A busca da identidade na adolescência
É na puberdade que o jovem reconstrói seu universo interno e cria relações com o mundo externo.
Entenda os processos que marcam a fase.
A transformação tem início por volta dos 11 anos. Meninos e meninas passam a contestar o que os adultos dizem.
Ora falam demais, ora ficam calados. Surgem os namoricos, as implicâncias e a vontade de conhecer intensamente o
mundo. Os comportamentos variam tanto que professores e pais se sentem perdidos: afinal de contas, por que os
adolescentes são tão instáveis?
A inconstância, nesse caso, é sinônimo de ajuste. É a maneira que os jovens encontram para tentar se adaptar ao
fato de não serem mais crianças – nem adultos. Diante de um corpo em mutação, precisam construir uma nova
identidade e afirmar seu lugar no mundo. Por trás de manifestações tão distintas quanto rebeldia ou isolamento, há
inúmeros processos psicológicos para organizar um turbilhão de sensações e sentimentos. A adolescência é como um
renascimento, marcado, dessa vez, pela revisão de tudo o que foi vivido na infância.
Para a pediatra e psicanalista francesa Françoise Dolto (1908-1988), autora de clássicos sobre a psicologia de crianças
e adolescentes, os seres humanos têm dois tipos de imagem em relação ao próprio corpo: a real, que se refere às
características físicas, e a simbólica, que seria um somatório de desejos, emoções, imaginário e sentido íntimo que
damos às experiências corporais. Na adolescência, essas duas percepções são abaladas.
Isso ocorre porque a imagem simbólica que ele tem do corpo ainda é carregada de referências infantis que entram
em contradição com os desejos e a potência sexual recém-descoberta. É como se o psiquismo do jovem tivesse
dificuldade para acompanhar tantas novidades. Por causa disso, podem surgir dificuldades de higiene, como a de jovens
que não tomam banho porque gostam de sentir o cheiro do próprio suor (que se transformou com a ação da
testosterona) e a de outros que veem numa parte do corpo a raiz de todos os seus problemas (seios que não crescem,
pés muito grandes, nariz torto etc.). São encanações típicas da idade e que precisam ser acolhidas. “O jovem deve ficar à
vontade para tirar dúvidas e conversar sobre o que ocorre com seu corpo sem que sinta medo de ser diminuído ou
ridicularizado. Além disso, ele necessita de privacidade e, se não quiser falar, deve ser respeitado”, afirma Lidia
Aratangy, psicóloga e autora de livros sobre o tema. Apenas quando perduram as sensações de estranhamento com as
mudanças fisiológicas um encaminhamento médico é necessário.
(Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/busca-identidade-adolescencia-jovem-puberdade-538868.shtml.
Acesso em: 03/05/2016. Adaptado.)