Questões de Concurso Público MPE-GO 2018 para Secretário Auxiliar - Goiás
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O arraial crescia vertiginosamente, coalhando as colinas. A edificação rudimentar permitia à multidão sem lares fazer até doze casas por dia; e, à medida que se formava, a tapera colossal parecia estereografar a feição da sociedade ali acoitada. Era a concretização dessa insânia imensa
(Euclides da Cunha, Os sertões).
Dadas as proposições seguintes:
I. Quando ao autor diz coalhando as colinas se refere à forma de povoamento do arraial;
II. Em função da simplicidade das casas, era possível ao arraial crescer vertiginosamente;
III. Sociedade ali acoitada quer dizer: um povo ali abrigado;
IV. Euclides da Cunha não descreve o arraial como algo à vista da sociedade.
Qual(is) é(são) verdadeira(s)?
Leia o texto a seguir e assinale a alternativa incorreta:
Duzentas gramas
Tenho um amigo que fica indignado quando peço na padaria “duzentas” gramas de presunto – já que a forma correta, insiste ele, é duzentos gramas. Sempre discutimos sobre os diferentes modos de falar. Ele argumenta que as regras de pronúncia e de ortografia, já que existem, devem ser obedecidas, e que os mais cultos (como eu, um cara que traduz livros) devem insistir na forma correta, a fim de esclarecer e encaminhar gente menos iluminada.
Eu sempre argumento que, quando ele diz que só existe uma forma correta de falar, está usurpando um termo de outro ramo, que está tentando aplicar a ética à gramática, como se falar corretamente implicasse algum grau de correção moral, como se dizer “duzentas” significasse incorrer numa falha de caráter, e dizer duzentos gramas fosse prova de virtude e integridade. Ele vem então com aquela de que se pode desculpar a moça da padaria quando fala “duzentas”, pois ela desconhece a norma culta, mas quanto a mim, que a domino, demonstro uma falha de caráter ao ignorá-la em benefício dos outros – só para evitar o constrangimento de falar diferente. “Quem sabe fazer o bem e não o faz comete pecado” – parece concluir.
Eu reconheço, sim, que falo de forma diferente dependendo de quem seja meu interlocutor. Às vezes uso deliberadamente formas como “tentêmo” ou “vou ir”. Pelo mesmo motivo, todas as gírias e dialetos locais me interessam. Não que – por exemplo – a decisão de dizer “duzentas” gramas seja consciente, uma premeditação em favor da inclusão social. É que, algumas vezes, a coisa certa a se fazer – sobretudo na linguagem falada – é ignorar a norma, ou pervertê-la. Quando peço “duzentas gramas de presunto, por favor”, a moça da padaria invariavelmente repete, como que para extorquir minha profissão de fé à norma inculta:
− DUZENTAS?
− Duzentas, confirmo eu, já meio arrependido, mas caindo, ainda assim, em tentação.
(Paulo Brabo. A bacia das almas.)