Discursos masculinos sobre prevenção e promoção
da saúde do homem
Matheus Trilico, Gabriela R. de Oliveira,
Marinei Kijimura, Sueli M. Pirolo
A promoção da saúde é uma proposta de
política mundial, contemporânea na saúde pública
e disseminada pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) a partir de 1984. Aprovada na Carta de Ottawa,
traz a saúde em seu conceito amplo, relacionando-a
com qualidade de vida decorrente de processos
complexos interligados a fatores como alimentação,
justiça social, ecossistema, renda e educação.
Também trabalha com o princípio de autonomia dos
indivíduos e das comunidades, reforçando assim o
planejamento e o poder local.
Nesse mesmo sentido, a Declaração de Alma-Ata,
em 1978 , estabelece a proposta da ‘atenção primária
à saúde’ e amplia a visão do cuidado à saúde: sai da
visão hierárquica do conhecimento especializado,
incentiva o envolvimento da população e destaca
os fatores necessários para propiciar a qualidade
de vida e o direito ao bem-estar social. A atenção
primária à saúde está estreitamente vinculada à
‘promoção da saúde’ e à prevenção de enfermidades,
não abandonando as dimensões setorial e técnica e
incluindo outras dimensões.
No Brasil, a Estratégia Saúde da Família responde a
essa ampliação do cuidado ao buscar a promoção da
qualidade de vida e intervenção nos fatores que geram
riscos, por meio de ações programáticas abrangentes
e ações intersetoriais. Nessa perspectiva, entende-se
importante a Política Nacional de Atenção à Saúde do
Homem.
Criada em 2009, essa política procura incluir a
masculinidade nas questões clínica e epidemiológica,
oferecendo uma proposta singular de cuidado de
promoção e recuperação da saúde. Ela se fundamenta
na idiossincrasia do gênero masculino - termo que,
para o campo da pesquisa, refere-se apenas a áreas
estruturais e ideológicas que envolvem relação
entre os sexos, delimitando então um novo terreno
evidenciam na literatura que os homens sofrem
influência dessa representação da masculinidade,
imprimindo a idealização de sucesso, poder e força.
Estudos comparativos entre homens e mulheres
comprovam que os homens são mais vulneráveis às doenças, sobretudo às enfermidades graves
e crônicas, e morrem mais precocemente que as
mulheres.A despeito da maior vulnerabilidade e das
altas taxas de morbimortalidade, os homens não
buscam, como as mulheres, os serviços de atenção
básica.
Segundo estatísticas do Ministério da Saúde, o
homem é mais vulnerável à violência, seja como autor,
seja como vítima. A prevalência de dependentes de
álcool também é maior para o sexo masculino: 19,5%
dos homens são dependentes de álcool, contra 6,9%
das mulheres. Em relação ao tabagismo, os homens
usam cigarros também com maior frequência do que
as mulheres, o que acarreta maior vulnerabilidade
a doenças cardiovasculares, cânceres, doenças
pulmonares obstrutivas crônicas, doenças bucais e
outras.
A masculinidade hegemônica seria aquela ligada à
legitimidade do patriarcado, que garante a dominação
dos homens e a subordinação das mulheres. Ela não
diz respeito a um estilo de vida, mas a configurações
que formam as relações de gênero. Novos grupos
podem desafiar antigas soluções e construir uma
nova hegemonia. Hoje, essa demonstração de força,
controle e não vulnerabilidade cede espaço, tirando
do homem moderno toda essa supremacia.
No bojo dessas representações de masculinidade,
busca-se o subjetivo contido na discussão de
masculinidade e saúde e a consequente importância
para tal, quando atribuída às políticas específicas
de saúde pública voltada para o gênero masculino.
Torna-se, então, necessário compreender suas
representações no contexto do diálogo relacional
ao gênero masculino, visando à promoção de saúde
articulada ao princípio de autonomia dos indivíduos.
Texto adaptado. Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-77462015000200381&lng=pt&nrm=iso