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A importância da educação no combate à
desinformação
A desinformação é um problema crescente na sociedade moderna. Com a facilidade de acesso a ferramentas tecnológicas ultramodernas e de fácil aplicação e com a ampla oferta
de canais de distribuição de alto impacto – redes sociais, por
exemplo –, está cada vez mais fácil espalhar informações
falsas e enganosas. O que temos visto nos últimos tempos é
uma avalanche de conteúdos fraudulentos de todos os tipos,
capazes de gerar consequências graves, como distorção da
opinião pública, manipulação de eleições, problemas de saúde pública e até mesmo violência.
É inegável que a proliferação de novos canais de informação nascidos a partir da democratização do acesso à
internet trouxe grandes benefícios à sociedade. Novos veículos de comunicação, novos espaços e formatos trouxeram
dinamismo, diversidade e pluralidade ao ecossistema comunicacional. Sem contar que as redes sociais ampliaram
muito positivamente a comunicação: de repente, cada um de
nós passou a poder produzir informações, opinar, transmitir
e interagir diretamente com milhares de pessoas. Passamos
todos de simples consumidores a produtores altamente ativos dos mais diversos conteúdos.
Se, por um lado, a ampliação dos espaços de participação é positiva e deve ser comemorada, há também uma
faceta negativa nesse movimento: nem todos têm a mesma
habilidade para discernir entre verdadeiro e falso, para diferenciar informação factual de opinião, sátira de humor, boato de achismo, nem tiveram tempo ou aprendizados para
usar esses novos meios com responsabilidade e consciência.
E os desafios não param por aí. A chegada da inteligência
artificial (IA) generativa e todas as suas infinitas possibilidades de utilização tornam o combate à desinformação cada
vez mais árduo e complexo.
O fato é que não existe uma bala de prata capaz de
acabar com o fenômeno da desinformação. É preciso ir além
da busca por uma solução mágica e atacar o problema de
forma holística e multidisciplinar. É necessário avançar em
soluções de longo prazo, que preparem o indivíduo não apenas para os desafios atuais, mas também para os que possam
surgir no futuro, principalmente com a cada vez maior digitalização da nossa sociedade.
É neste sentido que a educação midiática se torna
não só uma aliada, como também uma das ferramentas mais
importantes no combate à desinformação. Ao fornecer aos
cidadãos as habilidades necessárias para avaliar a informação de forma crítica, diferenciar gêneros textuais e tipos de
mídia, avaliar a credibilidade das fontes de informação e identificar os preconceitos na mídia, a educação ajuda a reduzir a vulnerabilidade a conteúdos fraudulentos na medida
em que aumenta a capacidade de questionar uma informação
antes de acreditar nela ou mesmo de passá-la à frente.
Na prática, o objetivo da educação midiática é oferecer oportunidade para que qualquer pessoa desenvolva as
competências necessárias para navegar no universo informacional com segurança. Ou seja, ser educado midiaticamente significa aprender a filtrar, ler criticamente e dar sentido ao enorme fluxo de informações que nos cerca. Significa desenvolver nossa voz, promovendo as habilidades necessárias para que possamos nos expressar em diversas linguagens, aprendendo e atuando em nossas comunidades.
Significa também aprender a utilizar a tecnologia
para participar da sociedade de forma ética, promovendo a
empatia, reconhecendo e respeitando a diversidade de vozes
e combatendo o discurso de ódio e a intolerância. Para além
do combate à desinformação, esse entendimento ajuda no
aproveitamento das oportunidades que o ambiente digital
proporciona, visando principalmente ao fortalecimento da
autoexpressão, ao protagonismo jovem e ao exercício da cidadania.
Levar esse tema para a sala de aula é fundamental e urgente.
A união de esforços visando mobilizar todos os agentes envolvidos – como professores, formuladores de políticas públicas, membros da academia e sociedade em geral – é condição essencial para implementar a educação midiática nas
escolas e, com isso, ajudar crianças e jovens a terem uma
relação mais saudável e segura com as mídias.
O que precisamos agora é abrir cada vez mais espaço para a
educação midiática nos currículos escolares, seguindo o
exemplo bem-sucedido da Finlândia, que implementou políticas públicas eficazes para formar midiaticamente crianças e jovens, desenvolvendo neles as habilidades relativas
ao pensamento crítico. O país nórdico é hoje o campeão,
pela sexta vez consecutiva, em resiliência à desinformação
e ao fenômeno da pós-verdade, segundo o Media Literacy
Index, medido pelo Open Society Institute de Sofia (Bulgária).
O Brasil, aos poucos, está começando a reconhecer a importância de capacitar os cidadãos a lidarem de maneira crítica
e responsável e no ambiente digital. Mas precisamos avançar mais, pois uma população bem informada e capaz de
analisar as informações que recebe é essencial para a saúde
de qualquer democracia, inclusive a nossa.
BLANCO, Patrícia.Disponível em: https://www.campograndenews.com.br/artigos/a-importancia-da-educacao-no-combate-adesinformacao . Acesso em 10/09/2023.