Questões de Concurso Público IF-PI 2016 para Analista de Tecnologia da Informação
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O exemplo das rosas
Manuel Bandeira
Uma mulher queixava-se do silêncio do amante:
Já não gostas de mim, pois não encontras
palavras para me louvar!
Então ele, apontando-lhe a rosa que lhe morria
no seio:
Não será insensato pedir a esta rosa que fale?
Não vês que ela se dá toda no seu perfume?
(BANDEIRA, Manuel, Lira dos cinquent’anos. São Paulo: Global, 2013. p. 27)
José
Carlos Drummond de Andrade
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
[...]
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
[...]
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 28-29)
Famigerado
João Guimarães Rosa
Foi de incerta feita o evento. Quem pode
esperar coisa tão sem pés nem cabeça?
Eu estava em casa, o arraial sendo de todo
tranquilo. Parou-me à porta o tropel. Cheguei à
janela.
Um grupo de cavaleiros. Isto é, vendo melhor:
um cavaleiro rente, frente à minha porta,
equiparado, exato; e, embolados, de banda, três
homens a cavalo. [...]
(ROSA, João Guimarães Rosa. Primeiras estórias. 15.ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 56)
Cem anos de solidão [fragmento]
Gabriel García Marquez
O coronel Gerineldo Márquez foi o primeiro a perceber o vazio da guerra. Na sua condição de chefe civil e militar de Macondo mantinha duas vezes por semana conversas telegráficas com o coronel Aureliano Buendía. No começo, aquelas entrevistas determinavam o curso de uma guerra de carne e osso cujos contornos perfeitamente definidos permitiam estabelecer a qualquer momento o ponto exato em que se encontrava, e a prever seus rumos futuros. Embora nunca se deixasse arrastar para o terreno das confidências, nem mesmo pelos amigos mais próximos, coronel Aureliano Buendía conservava o tom familiar que permitia identificá-lo [1] do outro lado da linha. Muitas vezes prolongou as conversas muito além do tempo previsto e deixou-as [2] derivar rumo a comentários de caráter doméstico.
(MÁRQUEZ, Gabriel García. Cem anos de solidão. 91.ed.
Rio de Janeiro: Record, 2015. p. 177)
Memórias do Cárcere, Capítulo II
Graciliano Ramos
No começo de 1936, funcionário na instrução pública de Alagoas, tive a notícia de que misteriosos telefonemas, com veladas ameaças, me procuravam, o endereço. Desprezei as ameaças: ordinariamente o indivíduo que tenciona ofender outro não o avisa. Mas os telefonemas continuaram. Mandei responder que me achava na repartição diariamente, das nove horas ao meio-dia, das duas às cinco da tarde. Não era o que pretendiam. Nada de requerimentos: queriam visitar-me em casa.
(RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. 49.ed. Rio de Janeiro: Record, 2015. p.17)