Brio das estrelas
Quanto mais escuro o céu, maior a possibilidade de se ouvir estrelas.
Ora, direis... Quantas vezes não conseguimos ver uma saída para os
desafios da vida. Aos nossos olhos parece impossível. Mas talvez não aos
nossos ouvidos.
Ainda que o momento seja engolido pela escuridão do desespero,
adentrando-se, cada vez mais, à treva da melancolia, há um insólito tinir que
aguarda o ouvido atento. Quando estamos cabisbaixos, olhando só para o
fundo do poço, talvez não escutemos o que retine no imo do escuro e
tenebroso. Assim nos tornamos escravos do abismo e nos afundamos em
nós mesmos.
Todavia, somente a ousadia e o querer mudar nos permitirá olhar para
cima e escutar a imensidão de estrelas que aguardam nossa atenção. E é
nesse escuro que devemos fixar a mente para percebermos a sinfonia de
possibilidades que ecoam. Basta armar-se da intrepidez e novamente crer no
céu. Nenhuma nebulosidade será suficiente para demover quem percebe o
brilho mais intenso: aquele que refulge no silêncio de nós mesmos.
E o brio de novas estrelas se fará ouvir, engendrando noites mais
serenas, trevas mais sonoras. Então perceberemos que todo dia precisa de
uma noite e que toda noite tem estrelas, mesmo que não as enxerguemos, à
espera apenas da vontade para apreciá-las.
(MENDONÇA, Tulius – Livro Entreatos – Páginas Editora – p.33)