O que você fez com o seu primeiro salário?
A resposta para essa pergunta carrega sinais
das motivações que cada um de nós tem para
trabalhar – ou pelo menos tinha no começo da
carreira.
João Branco 11 de fevereiro de 2022 Atualizado há
2 meses
Com quantos anos você começou a
trabalhar? Você se lembra como foi o seu
primeiro dia? Eu guardo muito bem as
memórias do meu: nesse dia, o jovem
Joãozinho acordou mais cedo que o normal,
colocou uma “roupa mais séria” e se preparou
para ir descobrir o que era esse mundo dos
adultos independentes. Quando cheguei na
cozinha, minha mãe e meu saudoso pai
estavam me esperando com um sorriso no
rosto. Ele me disse: “Parabéns filho, você está
começando para nunca mais parar”. Ouvir isso
me deu uma mistura de sensações. Foi como
comer melancia com sal. Um emaranhado de
alegria e medo. Isso parecia ser um elogio, mas
ao mesmo tempo um alerta. De certa forma, ele
estava certo. O trabalho é mesmo essa mistura.
Ao mesmo tempo em que ele nos traz a
satisfação de conquistar o sustento, ele nos
desgasta. É uma rotina espinhenta.
Mas, no meio dessa jornada, há um dia
que sempre traz boas notícias: o dia do
pagamento. Para alguns, ele acontece na data
combinada. Para outros, depende do dia em
que o cliente deposita. E ainda há os que têm
que esperar mais do que deveriam. Mas o
momento em que finalmente seu serviço foi
remunerado provoca boas sensações. Não
apenas a alegria de ver uma “chuva na sua
horta”, mas também um sentimento de “hoje
estou podendo”. Você se recorda quando isso
aconteceu pela primeira vez? Como você se
sentiu?
Lembro claramente da minha reação
quando alguns reais foram depositados e
estrearam a minha conta bancária. Fiz algo que
sempre quis, mas nunca tinha conseguido:
comprei um “engradado” de Yakult e tomei
inteirinho, sozinho, de uma vez. Engraçado,
não? Mas também fiz algo para agradecer a
Deus pelo meu emprego. E você, o que fez com
o seu primeiro salário? Já ouvi histórias incríveis sobre isso. Entre coisas divertidas e
emocionantes, percebi que essa resposta
também carrega sinais das motivações que
cada um de nós tem para trabalhar – ou pelo
menos as que tínhamos no começo da carreira.
Com o passar dos anos, nossa relação
com o “ganhar dinheiro” vai se aprofundando.
Para algumas pessoas, o salário se transforma
em uma dose de algo viciante que entra direto
na veia todo mês e provoca um forte instinto de
“quero mais”. No outro extremo estão as
pessoas que só reparam nas finanças quando o
extrato bancário está no vermelho. Há os que
querem ficar milionários antes dos 30 anos e os
que só se lembram de se preocupar com o
patrimônio quando estão pensando em
aposentadoria. E, entre eles, milhares de
diferentes relações com os cifrões.
Saber interagir de maneira saudável
com as suas receitas financeiras é um desafio. Talvez por isso esse seja um dos assuntos mais
abordados nos canais do Youtube, nos livros
mais vendidos do Brasil e até na Bíblia – que
registra um grande conselho: “Quem ama o
dinheiro jamais terá o suficiente; quem ama as
riquezas jamais ficará satisfeito com os seus
rendimentos”.
Dinheiro não é por si só uma coisa ruim
e eu desejo que você consiga ganhar bastante.
Mas desejo ainda mais que você tenha uma
porção de dias mais felizes do que o dia do
pagamento ao longo da sua jornada. Como
diria Dorothy L. Sayers: “o trabalho não é o
que se faz para viver, mas o que se vive para
fazer”. Do primeiro ao último salário.
João Branco é CMO do McDonald’s.
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@falajoaobranco
BRANCO, João. O que você fez com o seu primeiro
salário? Forbes Brasil, 11 de fevereiro de 2022.
Colunas. Disponível em:
https://forbes.com.br/colunas/2022/02/joao-branco-o
que-voce-fez-com-o-seu-primeiro-salario/.