilidade e a mutabilidade. Para ele, a língua é dada aos falantes como uma realidade que nenhum indivíduo pode transformar por sua própria vontade; a língua é fruto de uma convenção social, e mudá-la exigiria o consenso social. Além disso, é uma instituição herdada de gerações anteriores e não um contrato firmado entre os falantes no presente. Saussure insiste na arbitrariedade dos signos linguísticos (as palavras) como uma escolha e, ao mesmo tempo, uma coerção. Por outro lado, a mutabilidade dos signos – e, portanto, da língua – está ligada à própria inconsciência que os falantes têm das leis que regem o sistema, assim como à própria tensão entre a língua como bem social e os atos de fala individuais, com seu caráter particular e transitório.
Mas, se a língua é produtora e produto da cultura, a diversidade cultural é causa da diversidade linguística e vice-versa. Além da mudança temporal, decorrente da evolução histórica, há também a diversidade geográfica, em que os diferentes habitats condicionam diferentes formas de cultura. Assim, a separação dos grupamentos humanos no tempo e no espaço conduz à sua diferenciação. Mais ainda, em sociedades complexas e extremamente heterogêneas como as pós-industriais, estratificadas pela organização política e a especialização das atividades econômicas, a classe social, o grupo profissional e a própria situação de comunicação levam à diferenciação.
Existem, portanto, quatro fatores responsáveis pela mudança linguística: o tempo histórico, o espaço geográfico, a divisão das classes sociais e a variedade das situações de discurso, entendidas como os diferentes ambientes sociais, ligados às diversas práticas profissionais, religiosas, recreativas, culturais, etc., que condicionam diferentes formas de expressão do pensamento (isto é, diferentes escolhas de vocabulário e construção sintática), como é o caso dos discursos científico, político, jurídico, jornalístico, publicitário, dos jargões e das gírias específicas de cada grupo social (os médicos, os economistas, os surfistas...).
Na mudança histórica, o aspecto que mais chama a atenção é a mutação fonética. A alteração da pronúncia ao longo do tempo pode, muitas vezes, ser mascarada pela grafia: o português cozer era pronunciado na Idade Média como codzer, distinguindo-se perfeitamente de seu hoje homófono coser. Uma alteração de pronúncia pode implicar mudança no sistema de sons distintivos da língua, os fonemas, pelo acréscimo, supressão ou reorganização das relações entre as unidades. Uma mudança ao nível dos fonemas pode, por sua vez, acarretar alterações em categorias morfológicas, como no caso da flexão de número em latim. Frequentemente, a mudança histórica se dá não apenas na pronúncia, mas também no significado. É assim que muitas palavras, independentemente da conservação ou mutação de sua forma fonética ou gráfica, adquirem novos significados, podendo manter ou não os antigos. Finalmente, novas palavras são introduzidas na língua, fruto de criação interna ou de empréstimo, enquanto outras caem em desuso e desaparecem.
A mudança espacial é resultado da diferente evolução temporal da língua em comunidades linguísticas separadas geograficamente. A distância geográfica, responsável pela falta de comunicação entre dois grupos de falantes de uma mesma língua, produz em cada um dos grupos uma evolução histórica independente, que, a longo prazo, poderá resultar na não intercompreensão entre os grupos. As migrações humanas também são outro fator que conspira a favor da mudança espacial. Ocorre assim o fenômeno da dialetação, que pode, com o tempo, fazer surgirem novas línguas.
A separação entre classes sociais, tanto do ponto de vista físico quanto em termos do modo de vida, faz com que indivíduos pertencentes a classes sociais distintas se expressem de formas diferentes e reproduzam visões de mundo parcialmente diversas. Surgem então os socioletos, ou formas de expressão particulares de cada classe social. Finalmente, os diferentes grupos sociais (grupos profissionais, religiosos, etários, etc.) existentes numa sociedade complexa tendem a produzir discursos privativos desses grupos. Temos aí os vários idioletos e tecnoletos de uma sociedade.
(Aldo Bizzocchi – Revista Língua Portuguesa – Editora Escala. Adaptado.)
Como e por que as línguas mudam
Segundo Saussure, a língua possui duas características aparentemente contraditórias entre si: a imutabilidade e a mutabilidade. Para ele, a língua é dada aos falantes como uma realidade que nenhum indivíduo pode transformar por sua própria vontade; a língua é fruto de uma convenção social, e mudá-la exigiria o consenso social. Além disso, é uma instituição herdada de gerações anteriores e não um contrato firmado entre os falantes no presente. Saussure insiste na arbitrariedade dos signos linguísticos (as palavras) como uma escolha e, ao mesmo tempo, uma coerção. Por outro lado, a mutabilidade dos signos – e, portanto, da língua – está ligada à própria inconsciência que os falantes têm das leis que regem o sistema, assim como à própria tensão entre a língua como bem social e os atos de fala individuais, com seu caráter particular e transitório.
Mas, se a língua é produtora e produto da cultura, a diversidade cultural é causa da diversidade linguística e vice-versa. Além da mudança temporal, decorrente da evolução histórica, há também a diversidade geográfica, em que os diferentes habitats condicionam diferentes formas de cultura. Assim, a separação dos grupamentos humanos no tempo e no espaço conduz à sua diferenciação. Mais ainda, em sociedades complexas e extremamente heterogêneas como as pós-industriais, estratificadas pela organização política e a especialização das atividades econômicas, a classe social, o grupo profissional e a própria situação de comunicação levam à diferenciação.
Existem, portanto, quatro fatores responsáveis pela mudança linguística: o tempo histórico, o espaço geográfico, a divisão das classes sociais e a variedade das situações de discurso, entendidas como os diferentes ambientes sociais, ligados às diversas práticas profissionais, religiosas, recreativas, culturais, etc., que condicionam diferentes formas de expressão do pensamento (isto é, diferentes escolhas de vocabulário e construção sintática), como é o caso dos discursos científico, político, jurídico, jornalístico, publicitário, dos jargões e das gírias específicas de cada grupo social (os médicos, os economistas, os surfistas...).
Na mudança histórica, o aspecto que mais chama a atenção é a mutação fonética. A alteração da pronúncia ao longo do tempo pode, muitas vezes, ser mascarada pela grafia: o português cozer era pronunciado na Idade Média como codzer, distinguindo-se perfeitamente de seu hoje homófono coser. Uma alteração de pronúncia pode implicar mudança no sistema de sons distintivos da língua, os fonemas, pelo acréscimo, supressão ou reorganização das relações entre as unidades. Uma mudança ao nível dos fonemas pode, por sua vez, acarretar alterações em categorias morfológicas, como no caso da flexão de número em latim. Frequentemente, a mudança histórica se dá não apenas na pronúncia, mas também no significado. É assim que muitas palavras, independentemente da conservação ou mutação de sua forma fonética ou gráfica, adquirem novos significados, podendo manter ou não os antigos. Finalmente, novas palavras são introduzidas na língua, fruto de criação interna ou de empréstimo, enquanto outras caem em desuso e desaparecem.
A mudança espacial é resultado da diferente evolução temporal da língua em comunidades linguísticas separadas geograficamente. A distância geográfica, responsável pela falta de comunicação entre dois grupos de falantes de uma mesma língua, produz em cada um dos grupos uma evolução histórica independente, que, a longo prazo, poderá resultar na não intercompreensão entre os grupos. As migrações humanas também são outro fator que conspira a favor da mudança espacial. Ocorre assim o fenômeno da dialetação, que pode, com o tempo, fazer surgirem novas línguas.
A separação entre classes sociais, tanto do ponto de vista físico quanto em termos do modo de vida, faz com que indivíduos pertencentes a classes sociais distintas se expressem de formas diferentes e reproduzam visões de mundo parcialmente diversas. Surgem então os socioletos, ou formas de expressão particulares de cada classe social. Finalmente, os diferentes grupos sociais (grupos profissionais, religiosos, etários, etc.) existentes numa sociedade complexa tendem a produzir discursos privativos desses grupos. Temos aí os vários idioletos e tecnoletos de uma sociedade.
(Aldo Bizzocchi – Revista Língua Portuguesa – Editora Escala. Adaptado.)
Como e por que as línguas mudam
Segundo Saussure, a língua possui duas características aparentemente contraditórias entre si: a imutabilidade e a mutabilidade. Para ele, a língua é dada aos falantes como uma realidade que nenhum indivíduo pode transformar por sua própria vontade; a língua é fruto de uma convenção social, e mudá-la exigiria o consenso social. Além disso, é uma instituição herdada de gerações anteriores e não um contrato firmado entre os falantes no presente. Saussure insiste na arbitrariedade dos signos linguísticos (as palavras) como uma escolha e, ao mesmo tempo, uma coerção. Por outro lado, a mutabilidade dos signos – e, portanto, da língua – está ligada à própria inconsciência que os falantes têm das leis que regem o sistema, assim como à própria tensão entre a língua como bem social e os atos de fala individuais, com seu caráter particular e transitório.
Mas, se a língua é produtora e produto da cultura, a diversidade cultural é causa da diversidade linguística e vice-versa. Além da mudança temporal, decorrente da evolução histórica, há também a diversidade geográfica, em que os diferentes habitats condicionam diferentes formas de cultura. Assim, a separação dos grupamentos humanos no tempo e no espaço conduz à sua diferenciação. Mais ainda, em sociedades complexas e extremamente heterogêneas como as pós-industriais, estratificadas pela organização política e a especialização das atividades econômicas, a classe social, o grupo profissional e a própria situação de comunicação levam à diferenciação.
Existem, portanto, quatro fatores responsáveis pela mudança linguística: o tempo histórico, o espaço geográfico, a divisão das classes sociais e a variedade das situações de discurso, entendidas como os diferentes ambientes sociais, ligados às diversas práticas profissionais, religiosas, recreativas, culturais, etc., que condicionam diferentes formas de expressão do pensamento (isto é, diferentes escolhas de vocabulário e construção sintática), como é o caso dos discursos científico, político, jurídico, jornalístico, publicitário, dos jargões e das gírias específicas de cada grupo social (os médicos, os economistas, os surfistas...).
Na mudança histórica, o aspecto que mais chama a atenção é a mutação fonética. A alteração da pronúncia ao longo do tempo pode, muitas vezes, ser mascarada pela grafia: o português cozer era pronunciado na Idade Média como codzer, distinguindo-se perfeitamente de seu hoje homófono coser. Uma alteração de pronúncia pode implicar mudança no sistema de sons distintivos da língua, os fonemas, pelo acréscimo, supressão ou reorganização das relações entre as unidades. Uma mudança ao nível dos fonemas pode, por sua vez, acarretar alterações em categorias morfológicas, como no caso da flexão de número em latim. Frequentemente, a mudança histórica se dá não apenas na pronúncia, mas também no significado. É assim que muitas palavras, independentemente da conservação ou mutação de sua forma fonética ou gráfica, adquirem novos significados, podendo manter ou não os antigos. Finalmente, novas palavras são introduzidas na língua, fruto de criação interna ou de empréstimo, enquanto outras caem em desuso e desaparecem.
A mudança espacial é resultado da diferente evolução temporal da língua em comunidades linguísticas separadas geograficamente. A distância geográfica, responsável pela falta de comunicação entre dois grupos de falantes de uma mesma língua, produz em cada um dos grupos uma evolução histórica independente, que, a longo prazo, poderá resultar na não intercompreensão entre os grupos. As migrações humanas também são outro fator que conspira a favor da mudança espacial. Ocorre assim o fenômeno da dialetação, que pode, com o tempo, fazer surgirem novas línguas.
A separação entre classes sociais, tanto do ponto de vista físico quanto em termos do modo de vida, faz com que indivíduos pertencentes a classes sociais distintas se expressem de formas diferentes e reproduzam visões de mundo parcialmente diversas. Surgem então os socioletos, ou formas de expressão particulares de cada classe social. Finalmente, os diferentes grupos sociais (grupos profissionais, religiosos, etários, etc.) existentes numa sociedade complexa tendem a produzir discursos privativos desses grupos. Temos aí os vários idioletos e tecnoletos de uma sociedade.
(Aldo Bizzocchi – Revista Língua Portuguesa – Editora Escala. Adaptado.)
Como e por que as línguas mudam
Segundo Saussure, a língua possui duas características aparentemente contraditórias entre si: a imutabilidade e a mutabilidade. Para ele, a língua é dada aos falantes como uma realidade que nenhum indivíduo pode transformar por sua própria vontade; a língua é fruto de uma convenção social, e mudá-la exigiria o consenso social. Além disso, é uma instituição herdada de gerações anteriores e não um contrato firmado entre os falantes no presente. Saussure insiste na arbitrariedade dos signos linguísticos (as palavras) como uma escolha e, ao mesmo tempo, uma coerção. Por outro lado, a mutabilidade dos signos – e, portanto, da língua – está ligada à própria inconsciência que os falantes têm das leis que regem o sistema, assim como à própria tensão entre a língua como bem social e os atos de fala individuais, com seu caráter particular e transitório.
Mas, se a língua é produtora e produto da cultura, a diversidade cultural é causa da diversidade linguística e vice-versa. Além da mudança temporal, decorrente da evolução histórica, há também a diversidade geográfica, em que os diferentes habitats condicionam diferentes formas de cultura. Assim, a separação dos grupamentos humanos no tempo e no espaço conduz à sua diferenciação. Mais ainda, em sociedades complexas e extremamente heterogêneas como as pós-industriais, estratificadas pela organização política e a especialização das atividades econômicas, a classe social, o grupo profissional e a própria situação de comunicação levam à diferenciação.
Existem, portanto, quatro fatores responsáveis pela mudança linguística: o tempo histórico, o espaço geográfico, a divisão das classes sociais e a variedade das situações de discurso, entendidas como os diferentes ambientes sociais, ligados às diversas práticas profissionais, religiosas, recreativas, culturais, etc., que condicionam diferentes formas de expressão do pensamento (isto é, diferentes escolhas de vocabulário e construção sintática), como é o caso dos discursos científico, político, jurídico, jornalístico, publicitário, dos jargões e das gírias específicas de cada grupo social (os médicos, os economistas, os surfistas...).
Na mudança histórica, o aspecto que mais chama a atenção é a mutação fonética. A alteração da pronúncia ao longo do tempo pode, muitas vezes, ser mascarada pela grafia: o português cozer era pronunciado na Idade Média como codzer, distinguindo-se perfeitamente de seu hoje homófono coser. Uma alteração de pronúncia pode implicar mudança no sistema de sons distintivos da língua, os fonemas, pelo acréscimo, supressão ou reorganização das relações entre as unidades. Uma mudança ao nível dos fonemas pode, por sua vez, acarretar alterações em categorias morfológicas, como no caso da flexão de número em latim. Frequentemente, a mudança histórica se dá não apenas na pronúncia, mas também no significado. É assim que muitas palavras, independentemente da conservação ou mutação de sua forma fonética ou gráfica, adquirem novos significados, podendo manter ou não os antigos. Finalmente, novas palavras são introduzidas na língua, fruto de criação interna ou de empréstimo, enquanto outras caem em desuso e desaparecem.
A mudança espacial é resultado da diferente evolução temporal da língua em comunidades linguísticas separadas geograficamente. A distância geográfica, responsável pela falta de comunicação entre dois grupos de falantes de uma mesma língua, produz em cada um dos grupos uma evolução histórica independente, que, a longo prazo, poderá resultar na não intercompreensão entre os grupos. As migrações humanas também são outro fator que conspira a favor da mudança espacial. Ocorre assim o fenômeno da dialetação, que pode, com o tempo, fazer surgirem novas línguas.
A separação entre classes sociais, tanto do ponto de vista físico quanto em termos do modo de vida, faz com que indivíduos pertencentes a classes sociais distintas se expressem de formas diferentes e reproduzam visões de mundo parcialmente diversas. Surgem então os socioletos, ou formas de expressão particulares de cada classe social. Finalmente, os diferentes grupos sociais (grupos profissionais, religiosos, etários, etc.) existentes numa sociedade complexa tendem a produzir discursos privativos desses grupos. Temos aí os vários idioletos e tecnoletos de uma sociedade.
(Aldo Bizzocchi – Revista Língua Portuguesa – Editora Escala. Adaptado.)
Como e por que as línguas mudam
Segundo Saussure, a língua possui duas características aparentemente contraditórias entre si: a imutabilidade e a mutabilidade. Para ele, a língua é dada aos falantes como uma realidade que nenhum indivíduo pode transformar por sua própria vontade; a língua é fruto de uma convenção social, e mudá-la exigiria o consenso social. Além disso, é uma instituição herdada de gerações anteriores e não um contrato firmado entre os falantes no presente. Saussure insiste na arbitrariedade dos signos linguísticos (as palavras) como uma escolha e, ao mesmo tempo, uma coerção. Por outro lado, a mutabilidade dos signos – e, portanto, da língua – está ligada à própria inconsciência que os falantes têm das leis que regem o sistema, assim como à própria tensão entre a língua como bem social e os atos de fala individuais, com seu caráter particular e transitório.
Mas, se a língua é produtora e produto da cultura, a diversidade cultural é causa da diversidade linguística e vice-versa. Além da mudança temporal, decorrente da evolução histórica, há também a diversidade geográfica, em que os diferentes habitats condicionam diferentes formas de cultura. Assim, a separação dos grupamentos humanos no tempo e no espaço conduz à sua diferenciação. Mais ainda, em sociedades complexas e extremamente heterogêneas como as pós-industriais, estratificadas pela organização política e a especialização das atividades econômicas, a classe social, o grupo profissional e a própria situação de comunicação levam à diferenciação.
Existem, portanto, quatro fatores responsáveis pela mudança linguística: o tempo histórico, o espaço geográfico, a divisão das classes sociais e a variedade das situações de discurso, entendidas como os diferentes ambientes sociais, ligados às diversas práticas profissionais, religiosas, recreativas, culturais, etc., que condicionam diferentes formas de expressão do pensamento (isto é, diferentes escolhas de vocabulário e construção sintática), como é o caso dos discursos científico, político, jurídico, jornalístico, publicitário, dos jargões e das gírias específicas de cada grupo social (os médicos, os economistas, os surfistas...).
Na mudança histórica, o aspecto que mais chama a atenção é a mutação fonética. A alteração da pronúncia ao longo do tempo pode, muitas vezes, ser mascarada pela grafia: o português cozer era pronunciado na Idade Média como codzer, distinguindo-se perfeitamente de seu hoje homófono coser. Uma alteração de pronúncia pode implicar mudança no sistema de sons distintivos da língua, os fonemas, pelo acréscimo, supressão ou reorganização das relações entre as unidades. Uma mudança ao nível dos fonemas pode, por sua vez, acarretar alterações em categorias morfológicas, como no caso da flexão de número em latim. Frequentemente, a mudança histórica se dá não apenas na pronúncia, mas também no significado. É assim que muitas palavras, independentemente da conservação ou mutação de sua forma fonética ou gráfica, adquirem novos significados, podendo manter ou não os antigos. Finalmente, novas palavras são introduzidas na língua, fruto de criação interna ou de empréstimo, enquanto outras caem em desuso e desaparecem.
A mudança espacial é resultado da diferente evolução temporal da língua em comunidades linguísticas separadas geograficamente. A distância geográfica, responsável pela falta de comunicação entre dois grupos de falantes de uma mesma língua, produz em cada um dos grupos uma evolução histórica independente, que, a longo prazo, poderá resultar na não intercompreensão entre os grupos. As migrações humanas também são outro fator que conspira a favor da mudança espacial. Ocorre assim o fenômeno da dialetação, que pode, com o tempo, fazer surgirem novas línguas.
A separação entre classes sociais, tanto do ponto de vista físico quanto em termos do modo de vida, faz com que indivíduos pertencentes a classes sociais distintas se expressem de formas diferentes e reproduzam visões de mundo parcialmente diversas. Surgem então os socioletos, ou formas de expressão particulares de cada classe social. Finalmente, os diferentes grupos sociais (grupos profissionais, religiosos, etários, etc.) existentes numa sociedade complexa tendem a produzir discursos privativos desses grupos. Temos aí os vários idioletos e tecnoletos de uma sociedade.
(Aldo Bizzocchi – Revista Língua Portuguesa – Editora Escala. Adaptado.)
Como e por que as línguas mudam
Segundo Saussure, a língua possui duas características aparentemente contraditórias entre si: a imutabilidade e a mutabilidade. Para ele, a língua é dada aos falantes como uma realidade que nenhum indivíduo pode transformar por sua própria vontade; a língua é fruto de uma convenção social, e mudá-la exigiria o consenso social. Além disso, é uma instituição herdada de gerações anteriores e não um contrato firmado entre os falantes no presente. Saussure insiste na arbitrariedade dos signos linguísticos (as palavras) como uma escolha e, ao mesmo tempo, uma coerção. Por outro lado, a mutabilidade dos signos – e, portanto, da língua – está ligada à própria inconsciência que os falantes têm das leis que regem o sistema, assim como à própria tensão entre a língua como bem social e os atos de fala individuais, com seu caráter particular e transitório.
Mas, se a língua é produtora e produto da cultura, a diversidade cultural é causa da diversidade linguística e vice-versa. Além da mudança temporal, decorrente da evolução histórica, há também a diversidade geográfica, em que os diferentes habitats condicionam diferentes formas de cultura. Assim, a separação dos grupamentos humanos no tempo e no espaço conduz à sua diferenciação. Mais ainda, em sociedades complexas e extremamente heterogêneas como as pós-industriais, estratificadas pela organização política e a especialização das atividades econômicas, a classe social, o grupo profissional e a própria situação de comunicação levam à diferenciação.
Existem, portanto, quatro fatores responsáveis pela mudança linguística: o tempo histórico, o espaço geográfico, a divisão das classes sociais e a variedade das situações de discurso, entendidas como os diferentes ambientes sociais, ligados às diversas práticas profissionais, religiosas, recreativas, culturais, etc., que condicionam diferentes formas de expressão do pensamento (isto é, diferentes escolhas de vocabulário e construção sintática), como é o caso dos discursos científico, político, jurídico, jornalístico, publicitário, dos jargões e das gírias específicas de cada grupo social (os médicos, os economistas, os surfistas...).
Na mudança histórica, o aspecto que mais chama a atenção é a mutação fonética. A alteração da pronúncia ao longo do tempo pode, muitas vezes, ser mascarada pela grafia: o português cozer era pronunciado na Idade Média como codzer, distinguindo-se perfeitamente de seu hoje homófono coser. Uma alteração de pronúncia pode implicar mudança no sistema de sons distintivos da língua, os fonemas, pelo acréscimo, supressão ou reorganização das relações entre as unidades. Uma mudança ao nível dos fonemas pode, por sua vez, acarretar alterações em categorias morfológicas, como no caso da flexão de número em latim. Frequentemente, a mudança histórica se dá não apenas na pronúncia, mas também no significado. É assim que muitas palavras, independentemente da conservação ou mutação de sua forma fonética ou gráfica, adquirem novos significados, podendo manter ou não os antigos. Finalmente, novas palavras são introduzidas na língua, fruto de criação interna ou de empréstimo, enquanto outras caem em desuso e desaparecem.
A mudança espacial é resultado da diferente evolução temporal da língua em comunidades linguísticas separadas geograficamente. A distância geográfica, responsável pela falta de comunicação entre dois grupos de falantes de uma mesma língua, produz em cada um dos grupos uma evolução histórica independente, que, a longo prazo, poderá resultar na não intercompreensão entre os grupos. As migrações humanas também são outro fator que conspira a favor da mudança espacial. Ocorre assim o fenômeno da dialetação, que pode, com o tempo, fazer surgirem novas línguas.
A separação entre classes sociais, tanto do ponto de vista físico quanto em termos do modo de vida, faz com que indivíduos pertencentes a classes sociais distintas se expressem de formas diferentes e reproduzam visões de mundo parcialmente diversas. Surgem então os socioletos, ou formas de expressão particulares de cada classe social. Finalmente, os diferentes grupos sociais (grupos profissionais, religiosos, etários, etc.) existentes numa sociedade complexa tendem a produzir discursos privativos desses grupos. Temos aí os vários idioletos e tecnoletos de uma sociedade.
(Aldo Bizzocchi – Revista Língua Portuguesa – Editora Escala. Adaptado.)
Como e por que as línguas mudam
Segundo Saussure, a língua possui duas características aparentemente contraditórias entre si: a imutabilidade e a mutabilidade. Para ele, a língua é dada aos falantes como uma realidade que nenhum indivíduo pode transformar por sua própria vontade; a língua é fruto de uma convenção social, e mudá-la exigiria o consenso social. Além disso, é uma instituição herdada de gerações anteriores e não um contrato firmado entre os falantes no presente. Saussure insiste na arbitrariedade dos signos linguísticos (as palavras) como uma escolha e, ao mesmo tempo, uma coerção. Por outro lado, a mutabilidade dos signos – e, portanto, da língua – está ligada à própria inconsciência que os falantes têm das leis que regem o sistema, assim como à própria tensão entre a língua como bem social e os atos de fala individuais, com seu caráter particular e transitório.
Mas, se a língua é produtora e produto da cultura, a diversidade cultural é causa da diversidade linguística e vice-versa. Além da mudança temporal, decorrente da evolução histórica, há também a diversidade geográfica, em que os diferentes habitats condicionam diferentes formas de cultura. Assim, a separação dos grupamentos humanos no tempo e no espaço conduz à sua diferenciação. Mais ainda, em sociedades complexas e extremamente heterogêneas como as pós-industriais, estratificadas pela organização política e a especialização das atividades econômicas, a classe social, o grupo profissional e a própria situação de comunicação levam à diferenciação.
Existem, portanto, quatro fatores responsáveis pela mudança linguística: o tempo histórico, o espaço geográfico, a divisão das classes sociais e a variedade das situações de discurso, entendidas como os diferentes ambientes sociais, ligados às diversas práticas profissionais, religiosas, recreativas, culturais, etc., que condicionam diferentes formas de expressão do pensamento (isto é, diferentes escolhas de vocabulário e construção sintática), como é o caso dos discursos científico, político, jurídico, jornalístico, publicitário, dos jargões e das gírias específicas de cada grupo social (os médicos, os economistas, os surfistas...).
Na mudança histórica, o aspecto que mais chama a atenção é a mutação fonética. A alteração da pronúncia ao longo do tempo pode, muitas vezes, ser mascarada pela grafia: o português cozer era pronunciado na Idade Média como codzer, distinguindo-se perfeitamente de seu hoje homófono coser. Uma alteração de pronúncia pode implicar mudança no sistema de sons distintivos da língua, os fonemas, pelo acréscimo, supressão ou reorganização das relações entre as unidades. Uma mudança ao nível dos fonemas pode, por sua vez, acarretar alterações em categorias morfológicas, como no caso da flexão de número em latim. Frequentemente, a mudança histórica se dá não apenas na pronúncia, mas também no significado. É assim que muitas palavras, independentemente da conservação ou mutação de sua forma fonética ou gráfica, adquirem novos significados, podendo manter ou não os antigos. Finalmente, novas palavras são introduzidas na língua, fruto de criação interna ou de empréstimo, enquanto outras caem em desuso e desaparecem.
A mudança espacial é resultado da diferente evolução temporal da língua em comunidades linguísticas separadas geograficamente. A distância geográfica, responsável pela falta de comunicação entre dois grupos de falantes de uma mesma língua, produz em cada um dos grupos uma evolução histórica independente, que, a longo prazo, poderá resultar na não intercompreensão entre os grupos. As migrações humanas também são outro fator que conspira a favor da mudança espacial. Ocorre assim o fenômeno da dialetação, que pode, com o tempo, fazer surgirem novas línguas.
A separação entre classes sociais, tanto do ponto de vista físico quanto em termos do modo de vida, faz com que indivíduos pertencentes a classes sociais distintas se expressem de formas diferentes e reproduzam visões de mundo parcialmente diversas. Surgem então os socioletos, ou formas de expressão particulares de cada classe social. Finalmente, os diferentes grupos sociais (grupos profissionais, religiosos, etários, etc.) existentes numa sociedade complexa tendem a produzir discursos privativos desses grupos. Temos aí os vários idioletos e tecnoletos de uma sociedade.
(Aldo Bizzocchi – Revista Língua Portuguesa – Editora Escala. Adaptado.)
Como e por que as línguas mudam
Segundo Saussure, a língua possui duas características aparentemente contraditórias entre si: a imutabilidade e a mutabilidade. Para ele, a língua é dada aos falantes como uma realidade que nenhum indivíduo pode transformar por sua própria vontade; a língua é fruto de uma convenção social, e mudá-la exigiria o consenso social. Além disso, é uma instituição herdada de gerações anteriores e não um contrato firmado entre os falantes no presente. Saussure insiste na arbitrariedade dos signos linguísticos (as palavras) como uma escolha e, ao mesmo tempo, uma coerção. Por outro lado, a mutabilidade dos signos – e, portanto, da língua – está ligada à própria inconsciência que os falantes têm das leis que regem o sistema, assim como à própria tensão entre a língua como bem social e os atos de fala individuais, com seu caráter particular e transitório.
Mas, se a língua é produtora e produto da cultura, a diversidade cultural é causa da diversidade linguística e vice-versa. Além da mudança temporal, decorrente da evolução histórica, há também a diversidade geográfica, em que os diferentes habitats condicionam diferentes formas de cultura. Assim, a separação dos grupamentos humanos no tempo e no espaço conduz à sua diferenciação. Mais ainda, em sociedades complexas e extremamente heterogêneas como as pós-industriais, estratificadas pela organização política e a especialização das atividades econômicas, a classe social, o grupo profissional e a própria situação de comunicação levam à diferenciação.
Existem, portanto, quatro fatores responsáveis pela mudança linguística: o tempo histórico, o espaço geográfico, a divisão das classes sociais e a variedade das situações de discurso, entendidas como os diferentes ambientes sociais, ligados às diversas práticas profissionais, religiosas, recreativas, culturais, etc., que condicionam diferentes formas de expressão do pensamento (isto é, diferentes escolhas de vocabulário e construção sintática), como é o caso dos discursos científico, político, jurídico, jornalístico, publicitário, dos jargões e das gírias específicas de cada grupo social (os médicos, os economistas, os surfistas...).
Na mudança histórica, o aspecto que mais chama a atenção é a mutação fonética. A alteração da pronúncia ao longo do tempo pode, muitas vezes, ser mascarada pela grafia: o português cozer era pronunciado na Idade Média como codzer, distinguindo-se perfeitamente de seu hoje homófono coser. Uma alteração de pronúncia pode implicar mudança no sistema de sons distintivos da língua, os fonemas, pelo acréscimo, supressão ou reorganização das relações entre as unidades. Uma mudança ao nível dos fonemas pode, por sua vez, acarretar alterações em categorias morfológicas, como no caso da flexão de número em latim. Frequentemente, a mudança histórica se dá não apenas na pronúncia, mas também no significado. É assim que muitas palavras, independentemente da conservação ou mutação de sua forma fonética ou gráfica, adquirem novos significados, podendo manter ou não os antigos. Finalmente, novas palavras são introduzidas na língua, fruto de criação interna ou de empréstimo, enquanto outras caem em desuso e desaparecem.
A mudança espacial é resultado da diferente evolução temporal da língua em comunidades linguísticas separadas geograficamente. A distância geográfica, responsável pela falta de comunicação entre dois grupos de falantes de uma mesma língua, produz em cada um dos grupos uma evolução histórica independente, que, a longo prazo, poderá resultar na não intercompreensão entre os grupos. As migrações humanas também são outro fator que conspira a favor da mudança espacial. Ocorre assim o fenômeno da dialetação, que pode, com o tempo, fazer surgirem novas línguas.
A separação entre classes sociais, tanto do ponto de vista físico quanto em termos do modo de vida, faz com que indivíduos pertencentes a classes sociais distintas se expressem de formas diferentes e reproduzam visões de mundo parcialmente diversas. Surgem então os socioletos, ou formas de expressão particulares de cada classe social. Finalmente, os diferentes grupos sociais (grupos profissionais, religiosos, etários, etc.) existentes numa sociedade complexa tendem a produzir discursos privativos desses grupos. Temos aí os vários idioletos e tecnoletos de uma sociedade.
(Aldo Bizzocchi – Revista Língua Portuguesa – Editora Escala. Adaptado.)
Segundo Saussure,
Como e por que as línguas mudam
Segundo Saussure, a língua possui duas características aparentemente contraditórias entre si: a imutabilidade e a mutabilidade. Para ele, a língua é dada aos falantes como uma realidade que nenhum indivíduo pode transformar por sua própria vontade; a língua é fruto de uma convenção social, e mudá-la exigiria o consenso social. Além disso, é uma instituição herdada de gerações anteriores e não um contrato firmado entre os falantes no presente. Saussure insiste na arbitrariedade dos signos linguísticos (as palavras) como uma escolha e, ao mesmo tempo, uma coerção. Por outro lado, a mutabilidade dos signos – e, portanto, da língua – está ligada à própria inconsciência que os falantes têm das leis que regem o sistema, assim como à própria tensão entre a língua como bem social e os atos de fala individuais, com seu caráter particular e transitório.
Mas, se a língua é produtora e produto da cultura, a diversidade cultural é causa da diversidade linguística e vice-versa. Além da mudança temporal, decorrente da evolução histórica, há também a diversidade geográfica, em que os diferentes habitats condicionam diferentes formas de cultura. Assim, a separação dos grupamentos humanos no tempo e no espaço conduz à sua diferenciação. Mais ainda, em sociedades complexas e extremamente heterogêneas como as pós-industriais, estratificadas pela organização política e a especialização das atividades econômicas, a classe social, o grupo profissional e a própria situação de comunicação levam à diferenciação.
Existem, portanto, quatro fatores responsáveis pela mudança linguística: o tempo histórico, o espaço geográfico, a divisão das classes sociais e a variedade das situações de discurso, entendidas como os diferentes ambientes sociais, ligados às diversas práticas profissionais, religiosas, recreativas, culturais, etc., que condicionam diferentes formas de expressão do pensamento (isto é, diferentes escolhas de vocabulário e construção sintática), como é o caso dos discursos científico, político, jurídico, jornalístico, publicitário, dos jargões e das gírias específicas de cada grupo social (os médicos, os economistas, os surfistas...).
Na mudança histórica, o aspecto que mais chama a atenção é a mutação fonética. A alteração da pronúncia ao longo do tempo pode, muitas vezes, ser mascarada pela grafia: o português cozer era pronunciado na Idade Média como codzer, distinguindo-se perfeitamente de seu hoje homófono coser. Uma alteração de pronúncia pode implicar mudança no sistema de sons distintivos da língua, os fonemas, pelo acréscimo, supressão ou reorganização das relações entre as unidades. Uma mudança ao nível dos fonemas pode, por sua vez, acarretar alterações em categorias morfológicas, como no caso da flexão de número em latim. Frequentemente, a mudança histórica se dá não apenas na pronúncia, mas também no significado. É assim que muitas palavras, independentemente da conservação ou mutação de sua forma fonética ou gráfica, adquirem novos significados, podendo manter ou não os antigos. Finalmente, novas palavras são introduzidas na língua, fruto de criação interna ou de empréstimo, enquanto outras caem em desuso e desaparecem.
A mudança espacial é resultado da diferente evolução temporal da língua em comunidades linguísticas separadas geograficamente. A distância geográfica, responsável pela falta de comunicação entre dois grupos de falantes de uma mesma língua, produz em cada um dos grupos uma evolução histórica independente, que, a longo prazo, poderá resultar na não intercompreensão entre os grupos. As migrações humanas também são outro fator que conspira a favor da mudança espacial. Ocorre assim o fenômeno da dialetação, que pode, com o tempo, fazer surgirem novas línguas.
A separação entre classes sociais, tanto do ponto de vista físico quanto em termos do modo de vida, faz com que indivíduos pertencentes a classes sociais distintas se expressem de formas diferentes e reproduzam visões de mundo parcialmente diversas. Surgem então os socioletos, ou formas de expressão particulares de cada classe social. Finalmente, os diferentes grupos sociais (grupos profissionais, religiosos, etários, etc.) existentes numa sociedade complexa tendem a produzir discursos privativos desses grupos. Temos aí os vários idioletos e tecnoletos de uma sociedade.
(Aldo Bizzocchi – Revista Língua Portuguesa – Editora Escala. Adaptado.)