“Há, portanto, uma arte de escrever – que é a
redação. Não é uma prerrogativa dos literatos, senão uma
atividade social indispensável, para a qual falta, não
obstante, muitas vezes, uma preparação preliminar.
A arte de falar, necessária à exposição oral, é mais
fácil na medida em que se beneficia da prática da fala
cotidiana, de cujos elementos parte em princípio.
O que há de comum, antes de tudo, entre a
exposição oral e a escrita é a necessidade da boa
composição, isto é, uma distribuição metódica e
compreensível de ideias.
Impõe-se igualmente a visualização de um objetivo
definido. Ninguém é capaz de escrever bem, se não sabe
bem o que vai escrever.
Justamente por causa disso, as condições para a
redação no exercício da vida profissional ou no intercâmbio
amplo, dentro da sociedade, são muito diversas das da
redação escolar. A convicção do que vamos dizer, a
importância que há em dizê-lo, o domínio de um assunto da
nossa especialidade tiram à redação o caráter negativo de
mero exercício formal, como tem na escola.
Qualquer um de nós senhor de um assunto é, em
princípio, capaz de escrever sobre ele. Não há um jeito
especial para a redação, ao contrário do que muita gente
pensa. Há apenas uma falta de preparação inicial, que o
esforço e a prática vencem.
Por outro lado, a arte de escrever, na medida em
que consubstancia a nossa capacidade de expressão do
pensar e do sentir, tem de firmar raízes na nossa própria
personalidade e decorre, em grande parte, de um trabalho
nosso para desenvolver a personalidade por este ângulo.
[…]
A arte de escrever precisa assentar numa atividade
preliminar já radicada, que parte do ensino escolar e de um
hábito de leitura inteligentemente conduzido; depende
muito, portanto, de nós mesmos, de uma disciplina mental
adquirida pela autocrítica e pela observação cuidadosa do
que outros, com bom resultado, escreveram.”
JOAQUIM MATTOSO CÂMARA JR. Manual de expressão oral &
escrita.
7a. Edição, Vozes, Petrópolis, 1983