Inclusão não é só divulgação: a exclusão do curso de Letras-Libras da UFJF
Em meio à pandemia, houve uma votação via internet na qual o Departamento de Letras da Universidade Federal de Juiz
de Fora (UFJF) decidiu o futuro do curso de Licenciatura em Letras-Libras. Nessa reunião foi votado o fim desse curso e a implementação do curso de Bacharelado em Interpretação e Tradução em Libras.
A primeira língua da maioria dos surdos brasileiros é a Língua Brasileira de Sinais (Libras), é através dela que todo o conhecimento de mundo deve ser passado, ou seja, disciplinas ministradas em Libras, porém quando não há professor bilíngue, entra
o trabalho dos TILS (Tradutor/Intérprete de Libras) que atuará como “a voz” do professor.
O Brasil possui uma população com mais de 10 milhões de surdos e apenas 11% deles possuem ensino superior (dados da
Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos). É realmente frustrante estar no seu país, na sua faculdade e simplesmente
não conseguir dialogar com os professores e, embora o surdo tenha direito às suas matérias na sua própria língua e com as adaptações
necessárias do conteúdo, como previsto na Lei nº 10.436/2002 regulamentada pelo Decreto nº 5.626/2005, os alunos surdos da UFJF
ainda se deparam com falta de empatia, competência técnica/teórica e de boa vontade de alguns dos professores.
Consideramos que uma forma efetiva para alterar esse cenário de despreparo dos professores é formar cada vez mais profissionais capacitados com conhecimento técnico e teórico, seguindo a lógica de documentos oficiais como a LDB (Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional) nos seus artigos 58 e 59, e PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) que dispõem sobre facilitação à
comunicação e compreensão do aluno surdo através de materiais específicos para cada estudante com necessidades educacionais especiais. Vale ressaltar que mesmo sendo obrigatória pelo menos uma disciplina de Libras em todos os cursos de licenciatura, esta não supre a necessidade de transpor a barreira linguística, pois, normalmente, abrange o mais básico da Libras (saudações, cores, números). Diante disso, vemos a necessidade de ampliar o número de disciplinas obrigatórias relacionadas à Libras e,
para tanto, precisamos capacitar mais professores.
(Disponível em: https://esquerdaonline.com.br. Adaptado. Acesso em: 02/07/2020.)