Brasil, terra de idosos
Segundo projeções do IBGE, os brasileiros com 60 anos ou mais, que representavam 15,6% da população em 2023, serão
incríveis 37,8% em 2070. Esse cenário pode soar catastrófico para alguns, mas ele também nos apresenta uma oportunidade
única: a chance de transformar o Brasil em um país modelo de inclusão, acessibilidade e valorização das pessoas mais velhas.
Mas o que devemos fazer?
Comecemos pelas cidades, que precisam ser redesenhadas para essa nova realidade. Calçadas devem ser acessíveis, transporte público adequado e assentos prioritários e em quantidade suficiente. Espaços públicos devem ser repensados, permitindo
caminhadas, exercícios e socialização. As casas devem ser adaptadas, e as pessoas precisam estar preparadas para morar com
seus amigos, num conceito mais próximo das “repúblicas de estudantes”, uma vez que as famílias encolheram. Além de
acolhedor, será mais barato dividir o espaço com conhecidos.
A demanda por serviços de saúde aumentará, impactando tanto o SUS quanto a rede privada. Isso é óbvio. Mas o que
também deveria ser óbvio é que o foco não deve estar apenas em curar doenças, mas em prevenir que elas aconteçam. A
atenção primária e preventiva à saúde é essencial, através de programas de acompanhamento regular que incentivem o envelhecimento ativo, a prática de exercícios, dieta adequada e acompanhamento psicológico, incluindo programas e serviços que
combatam a solidão e o isolamento social dos idosos.
O mercado de produtos e serviços terá novas oportunidades de negócios para um público de 40% da população. De
commodities a pacotes de turismo e serviços de cuidados para idosos, o mercado precisará se reinventar.
Quanto ao emprego, as empresas devem começar a pensar em modelos de trabalho flexíveis, que permitam que pessoas
mais velhas continuem ativas. Elas precisarão disso. E, para que tenham sucesso em suas jornadas, é necessário criar programas
de educação continuada e de requalificação para quem desejar mudar de carreira.
Do ponto de vista financeiro, é urgente a necessidade de reavaliação e adaptação dos sistemas de Previdência, assim como
incentivar a educação financeira e o planejamento para a aposentadoria desde cedo, preparando os indivíduos para a velhice
e criando meios para oferecer suporte e recursos para as famílias que cuidam de seus idosos, incluindo assistência financeira
do governo e serviços de apoio.
Tudo isso deve ser acompanhado de uma cultura de respeito aos mais idosos por meio de uma educação intergeracional
que ajude a reduzir estigmas associados ao envelhecimento. Campanhas de conscientização, valorização das histórias de vida
e da experiência dos idosos podem mudar a forma como a sociedade os vê.
O Brasil de 2070 pode parecer distante, entretanto as sementes desse futuro devem ser plantadas agora. Com as ações
certas, garantiremos que esse crescimento na população idosa não seja um fardo, mas uma oportunidade de criar um país mais
inclusivo, saudável e próspero para todos. Afinal, muitos de nós – com sorte – estaremos lá para ver isso acontecer.
Que tal começarmos já?
(Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/. Acesso em: outubro de 2024.)