Leia o texto a seguir:
“A realidade de saúde do Brasil é marcada pela coexistência de modelos assistenciais antagônicos: de um lado, o modelo de atenção voltado para queixa/demanda, com foco no tratamento e na cura e em intervenções pontuais em uma perspectiva individual. De outro lado, um modelo pautado em práticas de promoção da saúde que abarca a necessidade do usuário, de modo a intervir na realidade de forma antecipada para evitar o adoecimento e potencializar a saúde, baseado em práticas coletivas e com foco nos determinantes de saúde, pautadas na perspectiva do cuidado longitudinal e na integralidade.
A respeito da diferença entre demanda e necessidade de saúde, destaca-se que a primeira corresponde à necessidade traduzida na oferta disponibilizada pelos serviços de saúde. Ou seja, no âmbito das atividades disponibilizadas no centro de saúde, a linguagem da doença parece possuir prioridade. Assim, a necessidade de saúde é modelada e se traduz como demanda para que o acesso seja concedido ao sujeito. Já a necessidade de saúde diz respeito à real demanda do sujeito que ultrapassa questões biológicas, estando, inclusive, relacionada ao seu projeto singular de felicidade, abarcando várias dimensões da sua vida.
Para que a necessidade de saúde seja apreendida e captada pelo profissional de saúde, imperativo se faz a priorização de escuta qualificada que pretende compreender o significado da fala do sujeito, considerando seu contexto de vida, seus valores e crenças.”
(Caçador, Beatriz Santana et al. Ser enfermeiro na estratégia de saúde da família: desafios e possibilidades. REME, Belo Horizonte, vol. 19, n. 3, 2015. DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/1415- 2762.20150047)