Eu gosto de observar as pessoas em seus trabalhos e
ocupações. Uma das coisas que mais me deixa feliz é ver o
brilho no olhar e a forma entusiasmada das que trabalham
com afinco. Quem no dia a dia do trabalho tem essa
característica comumente consegue se destacar, crescer,
subir na carreira e o mais importante, é lembrado por muito
tempo pelas pessoas com quem teve contato.
Sou professor há 12 anos e, ainda hoje, quando começa
uma turma nova, me dá um certo frio na barriga e um pouco
de nervosismo. E não se trata de insegurança, trata-se de
valorização do trabalho. Na minha mente vem aquele desejo
de passar uma boa impressão e ser cativante para os alunos.
E isso dá um pouco de nervosismo. Também já escrevo na
internet há pouco mais de 7 anos, e sempre antes de clicar
no botão “publicar” eu leio atentamente o texto, reviso
algumas palavras e ideias. Além disso, sempre me pergunto:
“esse texto vai ajudar de alguma forma a quem for lê-lo?
Esse texto vai despertar ideias e insights bacanas?”. Só
depois de responder a elas de forma afirmativa é que o
publico.
Inúmeras vezes cheguei a escrever textos que estavam
prestes a serem publicados e na última hora me veio a negativa
para as perguntas formuladas há pouco. E sabe de uma coisa
interessante? Esse exercício tem sido para mim como uma
espécie de terapia, no qual expresso por escrito parte do que
estou sentindo e que está me incomodando. Muitas vezes
somos tentados a escrever sobre algo que esteja nos deixando
tristes, chateados, irritados ou desesperançosos, etc. Porém, é
preciso compreender que, em quase 100% dos casos, o que nos
incomoda e chateia, para outras pessoas, pode ser exatamente
o oposto, pode ser motivo de alegria e orgulho.
Em 2019, uma obra magnífica da qual li alguns trechos se
chama Crítica da razão pura, do filósofo alemão Immanuel
Kant, e nesta obra ele aborda amplamente um conceito famoso
seu que é o “imperativo categórico”. Sendo bem direto e
objetivo, esse conceito diz: “age apenas segundo uma máxima
tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei
universal”. Em outras palavras, se o que eu fizer puder ser feito
por 100% das pessoas, maravilha, então trata-se de algo
moralmente correto; se não puder ser feito por 100% das
pessoas, é preciso pensar com mais cuidado, com mais cautela,
com mais critério, buscando como objetivo que se torne algo
universal.
Eu passei a olhar para o meu dia a dia e para as minhas
atitudes com um olhar bem mais ligado após estudar um
pouco esse pensador tão revolucionário. Se você observar e
ler com bastante atenção esse conceito, é possível fazer o
link com a seguinte frase de Antonio Meneses: “quem não
fica nervoso (antes de um desempenho) é porque não dá
importância ao que faz”. O nervosismo é esse momento de
autorreflexão, no qual você pensa na melhor maneira de atuar. Dessa forma, podemos atingir o que chamamos de
excelência.
Não a confunda com perfeccionismo, tudo bem? Pois
excelência não tem nada a ver com perfeccionismo. Esta
postura provém do medo de errar, do medo de falhar, de
uma autoexigência que causa neuroses e adoecimentos. A
excelência é quase um sinônimo do capricho, de um
trabalho bem realizado. Mario Sergio Cortella costuma dizer
isto aqui nas suas palestras, o que concordo em gênero,
número e grau: “capricho é fazer o melhor com aquilo que
se tem, enquanto não tem condições melhores para fazer
melhor ainda”. Ou seja, é se utilizar dos recursos de que se
dispõe, porém sempre nutrindo essa humildade de que
pode ser melhor a cada dia.
Eu quero ser a cada ano que passa um professor melhor,
um escritor melhor, um psicanalista melhor. Mas, acima de
tudo, uma pessoa melhor, que valoriza às amizades, o bom
convívio com a família ou com os colegas de trabalho e por aí
vai. Que este breve texto leve à reflexão sobre a importância de
fazermos o melhor nas condições que temos no momento e
sempre buscando um aperfeiçoamento. É normal ficar um
pouco nervoso, e esse nervosismo é justamente o tempero que
deixa especial e único o seu trabalho e atribuições.
Texto adaptado especialmente para esta prova. Disponível em
https://www.contioutra.com/quem-nao-fica-nervoso-antes-de-umdesempenho-e-porque-nao-da-importancia-ao-que-faz/. Acesso em:
30/01/2020.)