TEXTO 3
Mas, se lhe faltava dinheiro, sobrava-lhe imaginação... Era um
homem culto, inteligente, além de alegre. Não concluíra os
estudos; o destino o confinara no modesto estabelecimento de
secos e molhados, onde ele, entre paios e linguiças, resistia
bravamente aos embates da existência. Os fregueses gostavam
dele, entre outras razões porque vendia fiado e não cobrava nunca.
Com os fornecedores, porém, a situação era diferente. Esses
enérgicos senhores queriam seu dinheiro. O homem a quem meu
pai devia, no momento, era conhecido como um credor
particularmente implacável.
(Moacyr Scliar. A orelha de Van Gogh. Em: Histórias para (quase) todos
os gostos. 5. ed. Porto Alegre: L&PM, 2015. p. 57-60.)