Leia o texto abaixo para responder à questão.
Todo mundo na cidade andava animado com a presença
deles, dizia-se que eram mineralogistas e que tinham vindo fazer
estudos para montar uma fábrica e dar trabalho para muita gente,
houve até quem fizesse planos para o dinheiro que iria ganhar na
fábrica; mas o tempo passava e nada de fábrica, eram só aqueles
passeios todos os dias pelos campos, pelos morros, pela beira
do rio. Que queriam eles, que faziam afinal?
Encontrando-os um dia debruçados na grade da ponte,
apontando qualquer coisa na pedreira lá embaixo, meu pai
cumprimentou-os e puxou conversa; eles olharam-no
desconfiados, viraram as costas e foram embora. Meu pai achou
que talvez eles não entendessem a língua, mas depois vimos que
a explicação não servia: quando encontraram o preto Demoste
de volta do pasto com a mula do padre eles conversaram com
ele e perguntaram se a lobeira era fruta de comer. E como
poderiam viver na pensão se não conhecessem um pouco da
língua? Por menos que falassem, tinham que falar alguma coisa.
O que me preocupou desde o início foi eles nunca rirem.
Entravam e saíam da pensão de cara amarrada, e o máximo que
concediam a dona Elisa, só a ela, era um cumprimento mudo,
batendo a cabeça como lagartixa. Aprendi com minha vó que
gente que ri demais, e gente que nunca ri, dos primeiros queira
paz, dos segundos desconfie; assim, eu tinha uma boa razão
para ficar desconfiado.
(José J. Veiga. Cavalinhos de platiplanto).