Leia o texto e responda a questão.
Solidários na porta
Vivemos a civilização do automóvel, mas atrás do volante
de um carro o homem se comporta como se ainda
estivesse nas cavernas. Antes da roda. Luta com seus
semelhantes pelo espaço na rua como se fosse o último
mamute. Usando as mesmas táticas de intimidação,
apenas buzinando em vez de rosnar ou rosnando em vez
de morder.
O trânsito em qualquer cidade do mundo é uma
metáfora para a vida competitiva que a gente leva, cada
um dentro do seu próprio pequeno mundo de metal
tentando levar vantagem sobre o outro, ou pelo menos
tentando não se intimidar. E provando que não há nada
menos civilizado que a civilização.
Mas há uma exceção. Uma pequena clareira de
solidariedade na jângal. É a porta aberta. Quando o carro
ao seu lado emparelha com o seu e alguém põe a cabeça
para fora, você se prepara para o pior. Prepara a resposta.
“É a sua!” Mas pode ter uma surpresa.
– Porta aberta.
– O quê?
Você custa a acreditar que nem você nem ninguém
da sua família está sendo xingado. Mas não, o inimigo
está sinceramente preocupado com a possibilidade da
porta se abrir e você cair do carro. A porta aberta
determina uma espécie de trégua tácita. Todos a apontam.
Vão atrás, buzinando freneticamente, se por acaso você
não ouviu o primeiro aviso. “Olha a porta aberta!” É como
um código de honra, um intervalo nas hostilidades. Se a
porta se abrir e você cair mesmo na rua, aí passam por
cima. Mas avisaram.
Quer dizer, ainda não voltamos ao estado animal.