A pescaria
O Jorge era, apesar de boêmio, um bom chefe de família. A sua mulher, que lhe sabia cavalheiro e bom marido, não se
importava absolutamente com as suas extravagâncias. Eles viviam na maior paz e harmonia. Chegasse ele às dez, às onze ou às
quatro horas da madrugada, a recepção era a mais cordial possível.
Um dia pela semana santa, isto é, na quinta-feira da Paixão, Jorge chegou em casa e disse à mulher:
– Eugênia, amanhã vou pescar e você me acorde cedo.
Dona Eugênia recebeu a recomendação com todo o carinho e, no dia seguinte, logo pela manhã, pela madrugada,
despertou o marido.
Em chegando ao primeiro botequim, porém, abancou e pôs-se a beber. Comer e beber, a questão é começar; e ele tinha
começado e continuou.
Quando chegou aí pelo meio-dia, lembrou-se da pescaria que tinha prometido à mulher.
– Como havia de ser? pensou ele de si para si.
A canoa e os companheiros já deviam ter partido, e precisava levar os peixes.
Entrou em uma confeitaria e comprou camarões, postas de peixe, siris, ostras, etc.
Tomou o bonde e foi para casa. Entregou os embrulhos à mulher e foi dormir, tão cansado estava da pescaria. Às cinco
horas, Dona Eugênia veio-lhe despertar.
– Jorge! Jorge! Vem jantar.
Ele ergueu-se e foi para a sala de refeições. Quando lá chegou e viu aqueles primores de confeitaria, perguntou à mulher:
– Que diabo é isso? Estamos em piquenique?
A mulher acudiu:
– Isto é a pescaria que tu fizeste!
(Disponível em: https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/14915/a-pescaria. Acesso em: janeiro de 2024.)