Desde o tempo do cabo-de-guerra
Não apenas os equipamentos, os recordes e as regras mudaram em 112 anos de Olimpíadas. Esportes também foram
aceitos ou expulsos .
Uma avaliação comparativa das Olimpíadas modernas, a partir da primeira, em 1896, permite um passeio pelas mudanças
globais ocorridas nesse período, da tecnologia à cultura. Na estréia, não havia atletas femininas. Em 1900, a primeira tenista jogou
de vestidão e botina. O atleta do salto com vara disputava com uma pesadíssima e frágil vara de bambu. Devido à falta de
monitoramento confiável, os juízes deram o ouro da maratona de 1904 a um americano que fizera parte do trajeto de automóvel.
Descoberta a trapaça, a medalha passou ao segundo colocado, que, por sua vez, revelou ter turbinado o desempenho com doses
de estricnina e conhaque. Os exames antidoping só começaram a ser feitos em 1968, no México.
Um dos aspectos mais surpreendentes é o entra-e-sai de modalidades. Catorze esportes entraram e depois saíram da lista
de categorias olímpicas. Até 1920, provas de cabo-de-guerra, croquet, pelota basca, nado subaquático e golfe já haviam sido
disputadas em pelo menos um dos Jogos. Para ser aceito nas Olimpíadas (ou nelas permanecer), um esporte precisa atender a
uma regra básica: ser praticado em 75 países de quatro continentes. Entre as categorias femininas, a exigência é de quarenta
países em três continentes. Cumprido esse critério, a incorporação da modalidade depende ainda de sua popularidade ou da força
política de sua federação internacional. “O pentatlo moderno, com poucos fãs, é disputado até hoje apenas por uma razão
política", diz Nelson Todt, membro da Academia Olímpica Brasileira. A modalidade foi criada com base na versão praticada na
Antiguidade pelo barão Pierre de Coubertin, o idealizador dos Jogos Olímpicos modernos.
O bicicross foi aceito depois de oito anos de negociações com o Comitê Olímpico Internacional. Trata-se de uma tentativa
dos organizadores de atrair um público mais jovem e de atribuir uma imagem mais atual às Olimpíadas. Outras atividades radicais,
como o skate e o BMX Freestyle, poderão entrar na Olimpíada de Londres, em 2012. Na lista dos que se candidataram sem
sucesso estão o surfe, o rúgbi, o boliche e a brasileiríssima capoeira.
(Veja, 11 jun. 2008, p. 114.)