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A Impostura da Neutralidade no Jornalismo
No contexto do jornalismo, a busca pela neutralidade é frequentemente mitificada como um ideal a ser alcançado pelos repórteres. Acredita-se que
um bom jornalista deve ser imune a crenças, convicções e paixões pessoais, a fim de relatar os fatos de forma imparcial. No entanto, essa pretensa
neutralidade é uma impostura perigosa que pode comprometer a base democrática do jornalismo.
Autores e jornalistas têm desmascarado esse mito. Philip Meyer, em A Ética no Jornalismo, cita Katherine Carlton McAdams, que destaca que os
jornalistas são pessoas reais com lealdades pessoais, mesmo quando atuam profissionalmente. A fantasia do “homem-de-Marte”, completamente alheio a
influências pessoais, é irreal e prejudicial.
Cláudio Abramo, renomado jornalista brasileiro, também combateu essa ideia. Ele argumentou que considerar os jornalistas como seres à parte da
humanidade é irracional e imoral. A neutralidade absoluta não existe, e os profissionais devem reconhecer suas próprias predisposições.
Em resumo, a busca pela neutralidade no jornalismo deve ser substituída por uma busca pela transparência e pela consciência das influências
pessoais. O repórter ideal não é aquele que se esconde atrás de uma suposta neutralidade, mas sim aquele que reconhece suas próprias crenças
e as comunica de forma honesta ao público.
(Bucci Eugênio, publicado em Sobre ética e imprensa, São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 96-98.)