A violência doméstica não é assunto privado
Imagine que você vá a um chá de bebê em que haja
trinta mulheres. Agora suponha que dez das convidadas
tenham sido ou serão vítimas de violência por parte dos
parceiros.
Parece absurdo? Pois, segundo pesquisa realizada pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) e divulgada em uma
série de estudos pela revista médica The Lancet, um terço
das mulheres sofre esse tipo de violência no mundo todo.
A pesquisa aponta ainda que de 100 a 140 milhões de
mulheres e meninas foram vítimas de mutilações genitais
que incluem a remoção parcial ou total da genitália externa
feminina, prática comum em alguns países, principalmente
da África e da Ásia. Setenta milhões de meninas se casaram
antes dos 18 anos, a maioria contra sua vontade, em várias
regiões do mundo.
A violência contra mulheres e meninas não é realidade
apenas dos países pobres. Também faz parte do dia a dia de
países ricos e é tolerada, em níveis diferentes, no mundo.
Apesar de a Organização das Nações Unidas (ONU) ter
reivindicado maior investimento dos países visando a reduzir
a discriminação de gênero, a violência contra a mulher é tão
comum que se tornou questão de saúde pública.
Os motivos que levam a ela são vários, entre eles:
práticas machistas que fazem com que homens considerem
a mulher sua propriedade, acesso restrito das mulheres à
saúde e educação, baixo índice de participação feminina na
política, estruturas discriminatórias de políticas e instituições.
Mas será impossível reduzir os altos índices de violência
de gênero ou teremos de aceitá-los e conviver com eles,
como vimos fazendo?
A primeira medida a ser adotada pelos países, segundo os
pesquisadores, é reconhecer como prioridade a necessidade de
combater a violência contra mulheres e meninas e assumir que
ela impede o desenvolvimento das sociedades em todos os
âmbitos. Para isso, é necessário o investimento de recursos
financeiros em intervenções e programas eficazes no combate
e na prevenção da violência.
É importante, também, mudar as leis e políticas que
ajudam a perpetuar a violência. O modo como sociedades
do mundo todo, amparadas em leis perversas, aceitam esse
tipo de violência é deplorável.
São necessárias políticas de intervenção nas áreas da
saúde, educação e segurança para evitar a violência e,
quando isso não for possível, acolher a mulher de fato.
Hoje, no Brasil, sabemos que há diversos problemas no
acolhimento à vítima de violência de gênero, apesar dos
avanços em políticas e leis relacionadas à violência contra a
mulher.
A violência contra a mulher não é um problema privado
que deve ser resolvido em casa e empurrado para debaixo do tapete da sala. É preciso denunciá-la, pois somos todos
responsáveis por ela.
(Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/para-as
mulheres/a-violencia-domestica-nao-e-assunto-privado/. Acesso
em: 21/10/2019. Com adaptações.)