O LUTO É UMA FORMA CRUEL de
aprendizado. Você aprende como ele pode ser
pouco suave, raivoso. Aprende como os
pêsames podem soar rasos. Aprende quanto do
luto tem a ver com palavras, com a derrota das
palavras e com a busca das palavras. Por que
sinto tanta dor e tanto desconforto nas laterais
do corpo? É de tanto chorar, dizem. Não sabia
que a gente chorava com os músculos. A dor
não me causa espanto, mas seu aspecto físico
sim: minha língua insuportavelmente amarga,
como se eu tivesse comido algo nojento e
esquecido de escovar os dentes; no peito um
peso enorme, horroroso; e dentro do corpo uma
sensação de eterna dissolução. Meu coração
me escapa — meu coração de verdade, físico,
nada de figurativo aqui — e vira algo separado
de mim, batendo depressa demais num ritmo
incompatível com o meu. É um tormento não
apenas do espírito, mas também do corpo, feito
de dores e perda de força. Carne, músculos,
órgãos, tudo fica comprometido. Nenhuma
posição é confortável. Passo semanas com o
estômago embrulhado, tenso e contraído de
apreensão, com a certeza sempre presente de
que alguém mais irá morrer, de que mais coisas
irão se perder.
Notas Sobre o Luto. Chimamanda Ngozi Adichie.